NOTAS DA SESSÃO:
- Muito bonita a fotografia. Lembra filmes dos anos 80.
- O monstro aparece muito rápido no filme, sem preparo. Não é nada realista, fica claro que é tudo uma fantasia na cabeça do garoto - e isso tira o sentido das cenas em que o filme tenta criar suspense em cima da presença física da árvore (o portão que abre sozinho, a árvore mudando o centro de gravidade e puxando as coisas pra ela, etc). Achei que fosse ser um filme real de monstro, mas claramente ele está indo mais pra um lado psicológico.
- A relação com a avó é mal construída. Por que ele detesta tanto ela? Ela parece uma pessoa perfeitamente razoável com o neto. Parece que é só pra mostrar que ele tem uma infância difícil.
- A primeira história que o monstro conta é horrorosa. Ele quer ensinar relativismo moral pro garoto: que ninguém é perfeitamente bom ou mau, que há sempre algo de imoral por trás de uma fachada inocente, etc.
- O filme não tem uma trama interessante - o propósito todo é fazer a gente ter pena do garoto por ele ser tão sofredor (como se isso em si fosse uma virtude). Ele não tem nenhum objetivo positivo, não há nada pra plateia desejar na história - apenas assistir uma vítima reagindo a eventos desagradáveis. A única coisa que ele "quer" é não sofrer - não ficar totalmente arrasado na hora que a mãe morrer.
- A segunda história do monstro também é péssima: um conflito desagradável entre 2 homens de caráter duvidoso, e que ainda fica promovendo misticismo. Eles destruírem a casa do pai que acabou de perder as 2 filhas é de uma maldade abominável. O que o garoto irá tirar de útil desses contos?
- Odioso o garoto quebrar o relógio antigo da avó! O filme quer glamourizar o fato dele ser perturbado emocionalmente, confuso. Mas quando a confusão dele começa a prejudicar pessoas inocentes não dá mais pra simpatizar pelo personagem.
- Todas as relações do filme são conflituosas, desagradáveis. O protagonista com a avó, com o monstro, com o pai, com os bullies, com a diretora da escola...
- SPOILER: Pavorosa a moral da quarta história, quando o monstro faz o menino acreditar que ele queria que a mãe morresse pra ele parar de sofrer. Pensamento típico de quem tem um Senso de Vida malevolente - a ideia de que há um certo alívio em perder as coisas que mais gostamos. Em nenhum momento ao longo do filme foi sugerido que ele tinha sentimentos mistos em relação à mãe, que isso era um conflito interno dele. A mãe era a única pessoa que ele parecia gostar de fato na história.
- SPOILER: O filme gosta tanto de sofrimento que não criou 1, mas 2 cenas de leito de morte com a mãe. A segunda quando ela finalmente morre claro que é comovente, até pela reação mais amadurecida do garoto, etc. Mas ainda não sei o que as histórias todas do monstro serviram pra isso, e o que esse reconhecimento (de que ele "queria" que a mãe morresse) ajudou no luto.
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CONCLUSÃO: Visualmente bonito e com uma cena emocionante no final, mas a história não tem muita coerência psicológica e é totalmente focada no negativo.
A Monster Calls / EUA, Espanha / 2016 / J.A. Bayona
FILMES PARECIDOS: O Bom Gigante Amigo (2016) / Onde Vivem os Monstros (2009) / Um Olhar do Paraíso (2009) / O Labirinto do Fauno (2006)
NOTA: 5.0
Olha que eu estava com maior expectativa pra esse filme, apesar de no poster dar impressão de que ele é parecido com Bom Gigante Amigo estruturalmente.
ResponderExcluirOi Dood.. Tem um "q" de Bom Gigante Amigo sim, principalmente no começo.. Mas depois vai ficando mais dark e introspectivo.. e não tão aventura / fantasia como o do Spielberg.. abs!!
ResponderExcluirQueria ter lido o blog antes de ver o filme ... Tive q ficar explicando relativismo moral e demais coisas perturbadora e deprimentes...
ResponderExcluirEssas fantasias com diretores latinos / hispânicos sempre têm uma tendência à melancolia.. deve ser da cultura.. rss.
ResponderExcluirNa verdade este filme é muito bem explicado pela psicologia. Pela nossa visão as cenas do filme não são abomináveis ou tendem ao negativo, é uma bela história que mostra um garoto sofrendo por saber que vai perder sua mãe e tentando se enganar do contrário. Existe um tipo de luto que é aliviador, não desta forma como "dar graças pela morte de alguém" mas como um luto onde o enlutado sofre por perceber o quanto o enfermo está sofrendo, está cansado e fragilizado. Era fato que sua mãe morreria, não é desumano que o garoto desejasse que ela parasse de sofrer, mesmo que isso lhe custasse a morte. Em nossa realidade isto acontece, pacientes terminais em muitos casos dizem clara e abertamente quererem a morte por não aguentar o sofrimento. Lidar com a morte é dolorosa para quem está se aproximando dela e para os entes que passarão pelo luto.
