segunda-feira, 31 de março de 2025

Março 2025 - outros filmes vistos

Novocaine - À Prova de Dor (Novocaine / 2025 / Dan Berk, Robert Olsen) — Estava esperando uma mistura irritante de ironia com violência extrema, então a primeira parte até me surpreendeu com personagens bem estabelecidos e um enredo mais agradável do que eu imaginava. Ainda assim, quando a ação finalmente deslancha, o filme abandona um pouco a lógica e começa a machucar o protagonista (que não sente dor) mais pra causar aflição e justificar a premissa do que por necessidade narrativa (a graça desta sinopse, na minha visão, estaria mais na reação de espanto das testemunhas que não sabem da condição do personagem do que nos ferimentos em si, mas o filme não faz um bom uso deste potencial).

O Estúdio (The Studio / 2025) T1.E1 e T1.E2 — Streaming surpreendendo de novo este mês com uma série muito acima da média, que estabelece um padrão tão elevado nos dois primeiros episódios que é difícil imaginar como poderia sustentá-lo nos próximos. Imperdível para cinéfilos.

Sem Chão (No Other Land / 2024)
— Documentário tedioso que só ganhou o Oscar pelo ativismo político, não por ser bem feito, interessante, ter imagens/entrevistas valiosas ou esclarecer qualquer fato.

Adolescência (Adolescence / 2025 / 
Philip Barantini)
— Primeiro lançamento de 2025 que deve entrar nas minhas listas de melhores do ano. O uso do plano-sequência às vezes parece um exibicionismo desnecessário, mas nos momentos mais dramáticos, ajuda a acumular uma tensão que torna os episódios hipnóticos. A série prende a atenção gerando curiosidade sobre os motivos por trás do crime, o que pode tornar um pouco frustrante a guinada Naturalista mais pro final, de optar por focar menos nos porquês e mais no impacto da tragédia nos envolvidos. Ainda assim, é um estudo de personagens fascinante que revela algumas das questões psicológicas/culturais mais urgentes das gerações mais jovens. A performance do Owen Cooper é tão impressionante no 3º episódio que me lembrou do jovem Leonardo DiCaprio quando começou a se destacar no cinema. 

The Electric State (2025 / Anthony Russo, Joe Russo) — Isso só revela o quanto o sucesso de bilheteria de Vingadores: Guerra Infinita e Ultimato não foi mérito da direção dos irmãos Russo. O filme segue um formato familiar de narrativa de aventura, mas os cineastas parecem ter uma espécie de cegueira para os elementos que tornam um filme interessante para o espectador, então se limitam a cuidar dos efeitos especiais e da aparência externa da produção, torcendo pra que o conteúdo se conecte magicamente com o público — o que, infelizmente, não acontece.

Branca de Neve (Snow White / 2025 / Marc Webb) — Melhor do que eu esperava (se bem que as expectativas eram tão baixas que isso nem diz muito). Está mais pra um entretenimento decente enfraquecido por alguns problemas típicos do cinema atual (mensagens woke pontuais, anões no vale da estranheza, um elenco quase bom) do que pra um projeto desastroso como Pinóquio (2022). O filme tem uma direção competente (inclusive na parte musical), cenários/figurinos bonitos, novidades o bastante pra não parecer um remake enlatado, e o tom, de modo geral, não é subversivo ou hostil ao clássico — exceto quando querem transformar a Branca de Neve em uma líder revolucionária, aí realmente fica difícil defender.

Código Preto (Black Bag / 2025 / Steven Soderbergh) — Não me sintonizo bem com o cinema de Steven Soderbergh e, apesar do bom elenco, achei a trama de Código Preto extremamente desinteressante. É o tipo de história mais preocupada em parecer bem escrita e engenhosa (a abordagem dos "relojoeiros") do que em dar um motivo para o espectador se importar por qualquer coisa.

Better Man: A História de Robbie Williams (Better Man / 2024 / Michael Gracey) — Por que o macaco? Para mim, é um toque autodepreciativo estratégico para amenizar a qualidade potencialmente egocêntrica da produção (assim como a ênfase nos problemas emocionais e na suposta inferioridade de Robbie). Descontando esses aspectos "corrompidos" (ou esta aplicação duvidosa do conceito de Complementaridade), achei o filme eficaz e dirigido de maneira bem estimulante.

O Macaco (The Monkey / 2025 / Osgood Perkins) — Mais um caso em que o cineasta teve bastante liberdade criativa pra realizar o filme, mas isso se provou uma péssima ideia. Assim como Mickey 17 faz com a ficção científica, O Macaco apenas pega a premissa do conto de horror de Stephen King (que imagino ser sério) para subverter o gênero e transformá-lo em uma comédia excêntrica guiada pelas afetações do diretor. O resultado não é nem assustador, nem cômico.

Mickey 17 (2025 / Bong Joon Ho) — Reclamamos com tanta frequência da falta de originalidade nos filmes que é fácil cair na armadilha de achar que originalidade, por si só, torna um filme bom. O novo longa do diretor de Parasita (2019) prova que isso não é verdade. Excentricidade é o prato principal aqui, mas em vez do caos organizado de filmes como A Substância ou Pobres Criaturas, Mickey 17 parece mais o delírio de um esquizofrênico pretensioso. Convencido de que os frutos de sua imaginação serão sempre brilhantes, o filme se entrega a devaneios aleatórios sem a disciplina necessária para produzir uma boa história.

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