NOTAS DA SESSÃO:
- Boa a produção, reconstituição de época, elenco. Bryan Cranston está ótimo e Helen Mirren também.
- Um absurdo o filme retratar um comunista de maneira positiva e fazer a oposição parecer um bando de gente alienada e antipática. Mais surreal é Trumbo explicando pra filha pequena que ser comunista significa você querer dividir o seu sanduíche com alguém que está passando fome (!!!). Óbvio que não: é você querer tirar o sanduíche do seu vizinho à força pra dar pro outro que não tem (ou sob esse pretexto pelo menos).
- O filme critica Hollywood por temer a infiltração comunista na indústria, como se isso fosse apenas paranoia, mas eles tinham mais é que temer mesmo. A influência de Hollywood na cultura é incalculável.
- Do jeito que a história está sendo contada, dá a impressão que o personagem comunista está lutando pela liberdade (seu direito de trabalhar, de se expressar), e que as pessoas defendem a liberdade estão tentando impedi-lo através da força! Ou seja, é quase uma piada. Se aceitarmos esse contexto, daí é possível torcer por Trumbo, simpatizar por ele, pois ele quer apenas trabalhar honestamente sem ser punido pelo governo por causa de suas crenças. Porém até onde eu conheço a história, o governo não impediu nenhum comunista de trabalhar na época. Eram os estúdios que não iriam contratar comunistas assumidos por causa da opinião pública. Mas daí tudo bem - os estúdios tinham todo o direito de fazer isso.
- De qualquer forma, o filme é muito bem feito, cheio de conflitos interessantes... Ele foca muito pouco na parte ideológica - parece apenas querer contar uma história verídica impressionante. É muito legal ver o processo criativo de Trumbo, ele tendo que se passar por outras pessoas pra poder trabalhar, ganhando prêmios secretamente... É uma ótima história. Pra quem é fã de cinema então, é incrível ver todos esses bastidores, a interação entre as celebridades da época, etc.
- Apesar da história ser sobre um comunista, o filme no fundo é o oposto: celebra Hollywood, o talento individual, mostra Trumbo se tornando bem sucedido na carreira e lutando por reconhecimento. Chega a ser cômico - filmes hollywoodianos de super-heróis, animações da Disney (que tradicionalmente celebram valores americanos) estão cada vez mais coletivistas. E agora vem um filme sobre um comunista que no fundo celebra individualismo, livre concorrência, a busca da felicidade (!).
- SPOILER: Bonita a sequência quando estréia Spartacus e ele finalmente recebe o crédito de roteirista, quebrando com a lista negra.
CONCLUSÃO: Muito contraditório politicamente, mas é um filme bem feito, com ótimos atores, uma história envolvente, e mostra um dos períodos mais interessantes da história de Hollywood.
Trumbo / EUA / 2015 / Jay Roach
FILMES PARECIDOS: Capote / Verdade Nua / O Aviador / Chaplin
NOTA: 7.5
Do meu ponto de vista, apesar de Hollywood exercer uma grande influência na opinião popular, este tipo de filme não é assistido pelo público mais influenciável. E destes que assiste não tem o discernimento para analisar a ideologia política do filme. Ou seja, esse tipo de filme não oferece perigo de mudar a opinião da população. Quem assiste normalmente já tem a sua posição política definida e sabe pensar por si próprio.
ResponderExcluirNa verdade, o que acontece é o oposto hoje em dia. São as pessoas que exercem influência sobre a indústria do cinema. Vide a polêmica sobre os negros no oscar. Um dos especialistas disse que os negros, latinos e etc sempre foram indicados e ganharam muitas vezes. Mas que a academia cedeu a pressão popular e abriu cotas pra minorias justamente por ser um assunto em alta e não pelos critérios de bastidores da cerimônia.
Eu não sou racista, mas é impossível escapar do preconceito contra atores negros. Se tem um negro no filme, alguma cena, algum assunto vai ser sobre preconceito, gueto, favela, drogas ou hip hop. Enquanto atores brancos podem interpretar qualquer personagem possível em qualquer situação imaginável no universo. O negro sempre vai seguir um padrão de papéis ou situações.
No filme o nascimento de uma nação, os negros foram feitos por brancos. Isso mostra como os papéis para brancos são versáteis. Mas se um negro estiver em qualquer filme, ele vai ter alguma cena relembrando que ele é negro. Não há exceções.
Olá Marcus! Realmente, me preocupa mais os filmes da Disney e os blockbusters estarem promovendo valores discutíveis (pois atingem crianças, as massas, etc) do que um filme como Trumbo que é visto por menos gente.
