quinta-feira, 2 de outubro de 2025

IA e Criatividade

Temos visto cada vez mais pessoas realizando trabalhos artísticos com o uso da IA. Isso vem levantando uma série de discussões a respeito do papel da arte, mas nenhum debate pode ser satisfatório se ignorar um princípio central: certos produtos humanos — como a arte — não são meramente utilitários. Não são como um pedaço de pão, que serve apenas para matar a fome, sem que importe de onde ele veio, quem o preparou etc. Certos produtos têm valor porque refletem as virtudes e qualidades pessoais do criador — seu interesse não está meramente no objeto à sua frente, mas também no que ele revela a respeito da pessoa que o criou. 

Fazendo uma analogia, o valor de uma fotografia não está apenas no prazer que as cores e formas que ela revela provocam nos seus olhos. Boa parte do valor está na suposição de que aquela imagem representa algo que existe no mundo real. Se você adultera totalmente a foto, ela perde esse valor documental. Já quando vemos uma obra de arte — uma pintura, por exemplo — não assumimos que ela reflete uma realidade física exata. Seu valor depende de ela refletir outro tipo de realidade — a do artista: o que inclui não apenas suas ideias, visões e valores, mas também suas capacidades e talentos.

Frequentemente, somos inspirados mais pelas virtudes do artista representadas em uma obra do que pela "mensagem" em si ou pelo conteúdo. Pense nos seus artistas favoritos e no quanto o fato de eles demonstrarem habilidades extraordinárias em seu trabalho pesa na sua admiração. O Davi de Michelangelo teria grande apelo se tivesse sido feito por uma impressora 3D, e tivéssemos que avaliá-lo apenas pela ideia do criador, e não também pela execução?

Pra mim, esta é a discussão central no que diz respeito à IA e à criatividade. As virtudes e habilidades reais do artista importam? Ou apenas a intenção, a visão geral? Quem não vê problema em criar arte com IA parte do princípio de que apenas a visão geral conta — o “gosto” do artista — pouco importando suas reais capacidades. Já para quem acha que a arte deve refletir os talentos do artista, criar com IA parece uma espécie de fraude — quebra o contrato implícito que sempre existiu entre artista e espectador: o de que a obra reflete tanto a visão quanto as habilidades do criador. Pra esse espectador, apreciar arte criada por IA é como estar na posição de um professor corrigindo redações escritas com o ChatGPT: tentando se concentrar apenas na intenção e nas decisões amplas que governam o texto, mas sem ter como saber se o aluno entendeu a matéria, se sabe escrever ou se é semi-analfabeto.

Acho que é um engano pensar que o artista que cria com IA será admirado pelo seu “dom” de criar prompts, da mesma forma que um diretor de cinema é celebrado como o autor de um filme, mesmo dependendo de outras pessoas para executar sua visão. A partir do momento em que você introduz a IA no jogo, o espectador já não confia mais na autenticidade plena da obra. Ele não tem como saber se a IA está apenas executando as ideias originais do autor ou se está “tendo ideias” por ele (copiando de outras obras). Assim, a arte deixa de refletir a realidade interna do artista e perde um de seus atributos mais essenciais — como no caso de falsificações. 

Não acho que a IA generativa deva ser banida. Mas acho que se tornará crucial para o espectador saber quando um trabalho criativo foi feito com a ajuda de IA — e o que exatamente a IA fez (por exemplo: se um roteirista a usou apenas para correções ortográficas, se a usou para criar diálogos ou se a premissa inteira do filme foi baseada na IA).

Se o mundo começar a ser inundado de arte criada por IA e o devido crédito não for dado, será como viver em um mundo distópico no qual não confiamos mais em fotos, vídeos e em nenhuma forma de registro. Nada mais será um reflexo confiável da realidade ou das capacidades de ninguém. A pessoa que quiser ser apreciada por suas reais capacidades terá que achar formas de provar que não usa IA — da mesma forma que cantores talentosos hoje precisam divulgar que não usam autotune e não fazem playback em shows, pois o normal é o público já desconfiar. A IA é o "autotune do cérebro" — uma ferramenta que permite que você pareça virtuoso em inúmeras atividades nas quais não é. Portanto, devemos usá-la com prudência e evitá-la quando a presunção do público for a de que aquelas são as suas habilidades.

