Um dos filmes mais ridículos e desonestos que já vi. O "documentário" (que foi indicado ao Oscar e tem 96% de aprovação da crítica no Rotten Tomatoes) pretende denunciar o golpe militar que houve na Indonésia nos anos 60, onde milhares de supostos comunistas foram assassinados. O protagonista é um rapaz que teve membros de sua família mortos pelos militares na época, e que agora, décadas depois, decide ir atrás dos responsáveis (já idosos) para confrontá-los diante das câmeras. Uma ideia bastante ousada pra um documentário, exceto que tudo o que vemos na tela é uma farsa: todos as pessoas estão fingindo, e tudo o que acontece foi ensaiado e gravado como em um longa normal de ficção.
Eu tenho certa experiência com sets de filmagem e posso dizer, melhor do que a maior parte da população, o que é uma cena real e o que é uma cena ensaiada (baseado não só no comportamento das pessoas, mas também em questões técnicas como fotografia, edição, som, etc). Venho reclamando cada vez mais disso, que acho ser o aspecto mais assustador do cinema e da TV hoje em dia - a maneira descarada com que os produtores enganam o espectador, fingindo que algo armado está de fato acontecendo. Não sei se o mais assustador é eles estarem fazendo isso de maneira tão oficializada, ou se é o fato de praticamente ninguém do público perceber ou se importar!
Esse foi o motivo pelo qual dei nota 0.0 praquele filme Vovô Sem Vergonha do Jackass - a diferença é que em Vovô Sem Vergonha a situação era mais inocente. A intenção dos cineastas era apenas a de fazer a plateia rir e se divertir por algumas horas. Aqui, a farsa toda já tem um objetivo bem mais maligno: criar simpatia pelo comunismo e retratar seus opositores como assassinos religiosos perversos que matam por prazer e bebem o sangue de suas vítimas. E o culpado de tudo quem é? Os EUA, claro. Em uma determinada cena, um dos assassinos diz com todas as palavras: "nós fizemos isso tudo porque os EUA nos ensinaram a odiar os comunistas" (!).
Coisas para reparar no filme:
- Nas conversas entre o protagonista e os assassinos, repare nos inúmeros ângulos de câmera que são usados pra registrar as cenas, e lembre-se que pra cada ângulo, teria que haver uma câmera diferente (e uma câmera acabaria pegando a outra se fosse esse o caso, afinal algumas teriam que estar bem perto do rosto do entrevistado, e seriam vistas pelas câmeras que pegam a cena mais de longe). Ou (se só houvesse 1 câmera) teria que haver uma pausa longa na conversa toda vez que a câmera mudasse de ângulo. De qualquer jeito, não é possível, pela forma em que o filme é gravado, que essas conversas não sejam ensaiadas e dirigidas.
- Pense no quão provável é o cineasta conseguir convencer não só 1, mas 3, 4, 5 pessoas a confessarem alegremente diante de câmeras que elas são assassinas cruéis, e a descrever como matavam suas vítimas para o deleite do espectador (lembrando que eles estão falando isso tudo pra alguém que teve sua própria família morta por eles).
- Repare no comportamento incoerente dos supostos criminosos. Como eles perdem todos os "argumentos" facilmente, ou como às vezes eles sorriem sem motivo após dizerem algo extremamente sério, como uma criança que não consegue se brincar de ficar séria por muito tempo sem deixar escapar uma risada.
- Será que esse protagonista é de fato oculista (ou sei lá o que ele faz)? E que todos os criminosos estariam precisando de exame de vista coincidentemente na época das gravações? Ou será que o diretor simplesmente achou que ficaria "cool" esteticamente essas imagens como a do cartaz?
- Dê uma procurada no Google nos nomes dos responsáveis pelas mortes (Amir Hasan, Inong, Amir Siahaan...) ou então no nome do rio onde aconteceu o grande massacre ("Snake River"). Não achei nenhum Snake River na Indonésia (há um nos EUA) e os nomes dos "chefões" só aparecem em matérias relacionadas ao próprio documentário.
- Repare nas cenas em que o protagonista assiste TV (os vídeos "antigos" dos assassinos mostrando como matavam). Esses vídeos não são antigos. Aposto um rim que eles foram gravados na mesma época do documentário, e depois o diretor simplesmente aplicou um filtro e deixou a imagem quadrada pra parecer algo feito no passado, dando mais "autenticidade" pras imagens. Uma das evidências disso é que os homens que aparecem nesses vídeos "antigos" não envelhecem nada depois quando aparecem no tempo presente do documentário, sendo entrevistadas pelo protagonista (em 2 casos os caras estão usando toucas no presente, provavelmente pra disfarçar que o cabelo está igual ao do vídeo gravado uns 15 anos antes).
O filme inteiro é uma farsa tão ridícula que eu poderia ficar horas aqui listando tudo de absurdo que se vê nas entrelinhas. Pensei até em fazer um vídeo destrinchando o filme cena a cena, mas não tenho paciência nem tecnologia pra fazer isso direito.
E o mais revoltante é que as pessoas celebram uma monstruosidade dessa por sua "humanidade". Há uma cena numa escola onde o filme expõe um professor que mente pras crianças a respeito dos comunistas, os retratando como monstros, etc. Qual é a ética de se fazer isso, quando o próprio documentário está fazendo a mesma coisa, só que com os anti-comunistas?
