terça-feira, 9 de novembro de 2021

Finch

Ficção pós-apocalíptica onde Tom Hanks (Finch) viaja num trailer por uma América devastada, acompanhado apenas de seu cachorro e 2 robôs (ele é praticamente o único ator no filme) fugindo dos perigos climáticos, em busca de alimentos e de um lugar seguro pra viver, sempre evitando contato com outros seres humanos, nos quais não se pode confiar (ou seja, uma representação fiel do mindset de muita gente em 2021).

Parece uma mistura de O Céu da Meia-Noite com coisas que Hanks já fez no passado (o robô Jeff nos remete tanto à bola de vôlei de Náufrago quanto à garotinha Kiowa de Relatos do Mundo). O fato da produção ser da Amblin e ter Robert Zemeckis envolvido dá ao filme um tom mais leve do que o de outras produções recentes com histórias parecidas. O problema é que o roteiro não é de fato leve ou inspirador, o que cria um desencontro entre estilo e conteúdo. Esteticamente, parece que estamos vendo um entretenimento familiar agradável do tipo WALL-E. Mas tematicamente, é um filme melancólico, com um senso de vida trágico, onde desde o começo sentimos que não há esperança para o protagonista ou para a humanidade. George Clooney passava O Céu da Meia-Noite inteiro lidando com uma doença terminal, assim como Tom Hanks aqui, mas como Meia-Noite já tinha um tom deprimente, isso não causava tanto estranhamento quanto ver Hanks, com toda sua doçura, tossindo sangue vermelho em seu terno branco, numa paisagem lindamente fotografada.

Em termos de narrativa, o filme sofre um pouco da falta de objetivos, do foco ser todo na jornada, e não haver nada de interessante pra se esperar. Eles querem chegar em São Francisco, mas o que o protagonista realmente deseja encontrar lá? É só um destino vago que define a direção da viagem, mas não tem carga dramática, pois não há nada lá que possa realmente transformar a condição do personagem. O objetivo de Finch está mais ligado à sua relação com o robô Jeff, pela qual eu achei difícil de simpatizar, pois Jeff pra mim é apenas a bola do Náufrago com uma Siri instalada, mas sem um pingo a mais de vida (e com ainda menos expressões faciais). Quando Jeff é apenas um artifício pra conhecermos melhor o protagonista, o filme funciona bem. Mas quando temos que ver o robô como um personagem independente, pelo qual deveríamos nos importar, eu me peguei pensando que teria me envolvido mais se este fosse apenas um filme de cachorro (dos quais raramente sou fã).

Pelo menos filosoficamente o filme foge de alguns clichês, mostrando a tecnologia como uma aliada do homem, em vez da vilã; mostrando a destruição da Terra tendo sido causada por fatores naturais, e não pela ganância humana como de costume; há inclusive um discurso em favor do desempenho individual, questionando a soberania do esforço coletivo, que é a mensagem padrão de todos os filmes.

Finch / 2021 / Miguel Sapochnik

Nível de Satisfação: 5

Categoria C: Entretenimento com valores mistos

Filmes Parecidos: O Céu da Meia-Noite (2020) / Relatos do Mundo (2020) / O Chamado da Floresta (2020) / Eu Sou a Lenda (2007)

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