domingo, 28 de janeiro de 2018

O Artista do Desastre

NOTAS DA SESSÃO:

- Ótima a cena do Tommy (James Franco) na aula de teatro. Não só é uma apresentação hilária do personagem, como já serve pra unir os protagonistas e estabelecer a relação entre os 2 (é fácil entender o que atrai Tommy a Greg e vice-versa após isso).

- Legal, não sabia que a frase famosa do The Room ("You're tearing me apart, Lisa!") era inspirada em Juventude Transviada!

- É fascinante essa capacidade de Tommy de manter sua "autoestima" e a fé nos seus sonhos independente da realidade, dos fatos externos. Ele representa um caso tão extremo e único que o filme acaba se tornando referência imediata pra todo tipo de comportamento que caia dentro dessa categoria.

- Hilária a cena da mãe do Greg indo até o carro pra conhecer o Tommy. As participações especiais são ótimas surpresas ao longo do filme (Megan Mullally, Sharon Stone, etc).

- Não havia ninguém mais perfeito que James Franco pra interpretar Tommy Wiseau. A risada, o sotaque... Certamente merecia a indicação ao Oscar. Dave Franco está adorável também.

- O roteiro é um acerto. Já começa com a sacada ótima de contar a história do The Room, mas além disso, ele sabe pegar os aspectos mais interessantes da história e transformá-los em cenas hilárias, seguindo uma sequência lógica de acontecimentos cada vez mais absurdos, até o lançamento do filme (as audições, a compra dos equipamentos, a primeira vez de Tommy em frente às câmeras, a filmagem da cena de sexo, etc). A história não tem 1 trecho chato do começo ao fim. É tipo uma mistura de Primavera para Hitler com Toni Erdmann.

- O filme não torna muito explícita a psicologia de Tommy (o que é uma boa ideia), mas há todo o subtexto entre ele e o Greg, a relação de ciúme, possessão, que tornam o filme mais rico do que uma simples comédia de 1 piada só. A cena em que o Greg vai se despedir do Tommy (quando ele decide ir morar com a namorada) é sutilmente genial: Tommy está no banheiro pintando o cabelo, se admirando no espelho, e mal olha na cara de Greg enquanto ele se despede. É um momento que captura todo o drama de Tommy - a autoestima cega, o foco exagerado em suas supostas virtudes (pitando o cabelo pra parecer mais jovem, se gabando de músculos que nem tem) como forma de bloquear psicologicamente a rejeição que está vindo do mundo externo, das outras pessoas.

- Ótimo ele forçar o Greg a escolher entre o filme e o papel na série de TV (o problema de ter que fazer a barba, etc). É um conflito perfeitamente lógico, bem costurado na trama, que revela personagem, avança a história, etc.

- SPOILER: Muito boa toda sequência final na estreia do filme. As reações iniciais da plateia, a situação desesperadora do Greg, a parte da cena de sexo - até o "sucesso" inesperado do filme como comédia. A homenagem do Tommy ao Greg após a exibição é um momento lindo.

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CONCLUSÃO: Original, hilário, inteligente, tocante - um acerto.

The Disaster Artist / EUA / 2017 / James Franco

FILMES PARECIDOS: Toni Erdmann (2016) / Dirigindo no Escuro (2002) / Os Picaretas (1999) / Ed Wood (1994) / Primavera para Hitler (1967)

NOTA: 9.0

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

The Post: A Guerra Secreta

Spielberg continua tentando provar que ele é um cineasta "sério", investindo nesse seu lado mais burocrático, político, de emoções contidas, que na minha opinião não é onde ele brilha mais. Os personagens parecem emocionalmente distantes na maior parte do filme, e a história não chega a ser tão envolvente quanto a de outros dramas de jornalismo como Spotlight: Segredos Revelados. Um dos motivos é o fato de não ficar muito claro o quão bombásticas são as informações que os personagens têm nas mãos, afinal a "bomba" principal (a informação de que o governo americano estava mentindo sobre a guerra do Vietnã) já tinha sido jogada pelo New York Times, então o Washington Post publicar mais páginas do mesmo relatório fica parecendo pra plateia apenas "mais do mesmo", e não algo novo, inesperado, que realmente mudaria o rumo da história, chocaria o mundo, etc.

Minha impressão é que Spielberg fez o filme mais por causa da mensagem pró-liberdade de imprensa (e indiretamente anti-Trump) e pró-feminismo que a história transmite, numa tentativa de se conectar com os "liberals" que dominam Hollywood. O problema é que ele é equilibrado e íntegro demais pra agradar o público moderno nesses termos. Ele defende feminismo e liberdade de expressão só que da maneira sensata, racional, sendo respeitoso em relação aos homens, aos valores americanos... Assim ele nunca vai conquistar o público niilista, raivoso, anti-americano, da mesma forma que um Guillermo del Toro consegue com A Forma da Água, por exemplo, então a estratégia parece frustrada.

Mas apesar desses poréns, volto a dizer o mesmo que disse sobre Ponte dos Espiões: a história é tão bem contada, a produção tão rica, as atuações tão incríveis, a música tão boa, que ainda assim ele se destaca como um dos bons filmes do ano. E apesar do início lento, a história acaba ganhando certa força após a primeira hora, particularmente após 2 cenas (o diálogo entre o Tom Hanks e a esposa, e depois o diálogo entre a Meryl Streep e a filha no quarto das crianças) que nos fazem entender melhor quais os riscos da decisão pra personagem da Meryl num nível mais emocional. A meia hora final é bastante satisfatória e a cena final com Nixon faz a gente apenas lamentar o fato do resto do filme não ter tido mais dessa mesma energia.

