NOTAS DA SESSÃO:
- Duvivier funciona no papel, mas sempre acho difícil de gostar / me identificar com esse estereótipo do cara loser que tem um emprego chato num escritório, vive uma rotina sem graça ("vítima do capitalismo"), e não parece ter nenhum sonho ou plano de mudar isso (exatamente o que falei sobre Walter Mitty).
- Divertido o elenco coadjuvante (Dani Calabresa, Rafael Infante).
- Legal a cena dele entrando em sua antiga casa, redescobrindo objetos de sua infância, a maneira como eles iluminam o lugar pra parecer algo nostálgico, etc (só é meio forçado o pôster do Che Guevara na parede!).
- Acho ruim essa premissa do personagem adquirir subitamente um transtorno de personalidade sem explicação. Não é como em Um Espírito Baixou em Mim ou O Mentiroso, por exemplo, onde um evento sobrenatural justifica a transformação e permite que a gente embarque na história. Fica parecendo apenas o roteirista querendo chamar atenção pro "conceito" dele, como no filme Entre Abelhas.
- Duas reviravoltas importantes acontecem num espaço muito curto de tempo (o transtorno de identidade, e o encontro com a Clarice Falcão), deixando a narrativa confusa. (Qual é o "incidente incitante" que realmente motiva a história? São 2 elementos competindo entre si.)
- O humor em geral é apenas "simpático", mas com muitos clichês (a sequência na terapia de grupo, por exemplo) e sem grandes invenções, insights, etc. Funciona porque os atores são carismáticos, mas muita coisa é baseada em referências culturais, o que é uma forma mais preguiçosa de humor (por exemplo, fazer a plateia rir só por citar Ruth / Raquel de Mulheres de Areia).
- O roteiro é meio falso e impreciso. Não sabemos como funciona a memória dele exatamente (o que ele pode lembrar quando muda de identidade, etc). E às vezes não faz sentido ele ficar viajando toda hora entre Rio e São Paulo.
- Duvivier tem boa química com os amigos e até com a Dani Calabresa, mas a relação mais sem graça da história é a dele com a Clarice Falcão. O tipo de romance é meio tedioso. Eles entram em sintonia pois percebem que ambos têm uma "vida merda", e que podem melhorar um pouco a "vida merda" um do outro. Isso pode até ser realista, mas não dá pra dizer que é uma relação empolgante. Além disso eles já se gostam logo de cara... Não há nenhum conflito interessante, nenhuma dúvida de que eles darão certo. A relação atual dele com a Dani Calabresa é errada demais pra representar qualquer empecilho.
- Não acho esse personagem da Clarice Falcão muito gostável ou convincente. É meio artificial ela se fazer de tonta/loser, ter um sub-emprego desse, sendo uma menina tão bonita, sofisticada. Não parece uma pessoa de carne e osso com a qual ele poderia ter um relacionamento, e sim alguém que está constantemente "fazendo tipo", escondendo a verdadeira identidade, as verdadeiras motivações (até o Duvivier que tem 2 personalidades parece mais real que ela).
- O conflito do flime não funciona muito bem. De um lado, ele tem uma vida totalmente chata, um emprego que detesta, uma mulher que detesta. Do outro uma vida maravilhosa ao lado de uma mulher que gosta. Pra ter a garota que ele quer, ele precisa abandonar a outra vida por completo? Não basta se separar da Dani Calabresa? Tem que perder o emprego também? A Clarice não pode mudar pra São Paulo? O Duvivier, sendo rico e filho do dono da empresa, não pode conseguir um trabalho melhor?
- Outros clichês de comédia inseridos de maneira forçada: ele tendo que dançar zumba pra conversar com a namorada na aula; ele no avião dividido entre as 2 personalidades, uma lutando contra a outra.
- O discurso final é muito óbvio. A mensagem do filme é extremamente simples, didática, mas apesar disso ele se acha profundo o bastante pra precisar mastigar tudo pra plateia no fim, explicando o significado da história de maneira verbal e inconfundível. Não sobra nenhum subtexto, nada pra plateia conectar ou concluir sozinha.
------------------
CONCLUSÃO: Alguns atores divertidos, mas o romance não empolga, o humor não é dos mais inspirados, e a história é previsível, construída em cima de conflitos desinteressantes.
Desculpe o Transtorno / Brasil / 2016 / Tomás Portella
FILMES PARECIDOS: Entre Abelhas (2015) / A Vida Secreta de Walter Mitty (2013) / Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças (2004)
NOTA: 4.5
A idéia do filme e até o poster lembram "Eu, eu mesmo e Irene". Pelo menos, a julgar pela descrição, não parece tão indigesto quanto o filme do Jim Carrey.
ResponderExcluirhttps://en.wikipedia.org/wiki/Me,_Myself_%26_Irene#/media/File:Me,_Myself_and_Irene_Posters.jpg
Tb não curto esse do Jim Carrey.. mas são estilos diferentes de comédia apesar da premissa parecida.. esse aqui não é um besteirol tão assumido..
ResponderExcluir