segunda-feira, 12 de março de 2018
Operação Red Sparrow
(Esta crítica está no formato de anotações - em vez de uma crítica convencional, os comentários a seguir foram baseados nas notas que fiz durante a sessão - um método que adotei para passar minhas impressões de forma mais objetiva.)
ANOTAÇÕES:
- A sequência inicial é bem feita e intrigante: a montagem intercalando 2 ações aparentemente desconectadas (a apresentação de balé e o encontro entre os espiões), culminando no acidente da Dominika (Jennifer Lawrence).
- A atitude violenta da Dominika ao descobrir que o acidente foi premeditado torna mais convincente as coisas que ela terá que fazer no resto do filme (já fica estabelecido desde o início que ela não é uma típica bailarina).
- A maneira como ela vai parar no serviço de inteligência é convincente. Faz sentido eles precisarem de uma mulher atraente como ela, e há uma motivação plausível pra ela aceitar o serviço, agora que ela quebrou a perna e não pode mais ganhar dinheiro dançando.
- Legal a mentira que ela improvisa no bar pro Dimitry - revela uma esperteza acima da média.
- A cena do estupro é cheia de suspense, tensão, e gera uma boa reviravolta que nos leva para o segundo ato. Agora a Dominika realmente não tem escolha a não ser trabalhar pros russos.
- A sequência do treinamento das Sparrows é excelente. A Charlotte Rampling diz umas coisas fantásticas (e assustadoras) sobre como manipular as pessoas e sobre as fraquezas da cultura Ocidental... É um retrato assustador (e filosoficamente consciente) de um regime comunista (ou quase).
- É bem Hitchcock / Interlúdio (1946) essa situação da Dominika tendo que seduzir o Nash pra extrair informações. Só gostaria que houvesse mais ação, mais Set Pieces como nos filmes do Hitchcock, em vez de um monte de personagens conversando sobre coisas sombrias a maior parte do tempo.
- A subtrama da colega de quarto da Dominika (Marta) parece mal explicada. A trama principal já não é das mais fáceis de acompanhar (filmes de espionagem sempre têm vários níveis de traição acontecendo que te deixam quase como um jogador de xadrez acompanhando a história). O diretor parece estar usando aquela tática de tornar a trama confusa pro filme soar mais inteligente, "adulto", pois ninguém na plateia entende 100% o que está acontecendo.
- SPOILER: Legal a Dominika passar pro lado dos americanos. Até então, estávamos torcendo por ela (afinal ela não tinha saída a não ser obedecer os russos), mas não tínhamos nenhum interesse em particular na missão de descobrir a identidade do informante, etc. Agora como ela tem um objetivo mais nobre, a história se torna um pouco melhor (embora ela ainda só esteja aí por não ter saída - não se trata de uma história onde a personagem é de fato motivada por desejos e convicções pessoais).
- A cena da compra dos disquetes é boa e funciona como suspense (a gaveta emperrada é um toque legal).
- As cenas de tortura são desagradáveis, vão deixando o espectador indignado. Se depois disso essa menina não matar todo mundo e não fugir pros EUA, o filme será indigesto.
- SPOILER: A ideia dela pegar aquela máquina e se oferecer pra torturar o homem que ela ama é muito forçada. E a briga entre os 3 depois é tão sangrenta que o filme começa a virar o que chamo de culto à dor, como se todo o objetivo da história fosse chegar nessas cenas extremas de violência.
- SPOILER: Forçado o Jeremy Irons (General Korchnoi) pedir pra ser entregue aos russos (e morrer) só pra Dominika ter a chance de ser promovida e dar continuidade ao trabalho dele como informante.
- SPOILER: A surpresa da Dominika incriminar o próprio tio levanta uma série de perguntas que fazem o final parecer duvidoso, meio forçado. Mas há tantas coisas turvas na história que você simplesmente desiste de ligar os pontos, e aceita que tudo deve fazer sentido na cabeça do roteirista.
- SPOILER: De qualquer forma é um final pouco satisfatório, pois o desejo da plateia não era o de ver a Dominika se vingando do tio em particular, ou se tornando uma informante oficial da CIA (o filme nos mostrou um ambiente tão hostil e desagradável que fica difícil se empolgar com a ideia que daqui pra frente essa será a vida dela).
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CONCLUSÃO: Thriller de espionagem bem realizado, mas a aparente preocupação de Francis Lawrence em provar que ele não é apenas um diretor "teen" fez com que ele tornasse a trama confusa e sombria demais pra um entretenimento realmente satisfatório.
Red Sparrow / EUA / 2018 / Francis Lawrence
FILMES PARECIDOS: Atômica (2017) / A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell (2017)
NOTA: 6.0
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