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The Post / Reino Unido, EUA / 2017 / Steven Spielberg

FILMES PARECIDOS: Spotlight: Segredos Revelados (2015) / Ponte dos Espiões (2015) / O Voo (2012)

NOTA: 7.5

domingo, 21 de janeiro de 2018

A Forma da Água

Uma das coisas mais tolas e mal intencionadas que eu vi no cinema nos últimos anos. Se o filme fosse de fato uma fantasia do tipo E.T. ("protagonista cria amizade com criatura mágica e precisa salvá-la de homens maus") onde o propósito do filme fosse nos proporcionar escapismo, diversão, fazer a gente embarcar na história, ele já seria ruim o bastante, pois a criatura não é nada gostável, a trama é um insulto à inteligência da plateia (quando algum desses críticos que estão aclamando o filme zombarem de blockbusters hollywoodianos por terem furos de roteiro, ações forçadas, pergunte a ele: por que então A Forma da Água tem permissão pra ter isso tudo?).

(Só pra dar alguns exemplos, como a Sally Hawkins planejava soltar a criatura das correntes, caso o russo não lhe desse as chaves no último minuto? E como ela sabia que iria chover em tais datas? E por que ela precisaria soltar a criatura nas docas, pra daí ela nadar pro mar - não era mais fácil soltar direto no mar ali do lado?)

Claro, a resposta é que A Forma da Água não está querendo fazer a gente acreditar na história, torcer pelo romance, acreditar que uma faxineira conseguiria de fato resgatar essa criatura de um laboratório ultra-secreto, etc. Tudo vale, pois é pra ser "simbólico", o filme no fundo é apenas um discurso político, um ataque à América e a tudo o que ela representa (é fascinante que hoje em dia um cineasta estrangeiro como Guillermo del Toro possa ir para os EUA, insultar o país, e receber dos próprios americanos as maiores honras por isso).

É como se a mensagem política liberasse o filme da necessidade de ter qualquer lógica ou qualidade narrativa real, pois ele está sendo "culturalmente relevante".

Desde o início fica claro que o homem anfíbio representa as minorias, os "oprimidos", e que o vilão interpretado por Michael Shannon representa os EUA, o American Way of Life, que logicamente é branco, racista, machista, estuprador, assassino, etc. Parte do que torna o vilão detestável, curiosamente, é o fato dele ler livros motivacionais (o filme pelo menos é "genial" o bastante pra entender que o que ele odeia no fundo não é a América, e sim os ideais que ela representa — ou costumava representar).

Todo o filme é motivado por ódio, pelo desejo de demonizar o inimigo, e não o de retratar o que seria o correto, o ideal, inspirar mudanças, construir algo positivo. Há uma série de cenas aleatórias totalmente desconectadas da trama principal, que deixam bem evidente essa estratégia. Por exemplo, qual a importância de mostrar o vilão saindo pra comprar um Cadillac novo? O que o carro novo do vilão tem a ver com a história de uma faxineira se envolvendo com um homem anfíbio? Absolutamente nada. É apenas pra passar a noção que dinheiro e carros luxuosos são coisas que pessoas más valorizam (e dar o "prazer" pro espectador mais tarde de ver esse Cadillac sendo destruído). Ou então a cena no bar, onde o Richard Jenkins dá em cima do barman, que logo depois tem uma atitude homofóbica, e também racista ao expulsar um casal de negros do bar? Qual a relevância da vida pessoal do vizinho da protagonista pra história? Ou do caráter do barman que atende o vizinho da protagonista? Absolutamente nenhuma. Mas a cena é inserida de qualquer forma, pois dá ao filme a oportunidade de fazer mais um pequeno discurso político. O filme é apenas uma série de discursos como esses, disfarçados de fantasia escapista.

Toda a arte do roteiro e da narrativa é jogada no lixo, pois o cineasta percebeu que é muito mais simples apelar pro "nós vs. eles", fisgar o espectador através de instintos primitivos.

Já falei muito aqui sobre o que penso de Simbolismo, de Anti-Idealismo, de filmes que colocam a mensagem ideológica acima da narrativa, que atacam valores positivos sem o contexto apropriado, então acho que não preciso me alongar mais pra justificar minha nota.

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The Shape of Water / EUA, Canadá, 2017 / Guillermo del Toro

FILMES PARECIDOS: Mãe! (2017) / Okja (2017) / Expresso do Amanhã (2013) / Distrito 9 (2009) / O Nevoeiro (2007)

NOTA: 0.0

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Me Chame pelo Seu Nome

NOTAS DA SESSÃO:

- As primeiras cenas entre Oliver e Elio são artificiais. Eles não se comportam como 2 estranhos se comportariam socialmente num primeiro contato. Não há naturalidade, já existe um "clima" estranho no ar desde o início. É como em filme pornô, onde o cineasta precisa de uma desculpa esfarrapada pro entregador de pizza entrar no apartamento, tirar a camisa... e força atitudes totalmente falsas nos personagens.

- Eles mal trocaram 2 palavras e já saem de bicicleta pela cidade, vão tomar uns drinks, etc. A amizade é mal construída. E é mal explicada também a relação entre o Oliver e a família do Elio - o que exatamente ele foi fazer na casa por tanto tempo, etc.

