sábado, 14 de outubro de 2017

Detroit em Rebelião

NOTAS DA SESSÃO:

- Esse tema da violência policial contra os negros é delicado, mas felizmente o filme deixa claro que não irá simplificar a história de maneira falsa e tendenciosa, só pra provar seu argumento. Ele mostra que tanto do lado dos policiais quanto do lado dos negros existiam pessoas boas e más, o que dá mais credibilidade pra discussão (se o filme tivesse sido feito por um ativista desses fanáticos, ele não conseguiria retratar nenhum dos policiais positivamente).

- O filme gasta um bom tempo pra apresentar cada personagem, criar empatia (ou antipatia), fazer a gente entender o caráter de cada um, tanto do lado da polícia quanto do lado dos suspeitos, antes de juntar todo mundo na sequência central do motel, o que torna tudo mais envolvente, como se estivéssemos realmente participando da situação, entendendo o ponto de vista de todos os envolvidos.

- É interessante que o problema todo só ocorre porque existiam indivíduos malignos dos 2 lados. Primeiro o Carl, que sem motivo algum resolveu atirar pela janela contra a polícia. E depois o Krauss, que estava disposto a revidar com mais violência ainda. Se qualquer um dos 2 fosse menos violento, nada teria acontecido... Mas junta um idiota de um lado contra outro idiota do outro, o sangue começa a jorrar.

- SPOILER: Por que ninguém fala pra polícia que o Carl estava com a arma de brinquedo e atirou pela janela? Ele já está morto! Que mal faria agora dizer a verdade? Fica a impressão que eles só estão nesse interrogatório por que querem. É a única coisa um pouco mal explicada no filme.

- As táticas de interrogatório são assustadoras! A situação é muito tensa e bem feita. Um absurdo a atitude dos policiais. Faz a gente pensar até que ponto é correto maltratar civis pra tentar encontrar o inimigo - algo que muitos filmes de guerra discutiram recentemente (mas diria que são 2 casos diferentes; que numa situação de guerra, onde uma nação inteira está sendo ameaçada, é bem mais justificável do que o que está acontecendo aqui).

- Na minha última crítica (First They Killed My Father) eu disse que não gosto de filmes onde os protagonistas apenas sofrem nas mãos dos inimigos, sem ter muito o que fazer. O que torna esse filme melhor, além do fato dos personagens serem muito mais interessantes e terem personalidade, é que há tensão narrativa: há a possibilidade de fuga, as vítimas muitas vezes tentam reagir, nós queremos saber se eles sairão vivos ou não, se contarão a verdade, se o policial será julgado, etc. E a caracterização do mal é tão boa que acaba gerando certo fascínio, assim como uma Nurse Ratched de Um Estranho no Ninho. O policial Krauss é um dos vilões mais memoráveis dos últimos tempos.

- Incrível toda essa sequência no motel. É quase um mini-filme dentro do filme. Nem sei quanto tempo durou, mas parece que ficamos mais de 1 hora ali sem que a energia diminuísse em nenhum momento.

- Por que o John Boyega mente pra polícia que só chegou no motel depois de tudo? Irrita o fato de que as pessoas inocentes do filme não agem corretamente. Acabam contribuindo pra confusão. Mas pelo menos não vira um daqueles filmes onde os 2 lados do conflito são imorais, e ficamos apenas vendo um monte de gente odiosa brigando entre si. Aqui fica bem claro que Krauss é o grande vilão... As vítimas podem não ser perfeitas, mas são inocentes naquilo que estão sendo acusadas.

- Ótimo o momento em que o Krauss pede pro outro policial mentir no depoimento: "Algo que levou 1 minuto pra acontecer não pode definir sua vida inteira". É exatamente assim que um criminoso pensaria. São por esses detalhes que o personagem se torna convincente e assustador.

- A parte do tribunal também é bem tensa, pois entendemos como os policiais podem sair impunes, apesar de todos os absurdos cometidos. O filme obviamente tem essa intenção de alertar a população pra uma questão social (algo que não costumo elogiar aqui), mas esse filme consegue fazer isso através de uma história bem contada, com bons personagens, suspense, então se torna algo válido - ele não coloca a mensagem social acima da experiência cinematográfica; mas junta as 2 coisas de forma bem feita.

- SPOILER: Até o "racismo inverso" do Larry no final é compreensível. O público da Motown era predominantemente branco, a música representava uma quebra de barreiras raciais, passava um senso de união no país... Dá pra entender por que pro Larry, alguém que acabou de viver uma experiência tão horrível envolvendo racismo, não iria suportar fazer parte dessa gravadora.

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CONCLUSÃO: Filme forte que aborda um tema social complicado, mas o faz de forma inteligente, equilibrada, e sem desprezar a experiência narrativa da plateia.

Detroit / EUA / 2017 / Kathryn Bigelow

FILMES PARECIDOS: Selma: Uma Luta Pela Igualdade (2014) / A Hora Mais Escura (2012) / Dia de Treinamento (2001)

NOTA: 8.0

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