sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe

NOTAS DA SESSÃO:

- A riqueza dos personagens e dos diálogos nos filmes do Noah Baumbach é sempre algo impressionante. Em 10 minutos ele já extrai mais conteúdo dos personagens do que a maioria dos filmes consegue em 2 horas. Apesar de não haver uma narrativa envolvente, o filme tem um ritmo ágil que o mantém interessante... Há sempre algo criativo e inesperado acontecendo na tela: detalhes como as refeições horríveis da Emma Thompson, a entrelinha constante de que o Ben Stiller é o filho favorito do Dustin Hoffman, a música que o Adam Sandler toca no piano com a filha que eles compuseram quando ela era pequena... É tudo extremamente autêntico e revela a capacidade de observação admirável do diretor. Ele parece realmente ter nascido numa família de artistas como essa, e fala como alguém relatando algo em primeira mão.

- Hilária a cena em que eles vão assistir ao primeiro "filme" da filha do Adam Sandler. E depois a participação da Sigourney Weaver como ela mesma. O filme é sempre inesperado e original. E o elenco é impressionante.

- Costumo comparar Baumbach ao Woody Allen, mas apenas por eles fazerem filmes sobre pessoas, em geral artistas, intelectuais, e terem esse dom pra diálogo e caracterização. O que me impede de gostar mais do Baumbach é que há uma frieza em seus filmes que eu não vejo nos filmes de Allen. Ele não parece ter empatia real por nenhum dos personagens. Eles estão ali apenas ilustrar o cinismo que o cineasta sente em relação à humanidade, e pra dizer as frases inteligentes que ele escreveu no roteiro. Os diálogos às vezes são tão rápidos que mal conseguimos acompanhar... Uma pessoa está sempre interrompendo a outra, mudando o assunto do nada, e isso acontece o tempo todo... É algo que chama atenção pro fato de que o filme é "bem escrito", mas tira todo o nosso envolvimento do conteúdo da conversa.

- Até quando o pai está em coma no hospital o filme insiste nesses diálogos rápidos cômicos, tentando gerar humor num momento triste, onde ninguém deveria estar tão agitado assim.

- Os personagens são todos meio losers, deprimidos, e os relacionamentos entre eles não são nada atraentes - não sentimos uma ligação emocional positiva entre ninguém (no máximo entre o Adam Sandler e a filha). Você não gostaria estar na pele de nenhuma dessas pessoas, e essa não é uma família da qual você gostaria de fazer parte. O Woody Allen conseguia em suas comédias falar de depressão, vazio existencial, divórcio, fracasso profissional, de uma forma que você ficava encantado pelos personagens, gostaria de fazer parte daquele mundo. Era tudo romantizado, divertido, os personagens eram admiráveis, a cidade era glamourosa... Na minha postagem O Que Nos Atrai à Arte? eu discuto como os bons filmes nos transportam pra um universo benevolente, com significado, mesmo quando discutem temas graves. Aqui, o que Baumbach consegue é o oposto - é revelar o vazio e a frieza por trás das relações, das carreiras dos personagens, da vida em si, etc. E o que torna tudo ainda mais deprimente é o fato de Baumbach achar que está fazendo uma comédia, divertindo o espectador. Pegue a cena da briga entre os irmãos do lado de fora do hospital... Você tem Ben Stiller, Adam Sandler se estapeando em público, numa óbvia tentativa de criar um humor mais pastelão, mas não há graça na cena, pois não se trata de uma briga superficial entre 2 pessoas que no fundo se gostam, algo digno de riso como nas comédias comuns, e sim de um desentendimento profundo entre irmãos, uma discussão pesada que impede qualquer leveza no momento, ainda mais considerando o contexto do pai morrendo no hospital.

- O filme acaba abruptamente no meio de uma cena meio nada a ver, enfatizando o desprezo de Baumbach por ordem, conclusões, sentido, etc.

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CONCLUSÃO: Extremamente rico em personagens, diálogos, mas frio e deprimente demais pra se portar como uma comédia.

The Meyerowitz Stories (New and Selected) / EUA / 2017 / Noah Baumbach

FILMES PARECIDOS:

NOTA: 6.5

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