quinta-feira, 31 de março de 2022
Diário - Março 2022
segunda-feira, 28 de março de 2022
Oscar 2022
Mais um ano, mais uma ilustração da decadência da Academia. Achei alguns prêmios merecidos (como o de Melhor Atriz pra Jessica Chastain), mas quando o Oscar principal vai pra algo tão fraco quanto No Ritmo do Coração, isso acaba manchando a edição como um todo. E o culpado já conhecemos: todas as tendências culturais de hoje que colocam a função social do cinema acima de qualidade, inclusão acima de virtude (o que explica também a baixa audiência).
Sobre o caso Will Smith... Eu acho péssimo o humor degradante de apresentadores como Chris Rock, Ricky Gervais, e é revelador sobre a cultura que esse tipo de piada tenha se tornado uma convenção em cerimônias que foram criadas originalmente para enaltecer artistas, celebrar talento, habilidade, glamour etc. Óbvio que Smith se descontrolou e respondeu de forma totalmente inapropriada... Então vejo os dois como errados, só que em âmbitos e níveis diferentes: Smith pecou pelo descontrole/impulsividade (cruzou uma linha pior que a de Rock, mas que pode ter sido um impulso atípico, algo que não representa seu comportamento normal), e Rock pecou pela indelicadeza/falta de respeito (não violou os direitos de ninguém, nem as regras da festa, mas fez uma piada de mau gosto — ainda mais se ele já sabia da condição de Jada).
P.S.: O mais curioso de tudo é que vi pessoas defendendo o tapa de Will Smith aqui no Brasil usando argumentos tanto de "direita" quanto de "esquerda". Uns dizendo que foi certo o tapa, pois "homem que é homem" protege a esposa, não deixa a Família ser insultada; outros dizendo que foi certo o tapa, pois Jada estava numa posição de vítima, de mulher negra vulnerável, oprimida. Os dois lados se unindo na ideia de que é aceitável usar força física como resposta a ataques verbais, a não-crimes — algo que se reflete em debates políticos mais amplos.
domingo, 27 de março de 2022
Red: Crescer é uma Fera
quinta-feira, 24 de março de 2022
quinta-feira, 3 de março de 2022
Batman
A impressão é que a única questão na mente dos produtores neste filme era "Como parecer respeitável?". Eles sabem que os fãs entram na sala já querendo amar tudo e dar nota 10, portanto não existe a necessidade básica de elaborar uma boa história, pensar em como estimular e envolver o público (eles não precisam ganhar pontos, como filmes normais, só não querem perder os que já têm garantidos) — então todos os princípios e técnicas que discuto aqui no blog vão por água abaixo. E como é que eles conseguem "parecer respeitáveis"? Simples: colocando uma espécie de filtro sobre o filme todo, que deixa tudo escuro, chuvoso, com uma trilha tenebrosa, e faz os atores falarem num tom grave, dramático, independentemente do contexto — se Batman parasse no drive-thru de um McDonald's pra pedir um lanche, tanto ele quanto a funcionária estariam na penumbra falando desse jeito anti-natural. É o que falo no texto Pseudo-Sofisticação (a analogia do garoto fumante). Filmes que de fato são densos e sérios não precisam fazer esse teatro todo. Pois a seriedade é fundada no conteúdo. Se você assiste a O Poderoso Chefão, até as cenas mais pesadas do filme têm mais sentimento e naturalidade do que as de Batman, que é totalmente árido e forçado. Batman é um filme vazio em ideias, conteúdo, inteligência... É apenas uma reciclagem de dezenas de outras produções que vimos antes. Portanto, a única forma dele parecer um filme imponente é através do tom, do estilo. É um filme que funciona muito bem pra quem senta na poltrona e se conecta apenas com a aparência das coisas: quer saber se Pattinson ficou com um visual cool, se a estética do filme está dentro do que é considerado legal no momento, se é fiel aos quadrinhos. Mas se você se conecta com uma história através do conteúdo: do que acontece, dos valores em jogo, dos personagens, das ideias, o filme não tem nada pra você. Até porque mal somos apresentados ao protagonista. Apesar de não ser uma sequência, e o título sugerir um reboot ou uma história stand-alone, Bruce Wayne é jogado na tela sem grandes introduções e já parte pra missão da vez, como se fosse uma série já na segunda temporada... Não há um cuidado em apresentá-lo, mostrar seus atuais dramas e desejos, então vira um típico "filme de serviço". Existem mistérios, traições, perigos na história, mas o que o espectador vê 90% do tempo são personagens conversando sobre uma trama vaga que está ocorrendo em outro lugar, falando sobre personagens secundários que mal conhecemos — e não vendo a trama de fato se desenrolar diante de seus olhos. Nada do que acontece tem grande impacto emocional. E o filme parece propositalmente evitar coisas muito dramáticas, grandiosas. O mundo não parece correr um grande perigo, o vilão fica em segundo plano, os próprios gadgets do Batman estão mais discretos que no passado (tecnologias, carros, motos, etc), SPOILERS — o "grand finale" é uma sequência de ação bem capenga onde Batman apenas solta umas pessoas presas numas ferragens em um ginásio alagado. Os filmes de Nolan, embora sérios e sombrios, pelo menos buscavam espetáculo, grandiosidade. Aqui é tudo mais contido, reprimido, realista... Batman não luta grandes batalhas, não derrota o vilão definitivamente (aliás quase nenhum bandido morre o filme todo; punir o mal virou politicamente incorreto), não vive o romance com a mocinha (em vez de suicídio, o auto-sacrifício desta vez tem ares celibatários). Não há nada de terrível ou de tão incômodo no filme (além do tempo de duração), mas também não há nada de bom. É apenas um grande nada, algo que nem me parece um filme; porém um nada "respeitável".
OBS: se eu fosse atualizar a lista das 10 Tendências Irritantes do cinema, eu acrescentaria agora essa moda de traduzir textos para o português já na imagem em si, em vez de colocar legendas (textos que aparecem em celulares, telas, até mesmo o título do filme no início). Em Batman eles foram além, e traduziram até um texto pichado no chão em uma cena! Qual a lógica por trás disso (exceto a do exibicionismo tecnológico)? Daqui a pouco vão começar a substituir digitalmente dólares por cédulas de Real nas cenas... e quando surgir um noticiário na TV, veremos o William Bonner inserido digitalmente para que o espectador daqui "entenda" melhor.
The Batman / 2022 / Matt Reeves
Nível de Satisfação: 2
Categoria C: Idealismo Corrompido (Pseudo-Sofisticação; tom sombrio / Emoções Irracionais)
Filmes Parecidos: Liga da Justiça de Zack Snyder (2021) / Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016) / Coringa (2019)