Um dos grandes problemas das comédias atuais é que elas dificilmente têm um conceito claro do que é humor, raramente seguem uma linha definida e consistente de humor, e acabam na prática dando tiros pra todo lado em busca de uma risada. O resultado é que pra cada tiro acertado, você tem vários outros que erram o alvo, e a experiência acaba sendo um misto de diversão e constrangimento (parte do problema é que muitas vezes o filme faz piadas internas que podem ter certa graça para quem conhece o universo do Eurovision, mas ficam sem sentido pro resto do público). Felizmente o filme não apela pro tipo de humor grotesco / escatológico que costuma ser o refúgio das comédias sem talento, então o elemento "vergonha alheia" não chega a níveis tão perturbadores. Do lado positivo, quando o filme acerta, ele acaba gerando alguns momentos realmente memoráveis, como a ideia da canção "Ja Ja Ding Dong" por exemplo (as canções originais e o trabalho musical do filme é surpreendentemente bem feito). Rachel McAdams é sempre agradável mas me parece mal escalada aqui - ela deveria ser uma mulher excêntrica e sem noção tanto quanto Will Ferrell para suas cenas terem graça (uma Melissa McCarthy teria se encaixado melhor) mas como o roteiro requer que o vilão se apaixone pela personagem por ela ser bela e encantadora, isso cria uma contradição no centro da história que torna a personagem um pouco inverossímil (falando em vilão, Dan Stevens está ótimo como uma espécie de Cary Elwes moderno é um dos pontos altos do filme). Então é um daqueles casos mistos - um filme ruim com muitas coisas boas, ou um filme bom com muitas coisas ruins, mas que ganhou minha simpatia pela boa índole e pelos momentos cômicos que funcionam.
Eurovision Song Contest: The Story of Fire Saga / EUA / 2020 / David Dobkin
NOTA: 6.5