- Os personagens são mostrados de maneira superficial, externa... Nós não estamos acompanhando a história nem pelo ponto de vista de Elio, nem pelo de Oliver. Não sabemos o que nenhum dos dois está pensando, sentindo, que conflitos eles têm, etc. Vemos tudo de fora, sem acesso ao mundo interno de cada um. Em vez de contar uma história de maneira universal, com uma narrativa envolvente, criando personagens com os quais a gente possa se identificar, ele prende a atenção só de quem está no cinema pra ver os 2 indo pra cama. Em vez de uma história, o que nós temos aqui são preliminares: "Oh, Oliver tirou a camisa", "Oh, agora ele foi ao banheiro e deixou a porta entreaberta", "Oh, Oliver fez massagem no Elio", "Elio quase foi pego se masturbando", "Agora eles trocaram de shorts um na frente do outro", etc. É a mentalidade de um filme pornô, não de cinema.

- Soa falsa toda essa valorização da arte e da cultura que o filme tenta passar, mostrando que os personagens são cultos, usam palavras sofisticadas, sabem sobre história da arte, etc. Quando no fundo parece que o filme foi feito por alguém que não entende de nada disso, que se interessa por cultura apenas na medida em que isso serve como uma espécie de afrodisíaco (da mesma forma que em 50 Tons de Cinza, era parte do fetiche o fato do cara ser um bilionário). Os personagens estão sempre tocando piano, lendo livros - mas sem camisa, com um shortinho quase mostrando as partes íntimas, etc. Essa falsa erudição já é sinalizada nos créditos iniciais, que é uma montagem com diversas fotos de esculturas antigas - e a única coisa em comum entre essas esculturas é o fato delas todas serem de homens nus. É como se isso servisse como uma máscara pra gente poder ir ao cinema ver sacanagem, sob o pretexto de estarmos consumindo algo mais nobre.

- Faltam conflitos pro romance. O ambiente não parece ser tão opressor e nem os personagens tão reprimidos sexualmente pra justificar esse receio que eles têm de admitir que são gays. E um está claramente a fim do outro. Não há nenhum medo de rejeição, de algum deles acabar ficando com uma mulher, do romance não rolar, deles terem valores e características incompatíveis, etc.

- 1 hora e meia de filme e ainda estamos nas "preliminares".

- Estranha essa ênfase desnecessária no fato deles serem judeus. Todos sabem que Hollywood é dominada por judeus, e que existem várias teorias da conspiração sobre círculos de pedofilia na indústria, assim como existe na Igreja Católica. E agora sai um filme romantizando a ideia de garotos menores de idade se envolvendo sexualmente com caras mais velhos... É no mínimo polêmico.

- Particularmente acho meio estranho isso deles dizerem "me chame pelo seu nome"... Passa uma ideia narcisista, como se a pessoa quisesse se imaginar transando com ela mesma.

- Nem acho que o filme seja tão sexy assim. O Armie Hammer é tão doce, educado, social... É quase incômodo vê-lo tendo atitudes sexuais mais provocativas (a cena pavorosa do pêssego, etc).

- Os pais do Elio não deveriam achar natural ele ir viajar com o Oliver pra Bérgamo. Os 2 não têm uma amizade tão convincente assim pra quem está de fora. Qualquer um sacaria que eles tão se pegando.

- A relação continua rasa, vista de fora. Em Bérgamo, a gente vê os dois gargalhando pelas ruas, dançando... Mas não sabemos o que gerou a gargalhada, o que torna os 2 tão perfeitos um pro outro. Fica apenas uma impressão vaga e superficial de que eles se dão bem.

- Oliver beija Elio logo após ele ter vomitado - seria isso uma "prova de amor"?

- Pra não falar só mal do filme, pelo menos ele mostra uma relação positiva, há uma tentativa de glamourizar o casal, criar um romance ideal, em vez de algo mais deprimente e realista como Azul É a Cor Mais Quente, por exemplo. Mas eu poderia dizer o mesmo de 50 Tons e isso não tornaria o filme excelente.

- SPOILER: Um absurdo o pai de Elio aceitar a relação dele com Oliver sem nenhuma resistência, e ainda dizer que inveja o que eles tiveram. No mínimo o pai se incomodaria com o fato do amigo ter se hospedado em sua casa e "desvirginado" seu filho adolescente por suas costas. Essa cena é apenas mais uma realização de uma fantasia, fora de contexto, sem realismo - uma tentativa de comover o público gay que nunca teve um pai compreensivo, etc. Muito do filme cai no que chamo de Emoções Irracionais - ele espera que o espectador projete suas próprias experiências na tela, e se comova não com a história em si, mas com seus próprios devaneios pessoais.

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CONCLUSÃO: Simpatizo pela intenção de criar um romance idealizado entre 2 pessoas atraentes, num lugar lindo, mas o filme é imaturo e raso demais pra tornar a relação crível e emocionante.

Call Me by Your Name / Itália, França, Brasil, EUA / 2017 / Luca Guadagnino

FILMES PARECIDOS: Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016) / Carol (2015)

NOTA: 4.0

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Por Sua Mais Grave Culpa


Um dos textos mais surpreendentes da Ayn Rand, publicado pouco depois da morte de Marilyn Monroe. Sempre lembro dele quando vejo fenômenos parecidos na cultura atual, envolvendo figuras que reunem algumas dessas qualidades que Rand aponta em Marilyn, que tendem a despertar reações calorosas nas pessoas.



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Por Sua Mais Grave Culpa (Ayn Rand, 1962)

A morte de Marilyn Monroe chocou as pessoas com um impacto diferente de suas reações à morte de qualquer outra estrela do cinema ou figura pública. No mundo inteiro, as pessoas tiveram um senso peculiar de envolvimento pessoal e de protesto, como um grito universal de "Ah, não!".

Elas sentiram que sua morte tinha um significado especial, quase como um alerta para algo que elas não conseguiam decifrar - e elas sentiram uma apreensão sem nome, o senso de que algo terrivelmente errado estava envolvido.

