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A primeira é a do roteirista que vou chamar de "Relojoeiro". Este escreve histórias interessado primeiramente em criar uma trama intrincada, engenhosa, em que todos os elementos e "engrenagens" estão finamente interconectados e trabalham juntos de forma coordenada para produzir um resultado preciso — informar um tema; comunicar uma mensagem importante etc.
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Os grandes clássicos do teatro e da literatura do século 18 ou 19 costumam se basear no método do Relojoeiro.
O cinema americano já se moldou primeiramente em cima do método do Planejador de Viagem.
Não significa que as duas abordagens sejam auto-excludentes. Ambas podem ser combinadas. Mas diria que a abordagem do Planejador de Viagem é mais essencial para o Idealismo do que a do Relojoeiro. É por isso que o Paradigma Idealista reflete mais a mentalidade do Planejador de Viagem:
Este modelo (que incorpora vários princípios importantes do Idealismo como o Princípio da Ascensão e o dos Set Pieces) é baseado na teoria de felicidade representada pela frase: "A felicidade é a realização progressiva de um ideal ou objetivo digno". Ou seja, para estarmos felizes (tanto na vida real quanto na vida simulada pela arte), precisamos ter um objetivo atraente no futuro para o qual sentimos que estamos caminhando, e precisamos também ter recompensas ao longo do caminho; realizações intermediárias que confirmem que estamos indo na direção certa e renovem nossa motivação.
O paradigma Idealista não despreza lógica e objetividade — o gráfico indica que os eventos da história precisam estar integrados ao redor de um tema central e que a trama precisa ser guiada por um propósito. Mas ele não diz que a trama precisa ser necessariamente intrincada ou incrivelmente engenhosa.
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Quando roteiristas do tipo "Relojoeiro" ficam encantados demais com a engenhosidade de seus quebra-cabeças e não formam uma parceria saudável com o "Planejador de Viagem", eles muitas vezes perdem de vista o prazer do espectador, e terminam escrevendo histórias que parecem inteligentes, bem elaboradas, mas que deixam o público frio emocionalmente.
A engenhosidade da trama não é uma fonte primária de prazer para o espectador. É um virtuosismo técnico que só se torna uma verdadeira fonte de inspiração quando ele está servindo para potencializar o prazer primário, que está no conteúdo, nos valores e temas da história. O Relojoeiro que foca primeiramente em seu próprio virtuosismo acaba se tornando Não Idealista, assim como qualquer artista que coloca sua técnica e estilo acima da Primazia do Espectador.
Exemplos:
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Mas Wilder ainda mantinha um certo equilíbrio. O pior extremo dessa abordagem seria o de filmes estilo Um Contratempo, que partem do erro do Relojoeiro de colocar todo o foco na complexidade interna da trama, só que pra piorar são Relojoeiros incompetentes — constroem uma geringonça cheia de peças sobressalentes, engrenagens que não funcionam, e o relógio no fim só marca a hora errada.
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Resumindo: no Idealismo, todo roteirista deveria ser um bom Planejador de Viagem e um bom Alfaiate, mas não necessariamente um Relojoeiro. O Relojoeiro geralmente eleva o nível de uma história, e seu método é compatível com princípios narrativos do Idealismo, mas apenas na medida em que se associa ao Planejador de Viagem.
Os autores mais aclamados por críticos e intelectuais ainda costumam ser os Relojoeiros, talvez por estes seguirem princípios literários bem estabelecidos desde os tempos de Shakespeare ou até de Sófocles. O próprio Romantismo da Ayn Rand segue mais por esta linha de pensamento — e este é um dos aspectos mais importantes, mas não tão óbvios, em que o Idealismo se difere do Romantismo.
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