Índice: Artigos e Postagens Teóricas

20 comentários:

  1. Eu acompanhei inúmeras discussões no Twitter (me recuso a chamar aquilo de "X") sobre imagens e dublagens feitas por IA vs. artistas profissionais em geral, e o que notei é que a parte voltada para a direita, mais aquela parcela grupo dos "geeks" e "nerds", são favoráveis aos uso da IA em praticamente tudo, enquanto que a esquerda pede regulamentações. A direita faz isso por birra, já que a grande maioria dos artistas e dubladores são esquerdistas militantes, e se a IA tirar o emprego desses artistas, essa direita nerd se sentira ''vingada''.

    Eu pratico pintura em tela a óleo e acrílico, e pretendo um dia viver disso, e talvez na minha área o uso da IA não afetará tanto, pois há décadas tem inúmeros quadros que são na verdade fotos ou pinturas imprimidas com uma moldura sendo vendidas em lojas, então um desenho de IA imprimida não fará diferença alguma, ou mesmo um robô que pinta quadros, ao contrário de desenhos digitais, dublagens e filmes.
    Mas confesso, usei o Midjourney e fiz algumas imagens para ver como é, e de fato me diverti por um tempo, mas aos poucos fui notando que isso tinha um efeito no meu cérebro semelhante a jogar num caça-níquel, minha expectativa era ver como a IA iria responder meus prompts, que na maioria das vezes era aquém do que esperava, mas minha expectativa para uma nova imagem perfeita me fazia esperar por algo satisfatório na próxima rodada.
    Não foi a mesma satisfação que tenho quando pincelo uma tela, busco aprimorar meus estilo próprio, e quando termino ele.

    Claro, a IA veio pra ficar e tentar impedir isso é lutar contra o vento, mas o povo não entende que o uso desenfreado dessa ferramenta poderá tirar da arte, até mesmo da própria humanidade, coisas valiosas como a individualidade. Por isso acho irônico ver justamente a direita nerd conservadora e cristã apoiando o uso das IA no mundo da arte enquanto que a esquerda, que prega o coletivismo, sendo contra.

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    1. Pensando em um nível mais filosófico... esse uso desenfreado da IA promete algo que pode ser atraente para certos públicos — uma libertação do corpo, das limitações do mundo material. Isso, para alguns, pode ser mais importante do que a individualidade, a cultura ou a própria realidade. Mas também acontece muito disso que você mencionou, das pessoas abraçam certos posicionamentos só por serem o oposto dos da outra “tribo”.

      Legal saber que você pinta! Algumas formas de arte acho que serão menos afetadas pela IA, como a pintura a óleo (já dos designers gráficos, tenho pena hehe). Já aquelas artes que são frequentemente consumidas como entretenimento e movimentam grandes indústrias — música, cinema, literatura — serão invadidas por multidões de pessoas que, antes da IA, não se sentiam aptas a criar. Isso pode ter seu lado bom, mas a tendência é que a proporção de lixo produzido aumente exponencialmente, degradando os padrões de qualidade em geral.

      Também já entrei nessas espirais de prompts, tentando chegar no resultado perfeito hehe... Realmente, mesmo quando dá certo, o resultado nunca é tão satisfatório, e você não se apega como se apega a algo que criou sozinho. Acho interessante pra coisas práticas, criar storyboards, ilustrações pra materiais didáticos quem sabe… mas não para arte, entretenimento, projetos criativos.

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    2. Quando você trabalhar com textos, a IA faz um bom trabalho de poupar o processo de desenvolvimento, o esqueleto do texto. Os retoques, quem faz é você: se você deixar ela tomar conta sozinha, nunca vai sair do jeito que você quer. Você tem que sempre acrescentar. Eu mesmo uso IA constantemente nos textos do meu blog e estou aplicando algumas estratégias de deixar meus texto mais atrativos para a busca do Google.

      O grande problema é que a classe artística, comumente flertando com ideias de esquerda, está levando um baque desses novos opositores (não chamo nem de direita, porque nem sempre o é realmente - leia-se direita: gente com saco cheio da esquerda).