Elas estavam certas em sentir isso.


Marilyn Monroe na tela era a imagem de uma pura e inocente alegria de viver. Ela projetava o senso de uma pessoa nascida e criada numa utopia radiante, intocada por sofrimento, incapaz de conceber feiúra e maldade, encarando a vida com a confiança, a benevolência e a ostentação alegre de uma criança ou de um animal de estimação que fica feliz em exibir sua própria atratividade como se fosse o melhor presente que pudesse oferecer ao mundo - e que espera ser admirado por isso, não atacado.

Na vida real, o provável suicídio de Marilyn Monroe (ou pior: uma morte que pode ter sido acidental, o que sugere que pra ela a diferença não importava) foi uma declaração de que nós vivemos em um mundo que tornou impossível que o tipo de espírito dela, e o tipo de coisa que ela representava, possa sobreviver.

Se já houve uma vítima da sociedade, Marilyn Monroe foi essa vítima - de uma sociedade que se diz dedicada a ajudar aqueles que sofrem, mas que mata os que são alegres. Nenhum dos delinquentes juvenis que costumam receber a atenção de humanitários poderia ter tido uma infância tão sórdida e aterrorizante quanto a de Marilyn Monroe.

Sobreviver a essa infância preservando o tipo de espírito que ela projetava nas telas - o senso de vida radiante e benevolente que não pode ser fingido - foi uma conquista psicológica quase inimaginável que exigiu o tipo mais elevado de heroísmo. Quaisquer cicatrizes que o passado tivesse lhe deixado eram insignificantes em comparação.

Ela preservou sua visão de mundo através de uma luta terrível, batalhando seu caminho até o topo. O que a destruiu foi a descoberta, lá no topo, de uma maldade tão sórdida quanto aquela que ela tinha deixado para trás - pior, talvez, por ser incompreensível. Ela esperava encontrar a luz do sol; e ela encontrou, no lugar, um pântano infinito de malícia.

Era uma malícia de um tipo muito especial. Se você quiser ver as tentativas dela de tentar compreendê-la, leia o artigo magnífico na edição de 17 de Agosto de 1962 da revista Life. Não é de fato um artigo, mas uma transcrição das palavras dela - e o documento mais tragicamente revelador publicado em muitos anos. Era um grito por socorro, que veio tarde demais para ser atendido.

"Quando você é famoso, você se depara com a natureza humana de uma maneira meio crua," ela disse. "Ela provoca inveja, a fama. As pessoas te encontram e sentem: quem ela pensa que é, Marilyn Monroe? Elas acham que a fama te dá algum tipo de permissão de chegar até você e lhe dizer qualquer coisa, sabe, de qualquer natureza - e que isso não vai ferir seus sentimentos - como se tivesse atingindo só sua roupa... Eu não entendo porque as pessoas não são um pouco mais generosas umas com as outras. Eu não gosto de dizer isso, mas eu temo que exista muita inveja nessa indústria."

"Inveja" foi o único nome que ela pôde dar pra coisa monstruosa que ela encarava, mas era algo muito pior que inveja: era um profundo ódio da vida, do sucesso e de todos os valores humanos, sentido por um tipo de ser medíocre, do tipo que sente prazer em ouvir sobre o fracasso de um estranho. Era o "ódio do bom por ser bom" - ódio da habilidade, da beleza, da honestidade, da seriedade, do sucesso e, acima de tudo, da alegria humana.

Leia o artigo da Life pra entender como esse ódio funcionava e o que ele fez com ela:

Uma criança cheia de desejo, e que foi repreendida por isso - "Às vezes as famílias adotivas ficavam preocupadas pois eu ria muito alto e de forma entusiasmada; acho que elas pensavam que eu era histérica."

Uma estrela de um sucesso espetacular, cujos empregadores viviam repetindo: "Lembre-se, você não é uma estrela," num esforço determinado, aparentemente, de não deixá-la descobrir sua própria importância.

Uma atriz brilhantemente talentosa, que ouvia de supostas autoridades, de Hollywood, e da imprensa, que ela não sabia atuar.

Uma atriz dedicada à sua arte com seriedade e paixão - "Quando eu tinha 5 anos - acho que foi aí que eu comecei a querer ser atriz - eu adorava brincar. Eu não gostava do mundo ao meu redor pois ele era meio sombrio - mas eu adorava brincar de casinha, e era como se você pudesse criar seus próprios limites" - e que caminhou pelo inferno para criar seus próprios limites, para oferecer às pessoas o universo luminoso que ela enxergava - "É quase como ter alguns segredos que você só divide com o resto do mundo por uns instantes, enquanto você está atuando" - mas que foi ridicularizada por sua vontade de interpretar papéis sérios.

Uma mulher - a única - que conseguia projetar a sensualidade inocente e incandescente de um ser de algum outro planeta não corrompido por culpa - que se viu rotulada e criticada como um símbolo vulgar de obscenidade - e que apesar disso ainda teve a coragem de declarar: "Nós todos nascemos criaturas sexuais, graças a Deus, mas é uma pena que tantas pessoas desprezam e destroem esse dom natural."

Uma criança feliz que estava oferecendo suas conquistas para o mundo, com o orgulho de uma grandeza autêntica, ou como um gatinho colocando aos seus pés algo que ele caçou - e que teve como resposta tentativas empenhadas em negar, degradar, ridicularizar, insultar, destruir suas conquistas - que não conseguia entender que ela estava sendo punida pelo que ela tinha de melhor, não de pior - que só conseguia sentir, em puro terror, que ela estava diante de um mal indescritível.

