domingo, 22 de agosto de 2021

Shadow

Um caso raro de um filme com problemas que costumam me incomodar, mas que mesmo assim terminou sendo um dos melhores que vi este ano (o filme é de 2018, mas só saiu agora no Brasil). Se trata de um "wuxia" (filmes chineses que se passam em períodos medievais fantasiosos e envolvem artes marciais) que marca um comeback de Zhang Yimou, diretor do ótimo Herói (2002). Minha maior dificuldade com o filme (além da violência, que dei uma perdoada por não chegar a ser gore) foi a compreensão da trama, que depende demais de você prestar atenção no texto, memorizar rostos de atores, e ter certa familiaridade com a cultura chinesa. Embora o visual do filme seja lindo, a trama em si não é sempre desenvolvida visualmente. Se você não fala mandarim, você não pode desgrudar os olhos das legendas, se não perde detalhes cruciais da história (filmes americanos exigem menos disciplina nesse sentido, pois a língua é mais familiar e captamos muita coisa pelo áudio). Outro problema é que, nós no ocidente, costumamos ter mais dificuldade em diferenciar rostos de asiáticos. Eu já tenho problemas com isso até em filmes americanos, então num filme como este, onde vários personagens centrais são homens chineses de idades parecidas, sendo que 2 deles são interpretados pelo mesmo ator (um é o Comandante, e o outro é o "sombra" — um dublê que se parece muito com ele) eu fiquei ainda mais desnorteado (some a isso o filme ser de fato sutil em sua direção, mais sofisticado que o comum, e deixar sempre lacunas para o espectador preencher sozinho). Acabei assistindo a primeira parte do filme 2 vezes, pois sabia que não se tratava de um caso de pseudo-sofisticação. Era um filme com uma história realmente boa, inteligente, e com uma direção talentosa. Quando me sentia perdido, sabia que não era simples falta de habilidade do cineasta; e sim que o filme exigia um foco maior do espectador. Não é um filme tão colorido e movimentado quanto Herói, mas ele consegue oferecer aquela união de entretenimento com cinema autoral que vemos tão pouco no cinema hoje; a sensação de estar vendo um filme realmente sério, original, com um estilo próprio, mas que ao mesmo tempo é cheio de drama, cenas de ação bem coreografadas, e imagens de encher os olhos. Pra mim foi um lembrete de que o que mais me frustra nos filmes em geral não é tanto a presença de problemas, mas a ausência de virtudes.

Ying / 2018 / Zhang Yimou

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