      Nem é uma birra em si: é porque o discurso esquerdista dá no saco, até a mim, que sou um cara que nem de direita puro é. Mas eu acho, por experiência empírica, que o talento vai sobreviver e se transformar ainda mais nesse ramo artístico. Principalmente em uma classe artística controversa e hipócrita, ainda mais a brasileira, que não aprendeu a administrar os ganhos de sua arte e a viver de licitações e incentivos governamentais. É muito fácil fazer arte com um dinheiro que não é seu e militar ideologicamente com boleto pago.

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    3. Quando seu objetivo é apenas comunicar algo, não vejo problema em usar a IA (eu uso como corretor muitas vezes). Agora no caso de um livro de ficção... já acharia importante a pessoa dizer que usou IA pra escrever. Pois eu não leio o livro só pra obter informações, ouvir um ponto de vista, mas também pra apreciar o talento e as qualidades individuais do artista. Então tudo depende de como você usa. Por exemplo: existem esses aplicativos que te deixam com o abdômen definido... O aplicativo em si é mal intencionado? Não.. depende de quem usa. Você pode usar pra ver como ficaria, pra isso te motivar na academia. Pode usar pra criar um meme (deixando óbvia a edição). Agora se você colocar essas fotos em um aplicativo de relacionamento pra seduzir desconhecidos, você já será uma fraude.

      A esquerda quer regular a IA pelos motivos errados — por questões trabalhistas, por serem contra a automação (disso, aliás, a direita também não gosta). Daí a oposição adota o posicionamento contrário.. e no meio do debate partidário, poucos dão atenção a esses problemas legítimos que a IA representa.

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    4. Eu sempre gostei de escrever e tenho um blog desde 2005. Só que sempre quis alguém que me desse um feedback para me ajudar a melhorar — e nunca tive. Meu objetivo sempre foi ser mais comunicativo, sem a intenção de criar narrativas literárias completas.

      Antigamente, até para trabalhos literários, rolava plágio: gente sem talento copiando estruturas e certas “manhas” de roteiro. Quem cria conteúdo com IA pura talvez nem se preocupe com isso (o que, por si só, também é problemático), mas quem tem algum senso crítico percebe que muita coisa é mal feita. No final, isso só compromete a já fragilizada literatura comercial ou perpetua livros com histórias ruins que já existiam.

      Aliás, já reparou como isso está cheio na Amazon, especialmente com publicações digitais? Com a IA, esse fenômeno se intensificou, principalmente em romances que antes eram vendidos em bancas de jornal, tipo as Sabrinas e Biancas.

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    5. A IA pode ser uma ferramenta útil nessa questão do feedback... Ainda que ela não seja muito boa ainda em avaliar a coerência intelectual do que você escreve, ela certamente sabe fazer textos soarem mais claros e estruturados.

      Então, este ano mesmo acabei comprando um livro que só lá pelo 4º capítulo fui perceber que era escrito por IA... no começo, tava achando interessante até, mas parei de ler assim que descobri. Fui percebendo vários erros... o livro repetindo um mesmo argumento duas páginas depois, como se fosse a primeira vez que trouxesse aquela ideia, etc. Daí quando fui olhar, o autor tinha lançado uns 20 livros só em 2024, sobre assuntos que não tinham relação alguma — maternidade, física quântica, etc. É por existir esse tipo de mentalidade que temos que fazer essas reflexões sobre a IA.

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    6. Sendo sincero: prefiro um feedback humano. A IA até ajuda a criar textos melhores e artigos idem, mas o lado humano faz parte: o homem é um ser social e é bom ver que nosso trabalho tá sendo visto por alguém e que acreitam em nosso potencial.

      E eu entendo sua preocupação, mas vejo que dentro de sua problemática você mesmo encontrou uma das soluções: checar o histórico de quem escreve a obra, entre outros fatores (como avaliações da mesma). Isso ajuda a combater esse problema citado. Os autores precisam criar autoridade: saber vender seu peixe ainda mais com o digital permitindo a difusão e comunicação rápida. Então se o cara vende um produto ruim, logo ele é descoberto. A gente tem que sempre diferenciar amadores de profissionais.