Por quanto tempo você acha que um ser humano aguentaria isso?

O ódio por valores sempre existiu em algumas pessoas, em qualquer época ou cultura. Mas há 100 anos atrás, esperava-se que você escondesse isso. Hoje em dia, ele está por todos os lados; é o estilo e a moda do nosso século.

Onde um espírito submergindo poderia achar um alívio disso?

A maldade de uma atmosfera cultural é criada por todos aqueles que compartilham dela. Qualquer um que já tenha sentido ressentimento contra o bom por ser bom - e dado voz a esse ressentimento - é o assassino de Marilyn Monroe.

domingo, 14 de janeiro de 2018

O Touro Ferdinando

Não fiz anotações nem vou fazer uma crítica mais detalhada, pois vi o filme no cinema com meus sobrinhos (de 1 e 3 anos), então meu foco ali não era exatamente analisar o filme. Mas foi provavelmente a melhor animação que vi nos últimos 5 anos ou mais, então queria pelo menos deixar esse registro aqui.

De fato, como apontaram aqui nos comentários recentemente, o filme é muito mais "disney" do que os filmes atuais da Disney (Ferdinando é da Blue Sky Studios / Fox Animation). E apesar das caretas que costumam caracterizar os "heróis envergonhados" que eu tanto detesto (há um toque disso aqui), o personagem Ferdinando me conquistou pois no fim é um personagem bondoso, íntegro, que tem uma força incomum (tanto de caráter quanto física), e apesar disso se recusa a usá-la pra promover conflito e violência. O filme consegue fazer a gente torcer pelos animais e até colocar um frigorífico como vilão, mas sem em nenhum momento adotar uma postura anti-capitalista mal intencionada como Okja, por exemplo. O visual é bonito, as canções são boas, não há piadas de mau gosto nem dancinhas constrangedoras no final... Pra mim foi um pequeno sinal de vida inteligente na indústria de entretenimento infantil, que na minha opinião é uma das coisas mais decadentes da cultura atual.

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Ferdinand / EUA / 2017 / Carlos Saldanha

NOTA: 7.5

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

O Destino de uma Nação

NOTAS DA SESSÃO:

- A estética dos filmes do Joe Wright é sempre tão deslumbrante que aqui chega a causar estranhamento por conta do tema mais burocrático da história (versus romances com a Keira Knightley, etc). A luz, os movimentos de câmera, os enquadramentos, a edição quando a secretária datilografa os discursos, é tudo tão perfeito que dá a impressão que a qualquer momento os políticos vão começar a cantar e a dançar (Joe, por favor, dirija um musical!).

- A cena de apresentação do Winston Churchill é muito boa (o primeiro encontro dele com a secretária). O filme encontra o tom certo ao mostrar o temperamento difícil dele mas ainda o fazendo parecer humano e carismático. A performance de Gary Oldman é impecável (o elenco coadjuvante também é um acerto; Kristin Scott Thomas, Lily James, etc).

- Diálogos inteligentes e divertidos.

- Em geral acho biografias um pouco chatas, pois quase sempre a prioridade do filme é a de informar/educar o espectador a respeito de certos eventos históricos, o que costuma limitar o cineasta e tornar a experiência morna emocionalmente. É mais ou menos o caso aqui, embora seja uma história bem contada, que foca no momento mais crucial da vida do personagem, em vez de tentar retratar sua vida inteira, "ascensão e queda", o que tende a ser mais tedioso e mal intencionado (outro alívio é que o filme é respeitoso em relação às virtudes de Churchill, e não algo feito pra manchar sua imagem como é comum em biografias).

- Bom o primeiro discurso dele pro rádio (e os detalhes curiosos de direção, como a lâmpada tornando o quarto inteiro vermelho, ou a transição onde o solo bombardeado se transforma na face de um soldado morto).

- Aos poucos a situação da guerra vai se complicando e colocando mais responsabilidade em cima de Churchill, o que torna a história mais "quente". Muito legal ele tomando decisões importantes como a de usar barcos civis pra resgatar os soldados em Dunkirk, ou o telefonema que ele faz pro Roosevelt pra pedir ajuda, etc. E além desse conflito externo envolvendo a guerra, há o conflito interno entre Churchill e as pessoas que querem tirá-lo do cargo de primeiro ministro, criando armadilhas, etc.

- A dúvida de Churchill entre assinar um acordo de paz ou não com Hitler também gera ótimos momentos e uma discussão moral interessante pra parte final do filme. Não é uma escolha óbvia, e o futuro do país (e da carreira dele) parece depender dessa única decisão. A maneira como ele vai se convencendo de que não deve se render é bastante satisfatória (a conversa com o rei no quarto e depois a cena incrível no metrô).

- O final é apenas Gary Oldman brilhando e fazendo um discurso incrível após o outro. A cena dos lenços no final é uma maneira linda de transmitir visualmente o triunfo do personagem (o simbolismo funciona pois no começo o lenço foi bem estabelecido com um símbolo de aprovação/rejeição).

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CONCLUSÃO: Um pouco familiar e convencional, mas uma história inspiradora, incrivelmente bem filmada e com uma atuação impecável de Gary Oldman.

Darkest Hour / Reino Unido / 2017 / Joe Wright

FILMES PARECIDOS: Snowden: Herói ou Traidor (2016) / O Jogo da Imitação (2014) / Lincoln (2012) / O Discurso do Rei (2010) / Frost/Nixon (2008)

NOTA: 7.5

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Star Wars: Os Últimos Jedi (anotações)

Me pediram pra postar as anotações do novo Star Wars que eu não tinha postado originalmente, então aí vai! (Revendo tudo acabei abaixando um pouco a nota.)