Pegue as cenas onde o filme registra a rotina do idoso de quase 100 anos em sua casa (uma das vítimas, portanto alguém por quem o filme simpatiza), mostrando ele tomando banho, o pênis aparecendo, ele se rastejando pelo chão e mostrando demência (num quarto iluminado artificialmente pela produção)... Você exporia alguém que você respeita dessa forma tão humilhante? Por que expor um idoso frágil e miserável sob a luz menos elogiosa possível é algo "humano", "artístico"?
Fiquei me perguntando que tipo de ser humano faria um filme como esse... Mas quando vi o primeiro vídeo do cineasta Joshua Oppenheimer no YouTube, um frio me subiu pela espinha que pareceu responder todas as perguntas (Ele teve a cara de pau de gravar um vídeo falando sobre a importância da autenticidade! Repare no ato-falho no segundo 0:15, quando ele confunde "lie" com "truth").
Atualmente o filme está disponível na Netflix e eu recomendo que todos o assistam, no mínimo como um exercício de atenção e ceticismo.
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The Look of Silence / Dinamarca, Indonesia, etc. / 2014 / Joshua Oppenheimer
FILMES PARECIDOS: O Sal da Terra
NOTA: 0.0
Foi me dando uma aflição enquanto eu lia essa crítica.... não pelo texto, mas pelo fato de pessoas defenderem comunistas e outros apoiarem isso. É quase como assistir uma propaganda política enaltecendo abertamente o nazismo e críticos de cinema e festivais consagrados acharem o máximo influenciando milhares de pessoas inseguras a aceitar sua opinião...
ResponderExcluirPra mim este é o tipo mais baixo de arte, aquele em que o "artista" não se esforça em criar nem pensar, e diz que é o público quem tem que pensar ou experimentar sensorialmente a sua obra. Tira fotos em preto e branco de gente velha sentada nas escadas de suas casas velhas em países pobres e subdesenvolvidos, e chama de "critica a não sei lá o que" e ganha vários prêmios.
Fazem igual música de periferia: enchem de mensagens decadentes, desagradáveis, depressivas, agressivas. Mas pelo fato de estar retratando a "realidade" (vide o link: https://www.youtube.com/watch?v=79j5YDYbYQ0), é automaticamente profundo e intelectual. (Viu o link?)
Mesmo a entrevista deste cineasta que tu linkou, eu achei um farsante. A forma com que ele se expressa, como finge estar "pensando profundamente" antes de falar, falta de linearidade com que se comunica. Me lembrou de pintores abstratos que não tem nada a dizer sobre o nada que não criam...
Sua descrição do documentário me lembrou de um outro parecido em certos pontos. Lá por 2008 assisti um filme que na verdade era um documentário mais ou menos neste estilo farsante, chamado "FilmeFobia", achei a proposta curiosa e após muito esforço consegui uma cópia.
É mais um daqueles que levanta várias questões, ameaça com imagens provocantes mas não responde nem mostra nada. Além de ser uma das coisas mais bizarras que eu já vi, o documentário intercalava cenas produzidas com seu próprio making of. E toda vez que mostrava os bastidores era uns "intelectuais" fumando ao redor de uma mesa afirmando: "o que nós fazemos é arte, é profundo, é ousado, quem não entende é porque não tem sensibilidade artística, porque não sente, porque é um alienado intelectual"
Em outra cena chamaram o Zé do Caixão como especialista psicológico (!!!!!!) para analisar se uma determinada pessoa estava de fato sentindo medo. O Zé do Caixão só sabia falar do pênis do cara, e os intelectuais assentindo com a cabeça como se estivessem perante uma autoridade no assunto sobre fobias e pirocas (talvez só pirocas). O Zé levantou a questão, que não respondeu, de que o rapaz poderia ser masoquista. Um "documentário" completamente irracional.
As vezes eu tenho medo dos rumos que a sociedade vem tomando ultimamente, filmes enaltecendo comunistas e socialistas não param de sair. Isso só pode ser reflexo de uma sociedade que muito em breve poderá abraçar o coletivismo de uma forma sem retorno.
KKKKKK... amei a música da Realidade... embora eu não goste nada de hip hop, ainda coloco esse tipo de coisa numa categoria acima da de um filme como O Peso do Silêncio..
ResponderExcluirSenti o mesmo que vc quando vi a entrevista com o diretor.. parece um pseudo-intelectual tentando falar difícil mas sendo totalmente vago..
O FilmeFobia eu nunca assisti.. Vi o trailer agora e acho que vou ficar sem ver mesmo, hehe.
Realmente, parece que atualmente as pessoas tendem a adotar como 'verdade' aquilo que se encaixa em suas convicções, ou que lhes soa agradável. Se é real ou não, parece pouco importar.
ResponderExcluirTalvez o negócio dos exames de vistas tenha algum significado simbólico, de dizer que os torturadores não 'veem' as coisas como deviam ver.
Sim, a ideia dos exames de vista tem essa carga simbólica mesmo.. o que aumenta ainda mais a suspeita de que foi tudo armado.. na vida real, é raríssimo você se deparar com simbolismos tão claros assim e visuais prontos para serem filmados.. é um recurso de ficção..
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