quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Spencer

Pablo Larraín basicamente fez outro Jackie (2016), só que agora com a Princesa Diana; Spencer também não tem muita história (começa já com o bonde andando e termina sem conclusão) e tem um estilo de direção pretensioso que se sobrepõe ao conteúdo (enquadramentos à la Kubrick, música dissonante, etc.). Ironicamente, o filme pretende criticar aqueles que trataram Diana como objeto, como produto, e não se preocupavam com sua individualidade, mas o filme em si também não tem grande interesse no universo interno de Diana, e existe principalmente pra explorar seu estilo, beleza, reproduzir seus looks icônicos, etc. Ele não diz nada relevante sobre ela, além de expor que ela sofria na família Real por se sentir restringida, o que não é novidade pra ninguém. E nem isso ele consegue dramatizar direito. É tudo sugerido vagamente, como se o espectador já tivesse que entrar na sala conhecendo sua biografia. Kristen Stewart passa o filme todo com cara de angústia, sofrendo terrivelmente por ter que colocar um vestido, ficar linda, e ir a um banquete — não é mostrado um real abuso da parte da família Real, nem mesmo dos paparazzis. O filme a faz parecer uma chata, alguém que gosta de se fazer de vítima (está mais pra Elsa que pra Cinderela). Em vez de trazer conteúdo psicológico real, dados biográficos interessantes, o filme fica na superfície e tenta parecer profundo romantizando sofrimento e subvertendo a imagem de Diana — fazendo a doçura e inocência que marcavam sua persona parecerem uma farsa; como se na prática ela fosse uma pessoa niilista, dark, uma esquisitona, que está sempre falando palavrões, fazendo coisas destrutivas. É uma desconstrução gratuita da imagem de Diana, que reflete a relação estranha que as pessoas têm com os ricos e poderosos: por um lado querem saber tudo sobre eles, como se vestem, como vivem, mas ao mesmo tempo, precisam rebaixá-los e expor seus podres pra não se sentirem por baixo. Se Diana estivesse viva, o filme só a faria se sentir mais usada.

Spencer / 2021 / Pablo Larraín

Nível de Satisfação: 4

Categoria C: Valores negativos (Pseudo-sofisticação / toques de Anti-Idealismo)

Filmes Parecidos: Jackie (2016) / Grace de Mônaco (2014) / A Dama de Ferro (2011) / Cisne Negro (2010) / Maria Antonieta (2006)

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