Crítica original: Star Wars: Os Últimos Jedi

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NOTAS DA SESSÃO:

- A sequência inicial é meio fraca. É uma batalha longa e épica no espaço com a intensidade de um fim de filme (aquela oriental chutando a escada pro controle remoto cair) mas ainda não temos envolvimento algum com nada.

- Alguns toques de humor são inapropriados: Poe tirando onda com o General Hux, fingindo que a ligação está ruim - isso diminui toda a seriedade do conflito.

- Finn continua não convencendo nada como alívio cômico (ele surgindo com aquela roupa vazando água, etc).

- Anti-Idealismo: Na primeira cena do Luke Skywalker, ele recebe o sabre de luz de Rey e subitamente o joga pra trás como se fosse lixo. A atitude do filme já fica clara: heróis são coisa do passado, nada mais é sagrado, nem o sabre, nem Luke, nem os Jedi, nem Star Wars.

- Péssimo o tom sarcástico do novo Luke - a piada estilo sitcom que ele faz zombando da cidade natal de Rey, etc.

- Bizarra a sequência do Luke bebendo o leite verde dos animais, depois pescando com aquela lança nada prática de 30 metros de altura. Destoa do universo de Star Wars.

- Há aquela primeira batalha épica no espaço, daí os rebeldes conseguem fugir, mas daí eles são rastreados e encontrados de novo, daí começa mais uma batalha épica chata.

- SPOILER: Qual a necessidade de quase matar a Leia na explosão, sendo que depois ela irá sobreviver? A plateia acha que iriam matá-la agora pra resolver o problema da Carrie Fisher ter morrido, mas isso não acontece e faz tudo parecer confuso e aleatório (e a cena dela voando no espaço tipo Mary Poppins é esquisitíssima).

- Essa personagem oriental Rose é um erro desde o início. Ela dá um choque e quase mata o Finn porque ele queria escapar (o que faz com que ela pareça uma vilã por um momento), mas 15 segundos depois disso, já é pra gente achá-la simpática e inofensiva. Química zero entre esses dois, só serve pro filme mostrar que é "pró-diversidade", tem personagens de todas as etnias, etc.

- A trama é uma chatice. O espectador não tem nenhuma motivação pra querer acompanhar a história até o final. Os heróis só querem fugir, eles não estão indo atrás de algo realmente atraente e excitante (derrotar os vilões e viver uma vida feliz não parece nem uma possibilidade remota aqui). Daí pra escapar, eles precisam primeiro desativar o rastreador dos vilões (convenientemente, apenas 1 nave tem um rastreador). E pra entrar na nave e desligar o rastreador, eles precisam de um "decodificador". A história é uma série de missões chatas e aleatórias indo a lugar nenhum.

- Pra parecer mais "sofisticado" o filme insere esses toques de Subjetivismo que também não combinam em nada com o universo de Star Wars (as alucinações da Rey, a sequência que ela entra naquele buraco embaixo da ilha que parece mais uma viagem de ácido, etc).

- Alerta Vermelho: toda a sequência em que a oriental e o Finn vão até o planeta do cassino é totalmente desnecessária (e nada a ver com Star Wars). É uma etapa insignificante da trama (eles só precisam ir lá pra encontrar o tal do "decodificador mestre", mas no fim saem de lá com Benicio del Toro que é um hacker qualquer). No entanto é um dos trechos mais exóticos e marcantes do filme. Por que? Porque o filme queria uma desculpa qualquer pra fazer um discurso anti-dinheiro, anti-ricos, anti-capitalismo - reforçar os clichês de que ricos só são ricos porque abusam dos pobres, dos animais, lucram investindo em guerra, etc. A sequência em que eles fogem em cima daqueles cavalos é grotesca - eles saem destruindo todo o local em êxtase, passam com a manada por cima de qualquer coisa que remeta a dinheiro: carros de luxo, cantores de ópera, etc. Até o Finn que não tinha nada contra os ricos, depois da sequência diz que valeu a pena destruir aquele lugar, fazer aquelas pessoas sofrerem (depois me perguntam por que eu sou agressivo com os filmes atuais!).

- Chatas essas discussões telepáticas entre a Rey e o Kylo, Rey sempre furiosa, sendo seduzida pelo lado negro da força, etc. É o que falei em Pseudo-sofisticação - além do Subjetivismo, o filme tenta parecer sofisticado apelando pro sombrio, pro moralmente ambíguo, pro anti-idealista, focando em relacionamentos conflituosos. Por exemplo: o flashback em que Luke parece um zumbi maligno indo matar o jovem Kylo na cama ("Jedis também cometem erros, agem irracionalmente"), ou a briga entre Rey e Luke na sequência onde ela o golpeia pelas costas.. A linha entre bem e mal é borrada - pessoas que deveriam estar de lados opostos começam a criar laços, pessoas que deveriam estar do mesmo lado estão sempre brigando (tem também a Laura Dern e o Poe que se tornam inimigos sendo que são do mesmo time).

- Horrível Luke decidir ir queimar o templo e toda a sabedoria Jedi milenar. Ou o Yoda niilista pondo fogo em tudo e dando risada (mesmo que a Rey tenha salvo os livros, a plateia não sabe disso). O filme é todo sobre destruir: destruir o passado, os heróis, etc.

- Alguém que respeita Star Wars jamais faria essa piada visual onde achamos que estamos vendo uma nave gigante pousando, mas de repente percebemos que é apenas um ferro de passar roupa futurista.. Isso seria divertido em Spaceballs, mas aqui é apenas mais um ato de niilismo.