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    7. Sim, vira um jogo de gato e rato. Eu peguei esses erros no livro pois a IA hoje ainda está na sua infância. Daqui a uns anos, provavelmente os erros serão muito mais sutis, o que exigirá um treinamento constante, assim como golpes via Whatsapp vão evoluindo e precisamos estar sempre nos informando sobre as táticas mais recentes pra não cairmos nelas. Mas acho importante não confundir o debate "amadores vs. profissionais" do debate "golpistas vs. pessoas honestas". Quando vc escreve um livro técnico com IA se passando por expert (sem deixar claro que é um livro de IA), vc não está simplesmente entregando um produto de qualidade inferior, vc está enganando o consumidor pra tirar dinheiro dele. É uma outra categoria de interação. Então acho importante não normalizarmos esse potencial da IA.

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    8. Concordo em parte, mas acho que o ponto central não é a tecnologia em si — é o uso que se faz dela. Sempre houve gente desonesta explorando brechas, desde os falsários que copiavam os livros de Galeno na Antiguidade até quem vende óleo de cobra como cura milagrosa. O problema não é o bisturi, é quem o empunha. A IA só trouxe uma nova forma de aplicar velhas intenções.

      É necessário vigilância e educação digital, mas a raiz é moral, não tecnológica. Vai existir charlatanismo em qualquer época, com ou sem IA — a diferença é a escala e a velocidade com que esses golpes se espalham hoje. No fim, o que muda é o meio; o desvio de caráter continua o mesmo.

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    9. Sim... depende mais de como é usada mesmo. Exceto no caso de certas ferramentas que não têm utilidade alguma, a não ser se você quiser enganar os outros. Por exemplo: uma máquina que permita criar cédulas de real idênticas às verdadeiras — para que alguém a utilizaria? Nem mesmo no entretenimento (filmes, teatro) a cédula precisaria ser 100% perfeita. Então às vezes questiono a intenção de certas tecnologias. Outro exemplo: não tenho nada contra robôs inteligentes, nem mesmo contra robôs inteligentes que tenham um formato próximo ao humano. Agora, quem se beneficiaria de um ciborgue ultrarrealista, indistinguível de um ser humano? É nessa zona que começo a questionar a própria ferramenta.

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    10. Eu já imagino que quem precisa de um robo ultrarealista é uma pessoa com uma carência afetiva muito forte e precisa ter uma objeto programado com a personalidade que se adeque a personalidade dificil dele.

      Não sei quanto a você: mas conheco muitas pessoas com essa carência e que se sentem sozinhas, talvez por uma doença ou por traumas. Eu mesmo me vejo assim doente, não a ponto de criar uma figura assim para me relacionar. Até porque minha questão hoje é mais ligado a carreira e networkig.

      Mas me lembra um Japonês que criou uma personagem no jogo Love Plus no portátil nintendo ds e se casou com ela. Era um jogo de encontro e relacionamento que você criava uma personagem virtual que usava de estrutura pré pronta (escolhido com a necessidade do jogador). Só que tudo no jogo era algo o jogador precisa manter o relacionamento, interagir com a parceira diariamente, participar de eventos sazonais e até falar com ela por microfone do portátil.

      A gente chega a conclusão de uma patologia social esse tipo de criação. Mas não por causa da tecnologia em si, é porque tem gente com essa característica que se sente sozinha e isso preencheria essa necessidade afetiva.

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    11. Sim, um robô pode ter essa função "terapêutica" pra algumas pessoas de simular uma relação real... e talvez ele precise ser minimamente realista pra ajudar com a suspensão da descrença. Nada contra bonecas infláveis, bebês reborn (posso até achar meio sinistro e duvidoso, mas não vejo ameaças existenciais nesse nível de imitação). Agora se a tecnologia avança a ponto de tornar o robô perfeito, realmente indistinguível de uma pessoa real, até por dentro... aí essa "terapia" pra mim já foi longe demais e começa a criar problemas pro resto da sociedade.

