sábado, 28 de junho de 2014

O Homem Duplicado (anotações)

- Começo muito intrigante (cena da aranha, etc). Trilha e direção muito boas.

- Diretor tem uma capacidade parecida com a do David Lynch de pegar um lugar comum (cidade) ou uma situação comum, e fazer tudo parecer um sonho.

- Situação de encontrar o seu "doppelgänger" num filme é divertida. Mas não é tão intrigante assim, pois a primeira coisa que o espectador pensa é: eles são gêmeos e foram separados ao nascer. Não se trata (a princípio) de algo inexplicável como num episódio do Twilight Zone.

- As coisas que o Adam diz na sala de aula (sobre governos, etc) parecem o filme sugerindo que a história é uma alegoria ou algo do tipo, mas até agora a ela é apenas sobre um homem que descobre alguém igual a ele fisicamente (e como isso abala sua vida).

- Por que Adam reage com medo? Parece falso criar esse drama todo (não só ele como a mulher). Eu acharia fantástico encontrar alguém igual a mim - exceto se o cara fosse meu irmão e isso significasse que minha mãe mentiu pra mim a vida toda. Mas mesmo assim, ninguém reagiria como se fosse o fim do mundo!

- SPOILER: Mulher com cabeça de aranha: agora o filme deixou óbvio de que a história é mais do que aparenta (ou pretende ser mais do que aparenta). O filme se transforma num jogo de adivinhação, onde o espectador tem que descobrir qual o tema da história. Acho legal, desde que isso seja exposto até o final.

- De qualquer forma, o filme não é tão criativo ou fascinante quanto um filme do David Lynch. Lynch tem uma vantagem que, mesmo quando você não entende a lógica da trama, o filme faz sentido emocionalmente - é divertido de acompanhar mesmo sem entender o "todo" (tem grandes cenas, atuações, diálogos, expressa valores, etc).

- Filme vai perdendo a credibilidade. As reações de Adam e Anthony ao se encontrarem pela primeira vez não faz muito sentido.

- Participação especial de Isabella Rossellini: outra referência a Lynch?

- SPOILER: Adam não transou com a namorada de Anthony (ou pelo menos não sabemos disso)! Por que ele deixaria então o Anthony dormir com a sua namorada? Não faz sentido ele agir assim.

- SPOILER: Esposa do Anthony ficaria imediatamente desconfiada de que aquele não é o marido dela. Afinal, ela já sabia que havia um sósia. Será que ela percebeu e está fingindo? Não faria sentido em termos de caracterização. Já a namorada de Adam não teria por que desconfiar, no entanto ela é a que acaba percebendo só por causa da marca do anel. O filme aqui perde a coerência: por um lado ele quer que a gente aceite que os 2 são idênticos: têm a barba do mesmo tamanho, o corte de cabelo igual, o mesmo peso, o mesmo jeito de falar, etc. Mas na hora que convém pra trama, ele quer ser realista e dizer que existem diferenças entre os dois, como marcas de alianças, etc.

- Por que a chave UNICA? Apenas uma referência a Hitchcock? (No filme Interlúdio, uma chave com a palavra UNICA é uma peça central da trama). Aliás, essa é a 2ª referência a Hitchcock no filme, se você contar o poster de Um Corpo que Cai na locadora (um filme também sobre "sósias", problemas de identidade, etc).

- SPOILER: Um dos finais mais bizarros e ridículos que já vi! Autor acha que o que não se entende é automaticamente genial (me lembra a frase do Nietzsche: "Eles tornam suas águas turvas para que pareçam profundas").

CONCLUSÃO: Filme é bem dirigido e tem uma premissa curiosa, mas se torna vazio ao não comunicar o seu tema (e não é satisfatório apenas como filme de suspense, pois a trama e os personagens vão se tornando cada vez mais artificiais).

FILMES PARECIDOS: Ensaio Sobre a Cegueira, O Nevoeiro, Possuídos, etc.

(Enemy / Canadá, Espanha / 2013 / Denis Villeneuve)

NOTA: 4.0

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