quinta-feira, 26 de outubro de 2017

A Guerra dos Sexos

NOTAS DA SESSÃO:

- O filme não se esforça pra fazer a gente simpatizar pela causa da Billie Jean. Não diz se ela está com problemas financeiros, não ilustra se ela atrai um público grande pros jogos de tênis (e por isso mereceria um salário maior), não mostra ela se esforçando pra receber mais, lutando honestamente, com humildade, e mesmo assim sendo recusada. Da maneira como é mostrado, é apenas uma feminista que de um dia pro outro exige um salário igual ao dos homens, simplesmente porque ela resolveu que sim. Não é uma boa maneira de fazer a gente se importar pela personagem.

- O romance é introduzido de maneira igualmente superficial, pouco dramática. Não sabemos nada sobre a vida pessoal/íntima da Billie... Que tipo de coisa ela valoriza, se ela deseja viver um grande romance ou não, se ela tem alguma insegurança, algum conflito pessoal... O filme parece achar que o simples fato dele ter uma agenda política "progressista" já é o bastante pra fazer o espectador se envolver pela história: como Billie Jean é feminista, lésbica, todos na plateia devem automaticamente torcer por ela, independentemente da história ser bem contada.

- Toda a premissa do filme é fraca, sem muito drama, energia. O vilão (Bill Pullman) é um cara meio idiota, mas não é tão odioso assim a ponto de gerar um conflito sério e pessoal entre os dois, que sustente o filme inteiro. Bobby Riggs (Steve Carell), que seria um segundo "vilão", também não tem um conflito significativo com a protagonista. Toda essa ideia de uma partida de tênis entre os 2 pra provar que as mulheres são equivalentes aos homens é uma tolice. Seria apenas um evento simbólico, midiático, mas que não provaria nada na prática. Não provaria nem que mulheres e homens são igualmente bons no esporte, e nem que Billie merece um salário igual ao dos homens simplesmente por ser igualmente habilidosa, independentemente das forças do mercado.

- O filme fica tentando criar um clima épico em cima da partida entre Billie e Bobby, mas simplesmente não existe esse drama todo. Billie já começou o filme como a melhor jogadora do mundo. Não é como nesses filmes de esporte onde o protagonista começa totalmente despreparado, vai crescendo ao longo do filme, até um partida final desafiadora que irá decidir sua carreira. A carreira da Billie não está em jogo aqui. E Bobby é um cara muito mais velho que ela. Ela não está jogando contra alguém que pareça de fato ameaçador. Nem mesmo o movimento feminista está em jogo nessa partida. Mesmo que ela perca, a luta das mulheres não irá parar. É apenas uma brincadeirinha boba sem grandes consequências pra vida pessoal de Billie.

- O romance lésbico entre Billie e Marilyn acaba tendo mais potencial dramático do que a partida de tênis em si. Mas é uma trama que acaba não sendo muito bem explorada (o marido aceita tudo numa boa, Billie não chega a sofrer grandes consequências por causa do romance, não tem que tomar nenhuma decisão até o fim do filme, etc).

- Um dos motivos da história ser fraca é que toda essa rivalidade entre homens e mulheres no fundo é meio boba. Os homens em geral (mesmo os machistas) não odeiam as mulheres (todos têm mães, esposas, filhas, etc). Não é como num filme sobre o racismo, por exemplo, onde realmente pode existir um clima agressivo entre os 2 lados, um conflito moral sério. Aqui, se as mulheres vencerem o jogo, nenhum homem vai ficar de fato revoltado, ofendido. Vai todo mundo se divertir e no dia seguinte continuarão todos convivendo sem problemas.

- A partida final de tênis é filmada de maneira pouco inventiva em termos de fotografia, edição - mas funciona, pois acompanhamos o jogo como se fosse uma partida real transmitida pela TV, onde podemos acompanhar cada jogada com clareza - há certo realismo, temos a impressão que os atores estão realmente ali na quadra em uma partida, etc.

- SPOILER: Como era de se esperar, o final é meio previsível, pouco emocionante. E é meio anticlimático ela vencer a partida, daí ter aquela pausa onde ela vai chorar no banheiro, depois ela voltar pra quadra, comemorar de novo, e daí sim o filme acabar sem que nada novo tenha acontecido - não é resolvido o conflito romântico, não há um encontro final de Billie com os "vilões" (a Margaret, o Bill Pullman, etc).

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CONCLUSÃO: Realizado com competência, com bons atores, mas os conflitos são fracos demais pra tornarem a história interessante.

Battle of the Sexes / Reino Unido, EUA / 2017 / Jonathan Dayton, Valerie Faris

FILMES PARECIDOS: Estrelas Além do Tempo (2016) / Carol (2015) / Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo (2014) / O Homem que Mudou o Jogo (2011)

NOTA: 6.0

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