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  2. @Korvoloco pra algo autoral, a imagem ainda tem seu significado. Como eu foco em marketing eu ás vezes preciso de algo original para uma postagem ou anuncio. E até ensaio criações com elas. Eu não sei desenhar, elas não podem ter a autenticidade, mas tem a identidade que eu gostaria que elas tivessem. E porque faço com pretensão de atender um propósito: que é trabalho, portfólio e criativos livres. Mas há aquela limitação de estilos que vejo que já foi utilizado, eu gosto de criar visuais diferenciados. Eu sei que descobri um potencial criativo com essa ferramenta. O resultado sempre será diferente dependendo de quem usa, e geralmente os mais normies vivem de repetir padrões.

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    1. Eu confesso que generalizei lá em cima. Obvio que não é toda a direita, eu mesmo me alinho mais ao lado da direita conservadora, e claro que não são todos os nerds direitistas que agem assim, isso foi uma falha minha não ter deixado claro. Mas sim, essa direita nerd encabeçada por pessoas como o Chief, do antigo "Xbox Mil Grau" e cia, são os que querem IA substituindo dubladores, artistas etc. E o tanto de seguidores que dão likes nas postagens deles e os apoiam deixa claro que não é um pequeno grupo isolado na internet, e quando você vai ver os argumentos que eles defendem, fica claro que é uma birra, já que há anos eles compram brigas inúteis contra artistas esquerdistas militantes na internet, e como o Chief (usando ele como exemplo) que foi cancelado por boa parte desses artistas esquerdistas, acredito sim que ele se sentiria vingado por esses artistas perderem empregos por conta das IA. Pelo menos essa é a minha visão.
      Como eu disse, generalizei e não dei exemplos de direitistas mais moderados. Vejo essa ala da direita nerd alinhada ao Chief prejudicando a reputação de pessoas com bom senso no meio.
      Geralmente são compostos de bolsonaristas, com tendências anarcocapitalistas e católicos romanos. Palavras como "protestantes" e até mesmo "estado mínimo" são heresias para eles. Ou você é 100% como eles, ou é um herege.
      Até Josias Teófilo, um conservador olavista que dirigiu o documentário "O Jardim das Aflições", foi massacrado no Twitter tempos atrás por esse grupo de conservadores porque defendeu a Lei Rouanet...

      E sim, não vejo problema em usar a IA como ferramenta, não como muleta. Eu tenho dislexia e quando preciso mandar um texto mais elaborado, uso o ChatGPT pra quebrar um galho. Para trabalhos pessoais, ajustar uma coisa aqui e ali, beleza. Minha arte é manual, não tenho equipamentos para fazer desenhos digitais e nem pretendo ter, mas sinto pena daqueles que dedicaram suas vidas aperfeiçoando seus desenhos digitais perdendo seu ganha pão com a IA. Mas se tem uma coisa que me revolta mesmo é ver pessoas vendendo desenhos feitos no Midjourney como obras de arte, vi gente vendendo isso por 4 dólares até 30 dólares. E o impressionante é ver louco pagando por isso!

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    2. Não acho que seja só o Chief o causador dessa birra — parte disso vem também do pessoal que pegou no pé dele na época, mesmo sem ter sido diretamente responsável pelo cancelamento. Na internet, a gente costuma pegar o bonde andando, sem entender o contexto completo. Eu, por conviver com muitos jovens (principalmente da geração Z), acabo não tendo esse tipo de problema.

      Pode ser que a revolta dele venha justamente daí: o mundo polarizado destruiu a confiança e a união. Mesmo quando há um ponto válido vindo da esquerda, ele acaba abafado. É difícil num cenário em que quem está no poder flerta com ideias progressistas, mas enfrenta uma sociedade cansada delas. No fim, muita coisa é especulação.

      O que realmente prejudica os artistas hoje é o posicionamento político. Muitos esquecem que é o público quem paga as contas, a não ser que você seja “amigo do rei” — os políticos.

      Sobre o lance da arte digital, o problema maior vem das corporações, como a Adobe, que usa os trabalhos digitais dos próprios usuários para treinar sua IA. E não dá pra impedir o uso de inteligência artificial em música, desenho ou dublagem. Só que alcançar algo perfeito ainda está longe: trabalhei muito tempo com digitalização de acervos e, mesmo com OCR (sistema de reconhecimento de caracteres), o erro é frequente. Sempre vai haver necessidade de trabalho humano — e talento — para corrigir e aprimorar o resultado.

