sexta-feira, 14 de junho de 2019

Godzilla II: Rei dos Monstros

Tenho percebido uma demanda em Hollywood por filmes de ação que sejam ruins de propósito, de forma auto-consciente, como é o caso de Godzilla II (o filme tem tantas ideias nonsense por minuto de projeção que outra explicação me parece improvável) - filmes que lembrem as pessoas de filmes-pipoca do passado que elas curtiam quando jovens (e que na época não eram auto-conscientes), mas que se tornaram tolos demais pra serem apreciados seriamente na vida adulta (protagonistas excessivamente corajosos, atores canastrões, cenas de ação forçadas, etc). É uma pena que esses cineastas não consigam dissociar aquilo que de fato atraía o público a esses filmes (o senso de heroísmo, de aventura - ou seja, valores Idealistas) dos elementos ruins (a falta de sofisticação das produções de segunda linha). Na cabeça deles, é como se pra provocar de novo aquele tipo de sentimento fosse necessário abandonar a inteligência, o bom gosto, a seriedade, e se entregar a prazeres infantis e irresponsáveis. São pessoas cínicas no fundo, que não acreditam mais que a vida possa ser interessante como nos filmes, que não respeitam a função do escapismo, e que agora só conseguem apresentar aventuras do tipo sob um ar de deboche, dando confirmações constantes para o espectador, cena após cena, de que todo aquele espetáculo não passa de uma grande tolice e não deve ser levado a sério. Se essa era a intenção, Godzilla II não é um filme mal sucedido - mas talvez seja necessário ter se juntado ao clube dos cínicos para aproveitá-lo totalmente.

Godzilla II: Rei dos Monstros / EUA, Japão / 2019 / Michael Dougherty

NOTA: 4.0

4 comentários:

  1. Pior que até assisto coisas assim, mas sempre se tem a impressão de algo vazio. Não é algo que pagaria pra ver num cinema ainda mais com o preço da entrada.

    Filmes assim são mais pra crianças mesmo, aquele feeling de produção barata que era exibido domingo a noite no SBT e você comentava com os amiguinhos da escola. Só que hoje é muita sofisticação nessas produções tão pobres de conteúdo. Até mesmo os filmes Japoneses originais eram mais divertidos do monstro.

    Agora tudo segue padrão Michael Bay.

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  2. Essa é uma moda que vem pelo menos desde os 90, do culto aos chamados "trash movies", salvo engano foi até capa da VEJA, quando uma parcela de público passou a valorizar filmes e outros produtos culturais pelo que tinham de ridículo, de malfeito. Entraram nesse culto filmes do Zé do Caixão e do Ed Wood (com a ajuda do filme do Tim Burton), certos episódios mais malfeitos de Star Trek, e do súbito sucesso do cantor brega Reginaldo Rossi, que para agradar seu novo foi se tornando um clown, auto-caricaturando seu próprio estilo. E hoje Hollywood procura atender essa demanda, com o agravante talvez de que os filmes antigos, como os de Ed Wood, eram malfeitos por falta de recursos ou por incompetência mesmo, enquanto agora são feitos deliberadamente para serem ruins.
    Pedro.

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  3. Matou a pau. Exatamente isso, você vê algo propositalmente feito para ser assim, um falso amadorismo.

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  4. Bem observado, Pedro!
    Dood, vc perguntou se Sharknado seria uma comédia involuntária no post do John Wick.. vou responder aqui pois tem a ver com esse tópico: Acho que Sharknado é uma comédia voluntária na verdade.. Mas mesmo que fosse acidental.. Sharknado funciona como comédia pro espectador pois entrega consistentemente boas piadas ao longo da narrativa.. não são cenas simplesmente exageradas, mas ideias incongruentes, ridículas.. e o que o filme ridiculariza nesse caso, não é o exagero dos filmes de ação hollywoodianos, e sim o AUTOR do próprio filme, por supostamente ser tão idiota que não tem ideia do que está fazendo (o filme é horrível tecnicamente, o que reforça essa interpretação). Então o filme é engraçado pq é como se fosse um diretor ingênuo tentando fazer um filme de ação, e falhando de forma cômica.. você ri da incompetência do cineasta (assim como você riria de um palhaço por exemplo).. Já num filme caro, bem produzido como Godzilla 2, não existe essa intenção de fingir que o cineasta é incompetente, e com isso fazer a plateia rir.. é um caso bem diferente. abs!

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