domingo, 17 de dezembro de 2023

Maestro

Como mencionei na crítica de Tár, tenho uma admiração pelo Leonard Bernstein desde que vi gravações do seu Young People's Concerts em aulas na faculdade, então fui ver Maestro com um interesse especial, até por ter gostado do trabalho do Bradley Cooper como diretor em Nasce uma Estrela — e também por este ser um projeto que já esteve nas mãos de grandes nomes como Spielberg e Scorsese (que assinam aqui como produtores).

Além do tópico, o filme tem várias qualidades que o mantém interessante, apesar de alguns pontos fracos. Bradley está bem no papel (com a ajuda do trabalho mais notável de maquiagem que vi desde A Baleia), Carey Mulligan está melhor ainda, e os diálogos têm riqueza o bastante pra passar uma ideia de como seria um homem como Bernstein na intimidade (lembrando um pouco os méritos de Tár).

Porém Bradley Cooper como roteirista/diretor, pra mim parece ter deixado a pretensão subir à cabeça. Sabe aqueles cineastas prodígio tipo Orson Welles ou Francis Ford Coppola, que após algumas obras-primas, passam a se achar geniais demais para o "sistema" e começam a experimentar com a linguagem, fazendo obras menos acessíveis de propósito? É como se no 2º longa (e sem ter feito suas obras-primas ainda), Bradley já quisesse saltar pra esse estágio da carreira, e mostrar um tipo parecido de sofisticação (que pra mim é Pseudo-Sofisticação até mesmo nos casos de Welles/Coppola).

O filme tem uma abordagem semi-Naturalista que vê graça na mera reprodução do universo de Bernstein; em nos dar o privilégio de espiar a vida de um mestre por algumas horas. Por retratar um homem excepcional, bem-sucedido (em vez de uma pessoa medíocre) o filme foge do Naturalismo clássico, mas narrativamente, ele ainda não tem um senso de direção, um tema, algo a dizer sobre o personagem, e o Naturalismo se revela também nos aspectos da vida de Bernstein que o filme decide mostrar. Ao contrário de Steve Jobs (2015), que pelo menos focava em grandes momentos da carreira de Jobs (apesar de ser um filme também sem muita história, focado em caracterização), Maestro já faz um esforço grande pra não parecer uma celebração do talento de Bernstein. O fato mais conhecido de sua carreira — ele ser o compositor de West Side Story — é citado de forma tão casual que uma pessoa não familiarizada com o musical provavelmente sairá do filme sem registrar este "detalhe". O programa de TV Young People's Concerts (também um dos grandes responsáveis por sua fama) nem é citado.

Maestro está muito mais interessado no lado "humano" de Bernstein: nos problemas de seus relacionamentos íntimos, seus vícios, no fato dele ser bissexual, um homem um pouco egocêntrico, no câncer de sua esposa Felicia (que toma uma parte considerável do filme e é mostrado em mais detalhes que muitos filmes sobre doenças terminais). Não diria que a intenção do filme é manchar a imagem de Bernstein, pois há um glamour até mesmo na forma em que esses negativos são mostrados. Mas algo leva o filme a achar que pra cada virtude exibida, 3 fatos menos admiráveis sobre Leonard precisem ser incluídos pra equilibrar o resultado.

Fico me perguntando se isso é influência da ética altruísta; algo motivado por um senso de culpa, ou se é exatamente o oposto: se é a pretensão fútil de quem quer se mostrar tão superior, tão culto, tão parte da elite, que cita esses triunfos de forma casual, blasé, pois sabe que essa é a atitude de pessoas realmente sofisticadas.

Maestro / 2023 / Bradley Cooper

Satisfação: 6

Categoria: I- / NI

Filmes Parecidos: Tár (2022) / Steve Jobs (2015)

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