Novo filme de Ridley Scott, que é o primeiro roteiro que Matt Damon e Ben Affleck (que também atuam no filme) escreveram juntos desde Gênio Indomável. A história se passa na França em 1386 e acompanha a rivalidade entre 2 amigos (Damon e Adam Driver) que começa por causa de uma disputa de terras, mas acaba evoluindo pra uma traição num nível mais pessoal. O filme é dividido em 3 capítulos, e cada um reconta a mesma história por um ponto de vista diferente (remetendo ao que discuti recentemente na crítica de A Menina que Matou os Pais). Apesar de haver um duelo importante na história, está mais pra um drama do que pra um épico de ação tipo Gladiador. Algumas cenas de batalha foram incluídas, mas parece que só pra não frustrar as expectativas do público em relação ao gênero, pois elas não são fundamentais para a trama.
Achei a história bem interessante, principalmente depois que é estabelecido o conflito entre o trio principal, e versões alternativas do ocorrido começam a ser apresentadas. SPOILER: Uma coisa curiosa (e que pra mim enfraquece um pouco a narrativa) é que as versões não são radicalmente diferentes umas das outras... Seria mais natural que o personagem do Adam Driver fosse apresentado como inocente em sua versão, e culpado na versão de Marguerite - e que a verdade fosse revelada para o espectador só mais para o final. Mas nas duas ele é claramente culpado, o que torna o filme menos previsível, mas tira um pouco do dilema moral e elimina a possibilidade de grandes surpresas.
Outra coisa ligeiramente insatisfatória é que embora o personagem de Damon esteja lutando por justiça, por uma boa causa, qualquer vitória no contexto horrível da Idade Média não parece significar uma vitória de verdade (aliás, o sistema político da época é tão bizarro que qualquer pessoa sensata deve sair da sala um defensor dos direitos individuais e do estado laico). Não é um mundo onde possam existir conceitos como justiça, provas, direitos... Ganhando a luta ou perdendo, ficamos com a impressão de que ninguém de fato conhecerá a verdade, que no fim tudo terá sido resolvido pela força bruta, com base em sorte, e que também não há um futuro realmente feliz para ninguém na história (independentemente do incidente, o casamento de Damon já não era positivo nem baseado em amor).
Mas essas são questões que não comprometem o aproveitamento da história. O roteiro é fundado em bons conflitos, tem um desenvolvimento interessante, e o filme como um todo é muito bem realizado. Ridley Scott está em modus operandi, sem grandes ideias ou esforços extras na direção, mas como a história é sólida e os atores/personagens são bons (gostei particularmente do Affleck loiro), sua competência habitual já é o suficiente pra fazer o filme funcionar.
The Last Duel / 2021 / Ridley Scott
Nível de Satisfação: 8
Categoria A/B: Idealismo com ênfase no negativo
Filmes Parecidos: Gladiador (2000) / As Bruxas de Salém (1996) / O Leão no Inverno (1968)
Mais um pra lista do que irei assistir. Só pela análise me bateu curiosidade.
ResponderExcluirFoi um dos melhores que vi este ano.. se curte o estilo, recomendo!
ResponderExcluirVi o filme ontem. O trailer passou uma ideia completamente diferente do filme. Pelo trailer, eu pensei que o filme contaria a história de como uma mulher corajosa ao se defender fez com que aquele duelo fosse o último, pois era algo que acontecia direto. E que depois desse caso, por causa dela não aconteceu mais duelos. Também aquelas partes com cruz pela tela dava a impressão de que teria uma perseguição religiosa presente o filme inteiro. Então o filme seria na verdade sobre a mulher X a igreja e isso seria resolvido no duelo e como a igreja teria perdido, os duelos não foram mais feitos.
ResponderExcluirÉ, talvez tenham enfatizado isso no trailer pro filme parecer ter mais ação.. quando na prática ele é mais um drama focado em personagem.
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