- Não faz muito sentido a Rey desistir da ajuda do Luke, e concluir que agora a única esperança é convencer o Kylo a mudar todo o seu caráter e passar a usar seus poderes Jedi a favor dos rebeldes, contra a Primeira Ordem!

- É quase divertido o momento em que a Leia "ressuscita" e entra pela porta, mas logo em seguida há um anticlímax, pois ela atira no Poe, que é um dos mocinhos, fazendo ela parecer malvada.

- SPOILER: Há um outro momento quase bom no filme, quando o Kylo aparentemente decide ficar do lado da Rey, e mata o Snoke com o sabre de luz. Por uns segundos achamos que ele virou "do bem", mas logo na sequência ele já se desentende com a Rey de novo, e mostra que só matou o Snoke pra tomar o lugar dele (Idealismo Corrompido).

- A história vai ficando cada vez mais burra. No fim toda essa busca pelo decodificador foi em vão? O plano não é mais desligar o rastreador e escapar? E sim se esconder naquele planeta numa base abandonada? O plano já começa furado pois os vilões sabem que eles estão indo pra lá. Será muito pior ficar encurralado num planeta dentro de uma gruta do que estar no espaço, onde eles poderiam pelo menos tentar fugir. Depois tem a cena de auto-sacrifício da Laura Dern, onde ela explode várias naves se jogando em cima delas na velocidade da luz - mas por um milagre, poupando a Rose e o Finn que estavam lá dentro. Daí tem a ideia tola de que a Primeira Ordem precisaria arrastar um canhão gigante no planeta só pra destruir a porta de ferro do esconderijo dos rebeldes (antigamente os vilões de Star Wars explodiam planetas inteiros com um laser sem grandes dificuldades).

- Uma das ideias mais bizarras do filme é essa das naves dos rebeldes começarem a perder altitude sem motivo algum, e daí eles acionarem os "mono-esquis" das naves, e irem meio voando, meio esquiando na superfície do planeta, só porque algum designer achou interessante o conceito da poeira vermelha.

- Eu sempre reclamo das cenas de auto-sacrifício no final dos filmes atuais, mas essa merece um destaque especial por ser um sacrifício duplo (além do da Laura Dern que já foi): Finn tenta se sacrificar pra proteger os rebeldes, mas daí a Rose se sacrifica pra impedi-lo de se sacrificar! E nisso quase sacrifica todos os rebeldes!

- SPOILER: Muito idiota Luke enganar toda a Primeira Ordem com esse truque de virar holograma. O plano de "ganhar tempo" enquanto os rebeldes seguem raposas de cristal (aff) e escapam pela saída dos fundos é uma tolice. Luke nem avisou os rebeldes que ele era um holograma ou que estava fazendo isso pra eles fugirem pelos fundos! Como eles adivinharam o plano? E como ele é um holograma se ele tocou a Leia? O filme só pode ter sido escrito por doentes mentais.

- SPOILER: Além do sacrifício da Laura Dern, do Finn, da Rose, agora nós temos também o auto-sacrifício do Luke Skywalker, que gastou todas as suas forças só pra virar um holograma e acabou desencarnando (é comum hoje em dia essa chatice de termos que pagar um preço alto pelas nossas forças - como a menina de Stranger Things que precisa ter uma hemorragia e ficar exausta sempre que usa seus poderes).

- O filme é tão vazio e caótico que eu nem tinha me ligado que o Poe e a Rey (2 dos protagonistas) não se conheciam até agora!

- SPOILER: Os rebeldes fogem, mas não há um senso de missão cumprida. Eles não realizaram nada de interessante e nem se livraram dos vilões de forma significativa. Começaram o filme tentando fugir, e terminaram tentando fugir.

- A cena final com o menininho pobre olhando pro céu e vendo a nave partir é forçada (até porque o menino estava naquele mundo do cassino, enquanto os heróis estavam em Crait, um planeta diferente, então por que sugerir que ele está vendo a Falcon no céu?). O menino não tem relevância alguma pra história, isso é só pra reforçar a mensagem esquerdista do filme - a noção de que os Jedi agora representam também a luta dos "oprimidos contra os privilegiados", etc.

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Star Wars: Episode VIII - The Last Jedi / EUA / 2017 / Rian Johnson

NOTA: 2.5

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Viva: A Vida é uma Festa

Ando meio repetitivo aqui, mas isso é apenas uma reação ao que tenho visto cada vez mais nos filmes. Se você fosse um crítico gastronômico, e todo dia fosse a um restaurante e encontrasse veneno na comida, você conseguiria discutir seriamente as qualidades e defeitos dos pratos, e ignorar o "detalhe" de que a comida está envenenada? Não! Não daria nem pra saborear o prato direito. Por isso sempre me sinto na obrigação de discutir o "veneno" antes de qualquer outra consideração. E o veneno aqui é o Anti-Idealismo descarado que se tornou mainstream em Hollywood e vem corrompendo todos os grandes símbolos do entretenimento do presente e do passado como Star Wars, Disney (bem, agora a Disney é a dona de Star Wars, então talvez esteja aí o ninho da cobra).

Se você perguntar pra uma criança se ela preferiria ver um filme sobre pessoas vivas, atraentes, com dons especiais, num lugar rico, exuberante, buscando e atingindo seus sonhos - ou um filme sobre pessoas mortas, feias, sem grandes habilidades, num vilarejo humilde do terceiro mundo, aprendendo a abrir mão de seus sonhos, o que você acha que ela escolheria? De acordo com a nova Disney, a criança iria escolher a opção 2 (claro que ela sabe que seria a opção 1, mas a tática agora é ignorar as necessidades da criança e enfiar goela abaixo o que eles acham que será melhor para o "futuro da sociedade").