ResponderExcluirÉ difícil saber quem influencia mais o que... Se são os filmes que influenciam as pessoas ou as pessoas que influenciam os filmes... Acho que as 2 coisas estão conectadas... Hollywood não pode se distanciar demais dos valores do público, afinal os produtores querem ganhar dinheiro... Então se os filmes são feitos com lucro em mente, eles têm que refletir os valores da cultura... Porém os artistas podem inserir certos temas nos filmes... e ir habituando o público a certas ideias (boas ou ruins)... Li em algum lugar que programas de TV como o da Ellen ou Will & Grace foram fundamentais na legalização do casamento gay nos EUA... Ou seja... os intelectuais, escritores, têm Hollywood como uma ferramenta poderosa pra disseminar suas ideias... e acelerar certas mudanças, se eles forem talentosos e persuasivos o bastante...
Quanto aos atores negros.. Essa ênfase em questões raciais às vezes pode cansar um pouco.. Mas alguns atores conseguem fugir à regra acho.. Como o Will Smith talvez.. Halle Berry.. O filme "Creed" também me chamou atenção por ter um protagonista negro mas contar uma história que não foca nesses temas.. Mas é natural que as questões raciais surjam bastante em filmes sobre negros.. Afinal é algo que afeta a vida pessoal deles.. Da mesma forma é difícil vc ver um filme sobre um gay que não toque no assunto de preconceito, etc.. São dramas que acabam fazendo parte da vida dessas pessoas.. Se não fosse assunto na vida real, talvez deixasse de ser um assunto recorrente nos filmes também..
Ainda assim eu acho que o público tem mais influência sobre hollywood do que o oposto. Isso porque a disseminação de informações com a informática pode destruir qualquer obra no seu começo. Então o realizador ou se adequa ao mercado ou pode procurar outra profissão. Olhando por este ponto de vista, estamos em uma época em que o artista não se expressa mais. E quem é o responsável pela obra é o próprio público, justamente quem deveria ser o influenciado nesta história. Já era a época em que as artes definiam uma geração, hoje a geração que define as artes.
ResponderExcluirEssa dos atores negros é verdade, realmente os maiores nomes conseguem fazer papeis que fogem do padrão do grupo. Uma pena é que somente os grandes nomes mesmo. Se um filme tem um ator negro pouco conhecido, já podemos prever algumas questões abordadas.
Interessante é que filmes feitos fora dos estados unidos, com atores asiáticos, negros ou latinos, conseguem fazer a proeza que o maior nome neste mercado não consegue. Porque eles se conhecem.
Já assisti drama feito no japão com atores japoneses sem precisar ser "diferente e marcante", já assisti filme sobre crianças feito nos países do leste europeu sem tocar no tema pobreza e ideologia política, já vi filme afegão e israelense sem o contexto de guerra e deserto. E bollywood consegue ser original sem retratar seu país como "exótico" e "terra distante de cultura diferente." Então hollywood é culpada de sua falta de resiliência neste ponto.
Mas o Brasil é exceção. O público reclama que o exterior vê a gente como favela, rio de janeiro, samba, violência, pobreza, amazônia etc. Na chance que temos de rebater este conceito e criar obras de arte diferentes, fazemos justamente o que criticamos tanto.
Enfim, acho que pessoas influenciam pessoas.. sejam pessoas comuns, políticos, artistas, professores.. mas *pessoas influentes* influenciam muito mais pessoas.. e a arte tem um poder único de transmitir valores, ideias, criar "role models", etc.. Por isso acho Hollywood perigosa quando começa a abraçar certas tendências, a ceder a certas pressões.. Não sei se é de fato o povão que tem influência sobre Hollywood (e gera polêmicas como essa do Oscar).. acho que aí já é uma elite puxando as cordinhas.. intelectuais, artistas como Spike Lee, etc, que têm poder no meio.. E eles não representam necessariamente o gosto do povo.. Tipo: não sei se foram os fãs de Star Wars que queriam que os protagonistas no novo filme fossem uma mulher e um negro.. não sei se foram as crianças que queriam que a Disney fizesse um filme mais "progressista" com Frozen.. isso pra mim são os estúdios cedendo a pressões de uma elite... e não ao desejo do grande público..
ResponderExcluirÉ um assunto complexo.. de qualquer forma, acho que sempre existe espaço pra artistas mais independentes, menos comprometidos com retorno financeiro.. que podem se expressar, ir contra os valores predominantes, e eventualmente até fazer sucesso..
