sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Me Chame pelo Seu Nome

NOTAS DA SESSÃO:

- As primeiras cenas entre Oliver e Elio são artificiais. Eles não se comportam como 2 estranhos se comportariam socialmente num primeiro contato. Não há naturalidade, já existe um "clima" estranho no ar desde o início. É como em filme pornô, onde o cineasta precisa de uma desculpa esfarrapada pro entregador de pizza entrar no apartamento, tirar a camisa... e força atitudes totalmente falsas nos personagens.

- Eles mal trocaram 2 palavras e já saem de bicicleta pela cidade, vão tomar uns drinks, etc. A amizade é mal construída. E é mal explicada também a relação entre o Oliver e a família do Elio - o que exatamente ele foi fazer na casa por tanto tempo, etc.

- Os personagens são mostrados de maneira superficial, externa... Nós não estamos acompanhando a história nem pelo ponto de vista de Elio, nem pelo de Oliver. Não sabemos o que nenhum dos dois está pensando, sentindo, que conflitos eles têm, etc. Vemos tudo de fora, sem acesso ao mundo interno de cada um. Em vez de contar uma história de maneira universal, com uma narrativa envolvente, criando personagens com os quais a gente possa se identificar, ele prende a atenção só de quem está no cinema pra ver os 2 indo pra cama. Em vez de uma história, o que nós temos aqui são preliminares: "Oh, Oliver tirou a camisa", "Oh, agora ele foi ao banheiro e deixou a porta entreaberta", "Oh, Oliver fez massagem no Elio", "Elio quase foi pego se masturbando", "Agora eles trocaram de shorts um na frente do outro", etc. É a mentalidade de um filme pornô, não de cinema.

- Soa falsa toda essa valorização da arte e da cultura que o filme tenta passar, mostrando que os personagens são cultos, usam palavras sofisticadas, sabem sobre história da arte, etc. Quando no fundo parece que o filme foi feito por alguém que não entende de nada disso, que se interessa por cultura apenas na medida em que isso serve como uma espécie de afrodisíaco (da mesma forma que em 50 Tons de Cinza, era parte do fetiche o fato do cara ser um bilionário). Os personagens estão sempre tocando piano, lendo livros - mas sem camisa, com um shortinho quase mostrando as partes íntimas, etc. Essa falsa erudição já é sinalizada nos créditos iniciais, que é uma montagem com diversas fotos de esculturas antigas - e a única coisa em comum entre essas esculturas é o fato delas todas serem de homens nus. É como se isso servisse como uma máscara pra gente poder ir ao cinema ver sacanagem, sob o pretexto de estarmos consumindo algo mais nobre.

- Faltam conflitos pro romance. O ambiente não parece ser tão opressor e nem os personagens tão reprimidos sexualmente pra justificar esse receio que eles têm de admitir que são gays. E um está claramente a fim do outro. Não há nenhum medo de rejeição, de algum deles acabar ficando com uma mulher, do romance não rolar, deles terem valores e características incompatíveis, etc.

- 1 hora e meia de filme e ainda estamos nas "preliminares".

- Estranha essa ênfase desnecessária no fato deles serem judeus. Todos sabem que Hollywood é dominada por judeus, e que existem várias teorias da conspiração sobre círculos de pedofilia na indústria, assim como existe na Igreja Católica. E agora sai um filme romantizando a ideia de garotos menores de idade se envolvendo sexualmente com caras mais velhos... É no mínimo polêmico.

- Particularmente acho meio estranho isso deles dizerem "me chame pelo seu nome"... Passa uma ideia narcisista, como se a pessoa quisesse se imaginar transando com ela mesma.

- Nem acho que o filme seja tão sexy assim. O Armie Hammer é tão doce, educado, social... É quase incômodo vê-lo tendo atitudes sexuais mais provocativas (a cena pavorosa do pêssego, etc).

- Os pais do Elio não deveriam achar natural ele ir viajar com o Oliver pra Bérgamo. Os 2 não têm uma amizade tão convincente assim pra quem está de fora. Qualquer um sacaria que eles tão se pegando.

- A relação continua rasa, vista de fora. Em Bérgamo, a gente vê os dois gargalhando pelas ruas, dançando... Mas não sabemos o que gerou a gargalhada, o que torna os 2 tão perfeitos um pro outro. Fica apenas uma impressão vaga e superficial de que eles se dão bem.

- Oliver beija Elio logo após ele ter vomitado - seria isso uma "prova de amor"?

- Pra não falar só mal do filme, pelo menos ele mostra uma relação positiva, há uma tentativa de glamourizar o casal, criar um romance ideal, em vez de algo mais deprimente e realista como Azul É a Cor Mais Quente, por exemplo. Mas eu poderia dizer o mesmo de 50 Tons e isso não tornaria o filme excelente.

- SPOILER: Um absurdo o pai de Elio aceitar a relação dele com Oliver sem nenhuma resistência, e ainda dizer que inveja o que eles tiveram. No mínimo o pai se incomodaria com o fato do amigo ter se hospedado em sua casa e "desvirginado" seu filho adolescente por suas costas. Essa cena é apenas mais uma realização de uma fantasia, fora de contexto, sem realismo - uma tentativa de comover o público gay que nunca teve um pai compreensivo, etc. Muito do filme cai no que chamo de Emoções Irracionais - ele espera que o espectador projete suas próprias experiências na tela, e se comova não com a história em si, mas com seus próprios devaneios pessoais.

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CONCLUSÃO: Simpatizo pela intenção de criar um romance idealizado entre 2 pessoas atraentes, num lugar lindo, mas o filme é imaturo e raso demais pra tornar a relação crível e emocionante.

Call Me by Your Name / Itália, França, Brasil, EUA / 2017 / Luca Guadagnino

FILMES PARECIDOS: Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016) / Carol (2015)

NOTA: 4.0

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