NOTAS DA SESSÃO:
- O filme obviamente coloca sua função documental / jornalística / ideológica acima do propósito artístico. Não há nenhum tipo de sutileza - o filme não exige que o espectador interprete qualquer coisa, perceba qualquer coisa num nível mais profundo. Se comunica apenas no nível superficial das informações práticas. Esse narrador dizendo coisas como "Nossa história começa..." só contribui pro tom didático/educacional da produção.
- Quando o filme tenta sair do jornalismo e explorar a vida pessoal dos personagens, dar uma cara mais de "filme", nada funciona... Os personagens são unidimensionais, não têm personalidades convincentes... Eles soam tão convincentes quanto políticos visitando comunidades carentes, expondo seus lados "humanos" para a mídia, etc.
- Pelo menos é melhor que Real - O Plano por Trás da História, pois além de ser muito mais esclarecedor em relação à história, aqui pelo menos existem personagens inocentes, lutando por uma boa causa (em Real não dava pra simpatizar nem com o protagonista). Acaba sendo quase como uma versão mais simplória de Spotlight: Segredos Revelados - uma trama de sucesso sobre um grupo de investigadores revelando um grande escândalo nacional. Então a narrativa é razoavelmente envolvente, prazerosa, mas sem dúvida não é uma obra que se sustenta sozinha. Esse filme visto num outro país, numa outra época, certamente não terá o mesmo impacto do que visto no Brasil, por alguém familiarizado com os fatos (e que seja contra o PT, preferencialmente). Ele depende de várias informações externas para funcionar.
- Apesar do filme se posicionar como imparcial, apenas uma crítica à corrupção, ele claramente enfatiza mais a corrupção do PT do que dos outros partidos (o que talvez seja justo, considerando os últimos anos). Mas intelectualmente acaba parecendo um filme tímido, politicamente correto, pois ele não ousa criticar o PT enquanto ideologia, sugere que a única coisa que ele tem contra o partido é a corrupção (quando na verdade o filme parece ter outras objeções além dessa). É um pouco como Spotlight também, que ataca a igreja Católica apenas no nível óbvio dos casos de pedofilia, algo que nenhum espectador irá questionar, mas em nenhum momento faz uma crítica mais fundamental aos valores da igreja em si.
- O Ary Fontoura está ótimo como o Lula. Tem o equilíbrio perfeito de deboche, carisma e dissimulação. Marcelo Serrado como Sérgio Moro também foi uma ótima escolha.
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CONCLUSÃO: Fraco como cinema, mas bem sucedido dentro da proposta do filme.
Polícia Federal - A Lei É Para Todos / Brasil / 2017 / Marcelo Antunez
FILMES PARECIDOS: Real - O Plano por Trás da História (2017) / Margin Call - O Dia Antes do Fim (2011)
NOTA: 6.0
O roteiro pode ter tido um viés político, mas acho compreensível do ponto de vista cinematográfico focar mais a corrupção do PT que a de outros partidos. Afinal, os petistas até bem pouco tempo os paladinos anti-corrupção, os grandes idealistas da política brasileira. Isso torna o caso deles mais espantoso que a corrupção de um Maluf ou Renan Calheiros. A trajetória do Lula, José Dirceu e outros graúdos do partido poderia muito bem ser retratada no cinema como uma versão brasileira de "All the Kings'men".
ResponderExcluirPedro.
Ah sim Pedro, mas o filme não diz nada disso.. que o PT era um partido idealista, etc.. não fala nada da história do PT.. pra quem vê de fora, é apenas um filme que investiga a corrupção no Brasil de forma apartidária.. mas na prática percebe-se que não é bem assim.. E como a briga principal é entre PT e PSDB, vc fica se perguntando: será que em algum momento eles vão citar "PSDB" ou "Aécio" no filme? E isso não acontece.. então fica essa sensação: o filme não é de fato apartidário, só anti-corrupção como ele sugere.. é mais anti-PT mesmo.. e finge que corrupção é a única questão em jogo. Não que seja errado denunciar o PT.. só quis questionar essa pseudo-neutralidade q o filme tenta passar.. abs.
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