Foi a primeira vez que pratiquei o famoso "binge-watching" e vi uma série inteira em um dia só. Estava esperando algo formulaico seguindo a linha Louca Obsessão, mas já nos 2 primeiros minutos, quando Donny oferece o chá de cortesia para Martha, eu me vi fisgado, pois percebi que a série estava inovando em cima da fórmula e trazendo uma discussão ética/psicológica que eu pessoalmente nunca tinha visto bem explorada antes — a relação problemática entre os "vampiros psíquicos" e os "empatas"; pessoas que sobrevivem com base no altruísmo dos outros e pessoas com uma tendência a sacrificar as próprias necessidades diante da vontade alheia. Há muitos filmes sobre stalkers e pessoas obsessivas, mas poucos que falam dos perigos desse tipo de auto-abnegação. Bebê Rena é praticamente um filme de terror pra quem tem dificuldade de dizer não e impor limites; a série combina o tipo de suspense presente em filmes como Louca Obsessão e Mulher Solteira Procura, com um "cautionary tale" (História Idealista #5) igualmente envolvente sobre um jovem artista que se afunda cada vez mais em problemas por conta de sua própria falta de auto-respeito e sua "síndrome de bom garoto". É uma das poucas minisséries que achei interessantes do começo ao fim, que não me deram a sensação de estar sendo enrolado com episódios e subtramas desnecessárias só para preencher o tempo. Alguns dos motivos são a duração relativamente curta da série, a sutileza e a autenticidade do texto do Richard Gadd, que baseou muita coisa em experiências pessoais, além também do fato do material ter sido testado e lapidado no palco antes de chegar à TV.
Em relação ao conteúdo, a única coisa que não achei 100% satisfatória é algo que me parece até injusto cobrar de Gadd: em algum nível, eu estava esperando que a série fosse fornecer uma explicação fundamental para os problemas emocionais que transformaram Donny em alguém tão vulnerável a pessoas como Martha. No 4º episódio, há um aprofundamento psicológico interessante que alguns críticos parecem achar que explica tudo. O episódio é ótimo, porém o que ele revela é que Donny já era suscetível aos "vampiros psíquicos" antes mesmo de conhecer Martha. Então "a conta não fecha" — coisas cruciais sobre o passado de Donny ainda parecem ter ficado de fora. Mas como Richard Gadd baseou a história em eventos que ele viveu há relativamente pouco tempo (entre 2015 e 2017), não dá pra esperar que ele já tenha amadurecido tanto a ponto de conseguir fazer uma autoanálise com esse grau de distanciamento e objetividade. De qualquer forma, isso não diminui aquilo que ele já foi capaz de explorar na série, a qualidade geral do roteiro, e outros méritos da produção, como as performances inesquecíveis de Gadd e Jessica Gunning.
Baby Reindeer / 2024 / Richard Gadd
Satisfação: 8
Categoria: Idealismo Crítico
Filmes Parecidos: Louca Obsessão (1990) / O Talentoso Ripley (1999) / Atração Fatal (1989) / O Estado das Coisas (2017) / Dogville (2003)
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