Lançado pela Netflix (embora tenha sido exibido em alguns cinemas primeiro pra que pudesse ser elegível para o Oscar, festivais, etc), esse é o campeão da crítica de 2018, e o trabalho mais pessoal do mexicano Alfonso Cuarón (diretor de
E Sua Mãe Também / Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban / Gravidade) que além de dirigir, escreveu, fotografou e co-editou o filme.
O filme retrata 1 ano da vida de uma empregada doméstica que trabalha pra uma família de classe média no México nos anos 70. No começo achei que fosse cair na categoria de produções nacionais como
Que Horas Ela Volta?,
O Animal Cordial, que se propõem a criticar os ricos, expor a maneira desumana como patrões tratam empregados, etc. O filme até flerta com isso, mas de maneira sutil - até porque Cuarón está falando da própria família: a personagem Cleo foi inspirada na empregada que ajudou a criá-lo na vida real, e 90% das cenas foram baseadas em suas memórias de infância. Felizmente, fica mais um clima de homenagem do que de crítica social.
É um daqueles filmes feitos pra agradar críticos, mas que provavelmente entediará boa parte do público (como eu). Embora seja tecnicamente admirável, obra de um cineasta que claramente domina suas ferramentas, ele pertence à escola
Naturalista e vem com todas as chatices do gênero: ausência de enredo, cenas aleatórias que não levam a lugar nenhum, final inconclusivo, foco em pessoas comuns, situações cotidianas, na função social do cinema, etc. Não cai totalmente no tédio pois há sempre coisas inesperadas e às vezes até bizarras acontecendo (um homem nú lutando artes marciais, um terremoto numa maternidade), mas são coisas que apenas geram uma curiosidade momentânea, e não um interesse pela história como um todo. O foco acima de tudo aqui (inclusive acima das questões sociais) é a própria figura do diretor: seus interesses, suas memórias pessoais, suas idiossincrasias como cineasta (os aviões passando, o close na xícara quebrada, o homem fantasiado cantando no incêndio - há várias coisas no filme que só Cuarón mesmo sabe o propósito). Ou seja, o filme representa o
Não Idealismo de maneira mais completa que a maioria dos filmes, pois ele combina elementos tanto de Naturalismo quanto de
Subjetivismo: nos momentos Naturalistas, a prioridade do filme são as classes mais baixas, os empregados, a função social, etc, e nos momentos Subjetivistas, a prioridade é a expressão do universo pessoal do cineasta, do seu estilo, sua história de vida, etc. Nos 2 casos, o filme pede que o espectador abra mão de suas necessidades enquanto espectador, de seu desejo por narrativa, envolvimento, e exercite sua paciência em nome de algo "maior": em nome do artista, dos menos privilegiados, etc (o espectador fica sempre em segundo plano nesse tipo de filme - coisa que a crítica adora, afinal agradar espectador é coisa de blockbuster, não de filme "sério").
Lembra um pouco o cinema europeu dos anos 50 (o título
Roma, que é o nome do distrito em que a família mora, já nos põe no clima de clássicos do neorrealismo italiano como
Roma, Cidade Aberta,
Mamma Roma, etc). Como disse, é um filme muito bem realizado no seu aspecto físico/técnico, mas que não empolgará muito quem, como eu, acreditar que um bom filme é aquele onde a técnica existe pra tornar a história mais envolvente, emocionar o espectador - e não apenas pra exibir o estilo do cineasta - uma virtude desconectada de propósitos narrativos.
Roma / México, EUA / 2018 / Alfonso Cuarón
FILMES PARECIDOS: Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016) / Que Horas Ela Volta? (2015) / Ida (2013) / O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (2006) / clássicos do Fellini, Vittorio De Sica, etc.
NOTA: 4.0