      Tudo vai precisar do lado humano para chegar num resultado bom e arte mesmo é nicho, e não morre. Falo isso porque trabalho numa feira de antiguidades e convivo com artistas (majoritariamente de esquerda, com alguns de centro).

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    3. Sim. Só citei o Chief, mas tem vários outros que agem como ele, e até pior.
      E con certeza, essa polaridade política acabou de vez com qualquer chance de uma convivência pacífica na internet. Grandes amigos e amigas que tive até 2017, principalmente na internet, simplesmente se distanciaram de mim (eles eram esquerdistas e não se importavam com minha posição ideológica), mesmo eu nunca demostrando apoio ao Bolsonaro, por exemplo.
      E o pior que essa polarização tomou conta não só da política, mas de produtos, marcas. Nintendistas, caixistas, sonystas, PCistas, iPhonistas, Androidistas e assim por diante... Bastou você dizer que gosta de uma marca em específico que vai ter uma legião de fãs te agredirem na internet, hahahahaha

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    4. Mas a questão é essa: você não se posicionar ao lado delas elas te vêem como um inimgo ferrenho. Eu perdi muitos amigos também, e olha que sou um cara de poucos, muito poucos amigos. E hoje me vejo como uma pessoa isolada porque sou um cara que pontualmente defendo ideias, não as figuras políticas em si. Só endossava o governo Bolsonaro porque ele gerava incômodo e eu tinha experância de uma autocrítica da esquerda, o que é um mero engano: vejo que não dá pra discutir e ponderar com muitos eles.

      O último amigo que perdi foi um que se ofendeu porque critiquei posicionamentos de Petistas, ele se dizia de esquerda uma vez pra mim, e ser de esquerda não é necessáriamente um partido, e atá falei com ele sobre isso: você não precisa defender um partido que adota seu posicionamento: deve reconhecer seus erros.


      Essa guerra polarizada de marcas sempre existiu na internet (caso Sonystas e cia) mas chegou a grande massa (os normies). A internet sempre foi de gente com comentários desse tipo de extremismo, como eu convivo desde 2004 (época de fóruns) eu levo a coisa mais numa boa.

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  3. "Mas se tem uma coisa que me revolta mesmo é ver pessoas vendendo desenhos feitos no Midjourney como obras de arte, vi gente vendendo isso por 4 dólares até 30 dólares. E o impressionante é ver louco pagando por isso!"

    É, isso lembra muito o caso de Galeno, o médico da antiguidade. Os livros dele foram tão reverenciados que surgiram até falsários copiando e vendendo versões adulteradas das obras, só pra lucrar em cima do prestígio do nome dele. Durante séculos, a medicina ficou presa a essas cópias e dogmas, sem evoluir de verdade.

    Com a IA acontece algo parecido: gente pegando o que a máquina gera no Midjourney e vendendo como se fosse arte original — e o pior, tem quem pague por isso achando que está comprando genialidade. É o mesmo espírito dos falsários, só que com outra ferramenta. Mas se você reparar bem até pra IA nada fica muito perfeito, e as fraudes são sempre reveladas mais cedo ou mais tarde.

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    1. Exato. As pessoas se acostumaram tanto a uma cultura pobre e sem alma que quando veem algo feito pelo Midjourney, pensam se tratar de uma obra de arte feita por um artista talentoso e nem se dão ao trabalho de observar os detalhes grotescos dos erros das mãos, dos olhos. A mesma coisa com vídeos gerados por IA que volta e meia engana o pessoal e compartilham como se fosse real.

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    2. É a industrialização: a massa não liga muito par arte em si, zelo cuidado. Ainda mais em questão de animação e video: mas é impressionante criar, só que até chegar a um produto aceitável a gente anda um bocado também. E terceirizar uma máquina pra fazer isso exige mais trabalho do que fazer em si vindo de uma pessoa talentosa. Esse é ponto: uma pessoa que tem o dom da arte na pintura vai fazer um trabalho mais perfeito possivel do que uma pessoa com IA: ela vai rascunhar mais e nesse desenvolvimento vao ficar pontas soltas. Talvez ter que pegar esses rascunhos e montar num programa de edição para ficar bom como um recorta e cola de esboços.

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