quinta-feira, 31 de março de 2022

Diário - Março 2022

31/3 - Como já disse, sempre que termino um trabalho novo (seja uma música, curta, o livro, etc.) eu entro numa fase de desânimo, mas também cheia de insights, onde recalculo rotas, amadureço, repenso minhas prioridades, objetivos etc. Minha vontade de produzir mais coisas nessa área artística é quase nula agora. Ano passado tive um momento onde o desejo de trabalhar com cinema, dirigir, voltou à tona, mas hoje acho que é uma rota que só levará a frustração e stress. Ironicamente, o que inspirou essa música nova foi em partes esse desejo de me reaproximar do universo inspirador da arte, tirar o foco dos assuntos pesados, do meu lado "crítico"; mas talvez esse impulso tenha vindo só como combustível pra criação deste trabalho em particular, não como algo que se sustentará para sempre — até porque conforme eu me deparo com a realidade da cultura, do público (o que fica ainda mais evidente quando eu estou na posição de criador/artista), se torna antinatural manter essa atitude benevolente (imagine um marido que continua trazendo flores pra esposa todos os dias, mesmo depois de descobrir que está sendo traído). Então esse papel de inspirar, criar experiências positivas com arte, acaba sendo extremamente ingrato no meu caso (que tenho valores diferentes dos do público em geral — e mesmo numa escala pequena já é possível entender muito sobre o público e prever o que ocorreria em escalas maiores). E se esse impulso vai embora, eu fico refletindo sobre o que seria mais frutífero — que papel me cairia melhor: o de "educar" (que seria o 2º mais otimista depois do de inspirar/entreter, mas que às vezes me parece igualmente infrutífero)? O de atacar/criticar (que é apropriado, mas desgastante)? Ou o de simplesmente me abster? Fico em dúvida se essa última seria a opção mais pessimista de todas, ou a mais sábia... Mas são por esses "moods" que eu transito, e influenciam o que eu produzo ou deixo de produzir.


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30/3 - Morte no Nilo (Death on the Nile / 2022 / Kenneth Branagh)

Nível de Satisfação: 5

Categoria B/C: Idealismo com fraquezas na história e alguns toques de Idealismo Corrompido

Filmes Parecidos: Assassinato no Expresso do Oriente (2017) / Entre Facas e Segredos (2019)


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27/3 - Os Olhos de Tammy Faye (The Eyes of Tammy Faye / 2021 / Michael Showalter)

Nível de Satisfação: 7

Categoria A: Idealismo crítico

Filmes Parecidos: Apresentando os Ricardos (2021) / Casa Gucci (2021) / Um Lindo Dia na Vizinhança (2019)


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25/3 - Ontem fui ao cinema ver Drive My Car, o último que faltava dos indicados a Melhor Filme, mas acabei indo embora na metade. Minha paciência pra filmes Naturalistas "estrangeiros" nunca foi muito grande, mas ela vem diminuindo, e apesar de eu ter entrado na sala sabendo que o filme tinha 3 horas, achei que pudesse me surpreender com base em alguns comentários que ouvi (imaginei que pudesse virar algo mais intenso, tipo Parasita), mas a história é bem tediosa, pontuada por acontecimentos aleatórios que não parecem caminhar pra lugar nenhum. É o típico filme que ganha prestígio em Cannes, mas que antigamente seria considerado chato demais até pra categoria de filme estrangeiro no Oscar — as indicações pra Melhor Filme / Direção pra mim são completamente absurdas. Então quando deu 1h30 e acabou meu combo pipoca-Coca-Mentos, o programa perdeu o sentido e fui embora. Outro que já comecei a ver 2 vezes e acho que não vai rolar é o The Worst Person in the World... Então da lista completa de indicados, só pretendo ver The Eyes of Tammy Faye e Cyrano ainda, mas não sei se a tempo da cerimônia.

segunda-feira, 28 de março de 2022

Oscar 2022

Mais um ano, mais uma ilustração da decadência da Academia. Achei alguns prêmios merecidos (como o de Melhor Atriz pra Jessica Chastain), mas quando o Oscar principal vai pra algo tão fraco quanto No Ritmo do Coração, isso acaba manchando a edição como um todo. E o culpado já conhecemos: todas as tendências culturais de hoje que colocam a função social do cinema acima de qualidade, inclusão acima de virtude (o que explica também a baixa audiência).

Sobre o caso Will Smith... Eu acho péssimo o humor degradante de apresentadores como Chris Rock, Ricky Gervais, e é revelador sobre a cultura que esse tipo de piada tenha se tornado uma convenção em cerimônias que foram criadas originalmente para enaltecer artistas, celebrar talento, habilidade, glamour etc. Óbvio que Smith se descontrolou e respondeu de forma totalmente inapropriada... Então vejo os dois como errados, só que em âmbitos e níveis diferentes: Smith pecou pelo descontrole/impulsividade (cruzou uma linha pior que a de Rock, mas que pode ter sido um impulso atípico, algo que não representa seu comportamento normal), e Rock pecou pela indelicadeza/falta de respeito (não violou os direitos de ninguém, nem as regras da festa, mas fez uma piada de mau gosto — ainda mais se ele já sabia da condição de Jada).

