27/07 — Matéria: O que deu errado com os millennials, geração que foi de ambiciosa a 'azarada'
Em geral acho discussões sobre gerações inúteis e tendenciosas, querendo apenas achar desculpas pra evitar responsabilidade pessoal ou poder condenar os outros sem motivo. Mas claro que cada época tem certas características que vão influenciar as crenças e expectativas de parte da população. Essa matéria aponta algumas questões econômicas interessantes, mas sinto falta de uma análise mais cultural. Afinal, os millennials cresceram num momento de bastante otimismo na cultura e no entretenimento, que era notavelmente direcionado a crianças. Se você era criança nos anos 80/90, você se sentia o centro do universo. Foi a era do "Criança Esperança"... Apresentadoras de programas infantis eram as rainhas do Brasil... Artistas pop internacionais frequentemente glamourizavam crianças e a infância.... O cinema de Hollywood e a publicidade também eram dominados por produtos infantis de qualidade... Ser criança parecia a coisa mais incrível e promissora do mundo. Os anos 50/60 foram marcados por inaugurarem um certo culto à juventude que até então não era comum (antes disso adultos é que eram o centro das atenções), mas não conheço nenhum outro período onde crianças se tornaram o foco da cultura, e foram tão estimuladas a sonhar alto quanto nesse período dos anos 80/90. E essa mesma geração, quando estava chegando à vida adulta no início dos anos 2000, pronta pra entrar no mercado de trabalho e participar ativamente da sociedade, se deparou com uma virada de mindset na cultura que ia totalmente contra a visão de mundo com a qual ela cresceu. Isso pode explicar em partes o senso de "traição" descrito na matéria. Mas não vejo como uma geração de vítimas — primeiro porque não acredito nesse tipo de determinismo... Além disso, os próprios millennials podem ter contribuído pra tal virada na cultura (além de fatores econômicos, do 11 de Setembro, etc.). Afinal, não é todo mundo que iria conseguir realizar os sonhos prometidos às crianças dos anos 80/90. E com grandes ambições, surge também a possibilidade de grandes decepções. Portanto, no início dos anos 2000, junto com os jovens altamente motivados (que talvez fossem uma minoria), deveria estar surgindo também uma grande massa de jovens desiludidos, com medo do futuro, percebendo que muitas das promessas que lhes foram feitas nunca se tornariam realidade. Para esses, a mudança na cultura não seria apenas conveniente, mas extremamente bem-vinda.
23/07 — Abertura das Olimpíadas de Tóquio
Assim como o Oscar, tivemos aqui outro evento tradicional cujo objetivo supostamente é celebrar virtude, os maiores talentos do mundo, mas a cerimônia inteira acaba sendo um longo discurso sobre igualdade, inclusão, solidariedade, esforço coletivo, etc. Fizeram até uma mudança inédita no Lema Olímpico, que antes dizia "Mais rápido, mais alto, mais forte", e agora passou a dizer "Mais rápido, mais alto, mais forte — JUNTOS", refletindo as tendências anti-individualistas da cultura (ou a tentativa sempre desastrosa de combinar individualismo com coletivismo). Não vi a cerimônia desde o início, mas não ouvi praticamente nenhuma homenagem direta à habilidade, à ambição dos atletas (apenas elogios relacionados à persistência durante a pandemia). Outros detalhes: Cantaram "Imagine" do John Lennon (contraste a letra com isto)... A bandeira olímpica foi carregada por trabalhadores essenciais da pandemia... A chama olímpica começou carregada por um idoso deficiente que mal podia caminhar, foi passada para uma enfermeira, depois passou para um cadeirante, depois para crianças vítimas do terremoto de Fukushima, e por fim foi entregue à medalhista Naomi Osaka que acendeu a pira (e que por ser mulher, negra e cheia de dreads, ajudou a não quebrar o tema de diversidade). Na narração, os comentaristas da SporTV elogiavam a simplicidade da cerimônia, que não teve grandes efeitos visuais e combateu o "excesso de grandiosidade dos Jogos Olímpicos". Como sempre, meu problema não é tanto com a questão da diversidade, da inclusão (embora no contexto das Olimpíadas eu ache um pouco confuso de entender o que significaria ser mais inclusivo) só acho uma pena que em nome disso eles estejam destruindo a inspiração, o espetáculo, a celebração do potencial humano... O Oscar está se tornando o festival de Cannes, e nada está surgindo pra se tornar o novo Oscar. Da mesma forma, se continuarmos nessa direção, as Olimpíadas se parecerão cada vez mais com as Paraolimpíadas, e o tipo de evento que costumava celebrar o máximo de nossas capacidades deixará de existir.
Quando eu comentei no post da Viuva Negra sobre a letra de American Pie falar de John Lennon lendo um livro de Marx e vc respondeu que seria Lenin, estava certo. Eu confundi com o verso seguinte que estava falando do "quarteto" e fui induzido por aquela teoria de que Lenon leu Marx e resolveu fazer Imagine. De qualquer forma, a escolha de Imagine para as cerimônias não é acidental politicamente e eu acho que tem forte mensagem de esquerda, socialista e comunista, assim como a inspiração da própria musica.
ResponderExcluirAh sim...! Imagine é a descrição de uma utopia comunista... não sei até que ponto a maioria das pessoas percebe isso... ou acha que é uma canção sobre paz... mas quando toca em eventos desse porte, é de se questionar...
ResponderExcluirSempre que falam de Imagine de John Lenon lembro desse texto:
ResponderExcluirhttps://sensoincomum.org/2015/11/19/imagine-john-lennon-e-um-lixo/
não conhecia.. meio niilista demais pro meu gosto, rsss.
ResponderExcluirComentando sobre os Millenials, sempre me vi uma pessoa mais apaixonada pela vida: apesar de timidez e tudo, mantinha esse espírito. Mas via no meu circulo social no caso escola gente com esse espírito já bem morto. Digamos que me mantive assim até minha primeira crise depressiva em 2004, quando comecei a cair na real que o mundo não era tão benevolente quanto pensava, mas mantive o espírito posteriormente, apesar do vai e vem da depressão.
ResponderExcluirÁs vezes me pego sonhando demais por válvula de escape. Busco o bom entretenimento que me estimula para isto. Eu vivo com a esperança de algo melhor, mas sei que luto pouco por isto. Não sei se me conformei com isto, ou se a situação também minou muito a iniciativa minha. Eu procuro trabalhar com aquilo que é viável no momento.
Em casos isolados é difícil dizer o que é influência da cultura/geração.. o que tem mais a ver com experiências pessoais.. características genéticas, etc. Olhando pra cultura como um todo, eu até arrisco dizer que existe essa influência cultural no comportamento de gerações.. mas não saberia avaliar casos individuais. De qualquer forma, só resta trabalhar com o que é viável no momento né.. hehe.. tentar lidar da melhor forma possível independentemente da origem do problema. Pra mim também é um trabalho diário.
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