No começo do filme eu ainda pensei: ok, o protagonista é um típico "herói envergonhado", o filme se passa num lugar tedioso, com personagens desinteressantes, mas pelo menos o menino tem um sonho e deseja sair dali pra fazer algo de grandioso com sua vida (indo contra as tradições da família, o menino Miguel sonha em se tornar músico e seguir os passos de seu ídolo Ernesto de la Cruz, o maior astro da música mexicana). Pensei: de repente será que nem a Moana, que achava a vida na ilha uma chatice e queria partir pra explorar o mar; ou a princesa Merida, que queria se livrar das imposições de sua família e perseguir seus próprios objetivos. Mas em Viva já havia algo de podre no ar desde o início que me impediu de esperar uma narrativa do tipo. E a maior deixa foi o fato do ídolo do menino ser retratado como um cantor canastrão, ridículo (apesar de bem sucedido) o que faz com que o sonho dele se pareça imediatamente com uma tolice infantil, e não algo a ser levado a sério. SPOILER: Minhas suspeitas estavam certas e, até o final da história, Ernesto de la Cruz (a única promessa algo mais Idealista na história), se tornaria o grande vilão do filme; alguém que, em busca de sucesso, foi cruel com sua família, roubou e até matou para conquistar sua fama. Ou seja, no fim, o menino aprende que auto-interesse é mau, que pessoas bem sucedidas são más, que não devemos sonhar alto, e que se sacrificar por sua família e viver uma vida humilde é uma grande virtude. Eu realmente acho difícil de imaginar uma história que subverta de maneira mais completa todos os valores originais de Walt Disney.

Mas independentemente desse "veneno" (que pode não incomodar os menos atentos) o "prato" em si na minha opinião também não é dos melhores.. Toda a história de Miguel ir pro mundo dos mortos só por pegar um violão emprestado é mal elaborada, pouco dramática (se isso sempre acontecesse, o mundo dos mortos estaria lotado de pessoas vivas, não apenas Miguel), o conflito dele não conseguir a bênção da família pra poder voltar é meio tolo, depende de regras aleatórias, e toda a reviravolta final não faz o menor sentido. SPOILER: Se o tataravô do menino na verdade era o músico bonzinho, e não o vilão, porque então haveria uma revolta tão grande na família contra ele, contra a música, ao longo de várias gerações? Só porque a esposa achou que ele abandonou a família? Quando na verdade ele foi assassinado e só por isso desapareceu? E agora que estão todos juntos no mundo dos mortos, a Imelda já não deveria saber que o marido foi assassinado pelo Ernesto? Só foi descobrir agora? Outro problema de roteiro: todo o conflito inicial do filme é o fato da família viva de Miguel não aceitar que ele quer ser músico. Mas no fim, bastou ele pegar o violão e cantar uma canção pra bisavó na frente de todos que a família inteira se comoveu e mudou de ideia. Ou seja, toda a aventura de Miguel no mundo dos mortos foi desnecessária pra mudança de ideia da família e pra solução do problema central; se ele tivesse conseguido cantar logo no começo do filme, o resultado teria sido o mesmo, o que torna toda a história irrelevante.

A animação é bem feita tecnicamente, como é de se esperar, mas pouco marcante (tudo acaba se parecendo com uma cópia de Festa no Céu). Pra tornar o mundo dos mortos algo mais "divertido", a única ideia que os animadores parecem ter tido é a cada 10 segundos fazer uma nova piada visual com o fato dos personagens serem esqueletos e se desmontarem facilmente.

O título nacional Viva: A Vida é uma Festa é tão desconectado da história que parece até uma ironia. Teria sido melhor manter o título original e deixar as piadinhas rolarem soltas no Brasil - elas não estariam muito mais distantes do verdadeiro espírito do filme.

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Coco / EUA / 2017 / Lee Unkrich, Adrian Molina

FILMES PARECIDOS: Meu Malvado Favorito 3 (2017) / Zootopia (2016) / Festa no Céu (2014)

NOTA: 2.0

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Jumanji: Bem-Vindo à Selva

Em geral, achei um entretenimento despretensioso e eficaz. A diferença principal entre o primeiro e este talvez seja o fato do original ser um filme um pouco mais "classy", que se espelhava em produções do Spielberg, focava mais no elemento de fantasia/escapismo, enquanto esse novo já é mais assumidamente uma comédia, dessas que não hesitam em fazer algumas piadas idiotas (como o Jack Black aprendendo a urinar dentro do jogo), têm atores caricatos como Dwayne Johnson nos papéis centrais, etc. Mas depois que superei esse estranhamento inicial, achei que o filme funcionou bem...

A premissa não faz muito sentido: a ideia do jogo Jumanji se transformar em um vídeo game, a maneira forçada como os 4 personagens se juntam no colégio e vão parar no jogo, etc. Mas uma vez lá dentro, a aventura é bem contada, os objetivos e as regras do universo são bem estabelecidas, além da ação física, há uma dimensão pessoal pra história, pois cada personagem aprende algo construtivo ao viver na pele de outra pessoa, etc. Enfim, "sofisticação" não é o forte aqui, mas é uma aventura bem contada, com personagens carismáticos e piadas divertidas o tempo todo. Sem muito a reclamar.



Jumani: Welcome to the Jungle / EUA / 2017 / Jake Kasdan

FILMES PARECIDOS: Power Rangers (2017) / Caça-Fantasmas (2016) / Terremoto: A Falha de San Andreas (2015) / Viagem ao Centro da Terra: O Filme (2008)

NOTA: 6.5