ResponderExcluirDe fato, os filmes recentes da Disney vem trazendo mensagens bastante ruins e que infelizmente parecem estar tendo boa aceitação de grande parte do público, como em Frozen e Detona Ralph, que dão a entender que não há problema em uma pessoa fazer coisas terríveis e condenáveis, quando ela é ‘incompreendida’ e ‘infeliz’. Isso pelo menos em relação aos personagens que os filmes escolhem defender. Porque o Turbo e o Hans não são tratados como incompreendidos? Como todo mundo se acha incompreendido, qualquer pode fazer o que bem entende, sem se importar com as conseqüências. É estranho que as pessoas achem essa mensagem tão positiva.
ResponderExcluirOutra coisa ruim nesses filmes novos é a tendência a um sexismo consistente em querer fazer personagens femininos parecem melhor mostrando os masculinos de forma negativa, como em Frozen e Valente, neste último todos os personagens masculinos são estúpidos e feios. Um filme da Disney superior a Frozen, mesmo não sendo muito bom foi Lilo e Stitch, que abordou melhor o amor entre irmãs, que pelo menos ali se tratavam mesmo como irmãs, deu melhores exemplos de determinação feminina, teve personagens mais bem construídos e não precisou transformar nenhum personagem masculino em vilão ou panaca para poder dar destaque às femininas.
Já algumas coisas desses filmes infantis novos parecem ter vindo mais para agradar o público adulto, como o anti-romantismo, que satisfaz tanto os modernos que acham que mulheres ‘fortes’ não se interessam por romance, como os conservadores receosos em relação à sexualidade.
Quanto a Star Wars, penso que a maioria dos fãs provavelmente não tem muita preocupação com composição étnica do elenco dos filmes, mas também não objeções a uma maior diversidade. O problema não é a exigência de diversidade em si, mas quando se começa a dizer que um filme é bom, mesmo quando o roteiro é horrível, só por causa dela ou só porque tem personagens femininas “fortes”.
ResponderExcluirVoltando a falar do anti-romantismo dos novos filmes da Disney, talvez fosse melhor que abolissem logo o romance de uma vez, em vez de criar interesses amorosos péssimos, como o Flynn Rider, o Naveen ou o Kristof.
Apesar de serem "apenas" desenhos, eu acho esse assunto bastante sério.. Pois esses filmes acabam contribuindo com a formação dos valores de toda uma geração de crianças.. Que daqui a 10, 15 anos já estão votando! Rs. Não que eu tenha uma visão determinista das pessoas.. Mas ajudando isso não está.
ResponderExcluirVi Lilo & Stitch há muito tempo e não lembro desses detalhes, mas lembro de ter achado positivo em geral..
Assisti Lilo e Stitch há algumas semanas, no Disney Channel, por isso fiz essas comparações com os 'progressistas' filmes mais recentes. Ele era mesmo mais positivo e com personagens melhores que os novos filmes, feitos muito sob medida para agradar patrulhas ideológicas, notadamente o Frozen, onde Anna é a idiota romântica à espera de um príncipe, o que muitos dizem ser as princesas anteriores, enquanto Elsa é bem vista por não ter interesse em romance, e por sua total obediência aos pais, o que para muitos a tornaria 'melhor modelo'que as 'desobedientes' Ariel e Rapunzel.
ResponderExcluirO fato da Elsa ser obediente acho que não é tão relevante nessa questão.. o que agrada as tais patrulhas ideológicas acho q é mais o fato dela não ser romântica.. adoradora de homens, rs.. e de ser confusa, imperfeita moralmente.. não ser idealizada como as princesas tradicionais..
ResponderExcluirSobre o macartismo, lembro o filme Testa de ferro por Acaso, aquele filme onde um grupo de roteiristas proscritos contrata o Woody Allen para assinar seus roteiros e vende-los. o filme é de Martin Ritt, ele próprio um ex-integrante da chamada lista negra de Hollywood, aliás boa parte do elenco do filme teve seus nomes na lista negra, como é informado no final. No filme se diz os estúdios não admitiam abertamente a existência de uma lista negra e não diziam "Não quero contratar você porque você é comunista", mas diziam "Seu trabalho não nos agradou", "Estando cortando despesas", ou outra desculpa qualquer. E também não seria porque enxergassem mensagem comunistas explícitas ou subliminares nos roteiros, já que, no filme, os aceitavam quando assinados por alguém de fora da lista negra.
ResponderExcluirAcredita que nunca vi o Testa de Ferro? Muita gente está citando ele agora por causa do Trumbo..
ResponderExcluirNa época era super aceitável ser anti-comunista, então não sei pq os estúdios tinham que disfarçar esse fato.. Deviam dizer abertamente né: no momento não estamos contratando comunistas, rs.