sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Problemas do Objetivismo #6 - Incapaz de Errar

Abaixo vou postar um trechinho da entrevista com Tom Snyder onde Rand fala sobre Dostoiévski ter tentado praticar altruísmo em sua vida pessoal, o que resultou no suicídio de sua esposa:


Até onde li, nenhuma esposa de Dostoiévski se suicidou (a primeira morreu de tuberculose; a segunda viveu além dele), e Rand estava provavelmente confundindo o caso com a trama de Uma Criatura Dócil, conto escrito por Dostoiévski, que conta uma história parecida — embora o suicídio da costureira no fim não pareça ter relação com altruísmo da parte do marido.

Isso não é pra sugerir que Rand era desonesta, é apenas pra mostrar que ela era capaz de cometer erros, exagerar certos pontos pra efeito dramático. Rand era tão rigorosa e perfeccionista em seus processos mentais, que às vezes seus admiradores a enxergam quase como o computador HAL 9000 de 2001, uma máquina incapaz de errar. Uma pessoa normal cometer um equívoco não surpreenderia ninguém. Mas Rand cometer um equívoco, por mais simples que seja, parece chocante pra alguém que acabou de conhecê-la e está encantado com seus poderes intelectuais. Rand confundir o conto de Dostoiévski não diminui em nada sua inteligência, e nem mesmo seus argumentos contra a ética do altruísmo. Mas o exemplo é um teste interessante para o fã de Rand, pra ver o quanto ele absorve tudo o que ela diz como se fosse um fato inquestionável, e o quanto ele está atento para possíveis distorções. A ideia de um homem se casar com uma pessoa desprezível, por puro altruísmo, e isso levá-la ao suicídio, é uma história no mínimo estranha (remete mais a coisas que acontecem no mundo estilizado de A Nascente e A Revolta de Atlas). No dia a dia, nunca vemos seres humanos se comportando desta forma. Mas como é Rand contando o caso, e ela está falando de um artista que ela admira, coloca entre seus 2 ou 3 escritores favoritos, a tendência é assumirmos que ela é uma autoridade no assunto, e que não há motivos para questionarmos a história. Bem, literatura não é a única área onde vemos Rand como autoridade. Como filósofa, e alguém que se comunica de maneira sempre tão clara, confiante, intensa, nossa tendência é assumirmos que ela é uma autoridade em diversos campos — daí o perigo de aceitarmos tudo o que ela diz sem questionamento.

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