- O filme escolheu essa abordagem de mostrar os horrores do comunismo pelos olhos de uma criança, porém ele não chega a construir uma narrativa interessante do ponto de vista individual da menina (como Spielberg faz em Império do Sol, por exemplo, que é satisfatório apenas como o drama de um garoto, independentemente do conteúdo político). Aqui, dá a impressão que o propósito da Angelina Jolie era puramente político, mas que ela não teve coragem de fazer um filme mais complexo sobre o comunismo, discutindo o tema de forma aberta. Então escolheu esse ponto de vista da menina, assim ela consegue condenar o regime indiretamente, sem ter que dizer nada de maneira mais explícita intelectualmente (conservadores ou libertários nunca saem totalmente do armário em Hollywood).
- Visualmente o filme é bem bonito. Não é uma fotografia muito narrativa / cinematográfica. Mas esteticamente agrada.
- Revoltante os comunistas tirando os bens pessoais das pessoas, forçando elas a sairem da civilização pra morarem no meio do mato, os discursos contra a propriedade privada, contra o individualismo, a proibição de remédios importados, etc. É tão raro no cinema alguém criticar um regime de esquerda (principalmente um "insider" de Hollywood) que o filme merece certo crédito apenas por isso.
- Infelizmente Angelina optou por retratar tudo de maneira meio Naturalista, o que se você for pensar acaba sendo um pouco contraditório, pois Naturalismo é o equivalente à esquerda artisticamente. A garotinha é passiva na história, fica apenas sendo levada de um lugar para o outro. Não tem objetivos, planos, etc. Serve apenas como uma desculpa pro filme nos levar a esse ambiente, e pelas entrelinhas revelar pro espectador os horrores que aconteceram no Camboja.
- Como não há uma boa trama, personagens ativos, a história é um pouco monótona. Apenas uma cena após a outra onde a garotinha testemunha algo horrível sendo cometido pelos comunistas. É um filme sobre pessoas sofrendo nas mãos dos inimigos, sem ter o que fazer, o que cria uma narrativa ruim. Não há ideias cinematográficas, criatividade... O filme poderia muito bem ter sido um documentário.
- O que me faz simpatizar pela menina é que ela é inocente e é retratada de maneira muito digna (diferente do protagonista de Beasts of No Nation, por exemplo, que é corrompido pelo sistema). Em geral ela está com uma atitude serena, mantendo o controle. Se fosse uma menina desesperada, sofrendo do começo ao fim, daí seria uma ênfase excessiva na tragédia, um elogio à vitimização que tornaria o filme desagradável.
- SPOILER: Alguns momentos que poderiam ter sido dramáticos são feitos de maneira bem descuidada. Por exemplo: no começo, os comunistas pegam as roupas da família, inclusive um vestidinho da protagonista. Só depois, em flashback, ficamos sabendo que a menina tinha certo apego por aquele vestido. Se o filme quisesse ilustrar direito o quão maligna é essa ideia de igualitarismo, ele poderia ter preparado isso muito melhor. Mostrado antes algum objeto que fosse especial / insubstituível pra menina... E daí criado um momento dramático na hora que os comunistas tirassem isso dela. Outro momento feito de maneira bem preguiçosa é o reencontro com os irmãos, depois que os 3 haviam sido separados por um tempo. Eu achava que eles nunca mais iriam se ver. Esse reencontro deveria ter sido um momento de enorme emoção (imagine A Cor Púrpura), mas tudo acontece de maneira tão rápida e confusa que de primeira eu achei até que fosse um sonho.
- Fortes as cenas de violência (o campo minado, etc). O filme me emocionou em alguns momentos, mas isso por saber que é uma história verídica, e também por simpatizar pela personagem - não porque a história em si é particularmente bem contada.
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CONCLUSÃO: Interessante por ser um raro filme sobre o comunismo, mas acaba não sendo muito satisfatório como discussão política, nem como a jornada pessoal de uma garota. É apenas um retrato de pessoas sofrendo, com o intuito de denunciar o Khmer Vermelho. O filme tem um propósito mais jornalístico / social do que artístico.
First They Killed My Father: A Daughter of Cambodia Remembers / Camboja, EUA / 2017 / Angelina Jolie
FILMES PARECIDOS: Beasts of No Nation (2015) / Indomável Sonhadora (2012)
NOTA: 6.0
Tem ainda Colheita Amarga e mais um sobre o Stalin que sairam esse ano. Fora o filme da Lava Jato, o do Real e o do Olavo de Carvalho no brasil. então é um bom começo.
ResponderExcluirO que falta é um cineasta desses da "A-list" fazerem algo do tipo né.. a Angelina ajuda pois é uma "insider" em Hollywood, uma figura conhecida.. mas ainda não chega a ter um alcance como um A Lista de Schindler, por exemplo..
ResponderExcluirVi o filme e achei a ambientação magnífica. Ainda mais para quem já conhecia a história do Khmer Vermelho.
ResponderExcluirSim Sérgio.. como uma ilustração de como deveria ser viver sob um regime desses.. achei o filme bem feito tb (embora eu não saiba dos detalhes históricos, apenas achei coerente)... abs!
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