ResponderExcluirQuanto às histórias da árvore... Caíram como uma luva para além do cinema, nem sempre as bruxas são malvadas, nem sempre o que prega faz isto pela verdade e muitas vezes ao ouvirmos histórias entendemo-as distorcidamente.
Enfim, minha opinião quanto ao filme, enquanto formanda de psicologia é de que o filme rende um belo caso a ser estudado e observado-o pelo olhar da psicologia o filme é surpreendentemente perfeito em todos os aspectos.
Suas reflexões sobre o filme foram muito boas, me fizeram pensar em alguns aspectos que ainda não havia prestado atenção aos detalhes, mas com este olhar mais aguçado ao campo psicológico minha visão foi diferente e é claro que isto é normal, até porque percebi que sua postagem não estava voltada a falar destes aspectos psicológicos do filme, como escrito logo no início!
Olá.. olha.. acho que o filme tem bastante material psicológico sim.. e muitas coisas podem até ser realistas.. renderem uma boa análise desse ponto de vista.. O que eu diria é que nem tudo que é realista é necessariamente atraente / interessante do ponto de vista cinematográfico.. Imagine um filme sobre um personagem doente.. e que o filme retrate em detalhes como a pessoa foi adoecendo, mostre os erros que cometeu, os remédios que tomou, cirurgias que fez, etc.. o espectador que for médico pode ficar encantado com tudo, por ele ter um interesse especial no tema, mas talvez a história entedie o espectador comum, por focar demais no negativo.. aqui no meu blog eu apoio muito a ideia de entretenimento, de que por mais triste que seja uma história, ela pode e deve ser contada de uma maneira inspiradora, divertida, tentando criar admiração pelos personagens, etc.. então foi mais nesse nível que eu critiquei o filme.. do ponto de vista mais psicológico, só achei que faltou um pouco mais de explicação pra certas reações do garoto.. a gente pode até imaginar por que ele era agressivo com a avó, por que ele desejou que a mãe morresse, etc.. e pode fazer sentido.. mas não é algo tão bem desenvolvido ao longo da trama, de forma que o espectador entenda a origem dessas emoções, a sequência específica de eventos que o levaram a tais reações, etc.. ficam lacunas em branco que a gente pode preencher, mas não nos dão uma noção tão clara do que está rolando na mente do garoto.. mas não diria que o filme é pobre desse ponto de vista psicológico.. no fim é o que ele tem de melhor a oferecer acho (nem tanto o lado de entretenimento, efeitos especiais, etc).. abs!!
ResponderExcluirConcordo com você ao dizer que acha que tais situações podem ser realmente representadas de modo mais "atraente", acho que muitas vezes as pessoas podem se inspirar em filmes para lidar com seus problemas.
ResponderExcluirNão entendo tanto quanto você para poder fazer uma boa crítica quanto aos aspectos do filme em si, somente dos aspectos psicológicos que consegui identificar até por estar fazendo um estudo do filme neste momento.
Acho magnifico como nossa subjetividade se reflete em momentos como este e como sempre podemos enxergar por uma outra "lente".
Mais uma vez parabéns por seu trabalho!!
(Sou a mesma autora do comentário anterior).
Olá, mto obrigado...! Eu tento na medida do possível respeitar esse elemento subjetivo da arte... Mas sem cair no subjetivismo total. Pra mim existem alguns princípios básicos que podem sim ser estabelecidos ao se julgar um filme.. e ao mesmo tempo, existe o componente pessoal.. o ângulo de cada um, nossa personalidade, experiência de vida, nosso tipo de mente, etc.. É um pouco que nem comida.. temos nossas preferências aleatórias.. eu não ficaria debatendo exaustivamente pra provar que melancia é melhor que maracujá, que sorvete de creme é melhor que brigadeiro, etc... mas essas diferenças não tornam a coisa uma espécie de vale tudo, onde se alguém preferir comer terra ou veneno de rato está tudo bem.. então são 2 perigos que temos que evitar.. o primeiro é o de você querer tornar seu gosto pessoal uma espécie de lei absoluta e universal.. e o outro é o de abandonar todos os critérios e dizer "gosto não se discute", etc.. abs!
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