P.S.: O mais curioso de tudo é que vi pessoas defendendo o tapa de Will Smith aqui no Brasil usando argumentos tanto de "direita" quanto de "esquerda". Uns dizendo que foi certo o tapa, pois "homem que é homem" protege a esposa, não deixa a Família ser insultada; outros dizendo que foi certo o tapa, pois Jada estava numa posição de vítima, de mulher negra vulnerável, oprimida. Os dois lados se unindo na ideia de que é aceitável usar força física como resposta a ataques verbais, a não-crimes — algo que se reflete em debates políticos mais amplos.

domingo, 27 de março de 2022

Red: Crescer é uma Fera

Achei bem simpática essa animação da Disney/Pixar que foi direto pro streaming (apesar do tom despretensioso de Sessão da Tarde, tinha nível pra passar nos cinemas), que se destaca principalmente pelo humor mais espirituoso que de costume. Nem tudo me agradou: ainda temos os temas "socialmente relevantes" sendo usados pra validar a história (o panda vermelho é uma espécie de metáfora pra puberdade feminina), além dos anti-heróis no centro da trama (o maldito sorriso invertido logo na capa) — mas como estamos falando de uma comédia, não de uma aventura bem-humorada (mas essencialmente dramática) tipo Onward / Luca, o aspecto "loser" dos personagens não me incomodou pois não é romantizado — as meninas e o panda existem pra provocar risadas na plateia na maior parte do tempo, e o resultado é divertido. A parte musical também é boa, e as canções do grupo 4*TOWN (compostas pela Billie Eilish e o irmão) são grudentas e convencem como hits de boy bands.

Turning Red / 2022 / Domee Shi

Nível de Satisfação: 6

Categoria B: Idealismo com pouca ambição, e com alguns toques de Não Idealismo (motivação educacional, etc.).

Filmes Parecidos: Encanto (2021) / O Touro Ferdinando (2017) / Meu Malvado Favorito (2010) / Monstros S.A. (2001)

quinta-feira, 24 de março de 2022

The Last Floor

Música nova..! E com alguns easter eggs pra quem conhece meu lado cinéfilo! Rs. 

quinta-feira, 3 de março de 2022

Batman

A impressão é que a única questão na mente dos produtores neste filme era "Como parecer respeitável?". Eles sabem que os fãs entram na sala já querendo amar tudo e dar nota 10, portanto não existe a necessidade básica de elaborar uma boa história, pensar em como estimular e envolver o público (eles não precisam ganhar pontos, como filmes normais, só não querem perder os que já têm garantidos) — então todos os princípios e técnicas que discuto aqui no blog vão por água abaixo. E como é que eles conseguem "parecer respeitáveis"? Simples: colocando uma espécie de filtro sobre o filme todo, que deixa tudo escuro, chuvoso, com uma trilha tenebrosa, e faz os atores falarem num tom grave, dramático, independentemente do contexto — se Batman parasse no drive-thru de um McDonald's pra pedir um lanche, tanto ele quanto a funcionária estariam na penumbra falando desse jeito anti-natural. É o que falo no texto Pseudo-Sofisticação (a analogia do garoto fumante). Filmes que de fato são densos e sérios não precisam fazer esse teatro todo. Pois a seriedade é fundada no conteúdo. Se você assiste a O Poderoso Chefão, até as cenas mais pesadas do filme têm mais sentimento e naturalidade do que as de Batman, que é totalmente árido e forçado. Batman é um filme vazio em ideias, conteúdo, inteligência... É apenas uma reciclagem de dezenas de outras produções que vimos antes. Portanto, a única forma dele parecer um filme imponente é através do tom, do estilo. É um filme que funciona muito bem pra quem senta na poltrona e se conecta apenas com a aparência das coisas: quer saber se Pattinson ficou com um visual cool, se a estética do filme está dentro do que é considerado legal no momento, se é fiel aos quadrinhos. Mas se você se conecta com uma história através do conteúdo: do que acontece, dos valores em jogo, dos personagens, das ideias, o filme não tem nada pra você. Até porque mal somos apresentados ao protagonista. Apesar de não ser uma sequência, e o título sugerir um reboot ou uma história stand-alone, Bruce Wayne é jogado na tela sem grandes introduções e já parte pra missão da vez, como se fosse uma série já na segunda temporada... Não há um cuidado em apresentá-lo, mostrar seus atuais dramas e desejos, então vira um típico "filme de serviço". Existem mistérios, traições, perigos na história, mas o que o espectador vê 90% do tempo são personagens conversando sobre uma trama vaga que está ocorrendo em outro lugar, falando sobre personagens secundários que mal conhecemos — e não vendo a trama de fato se desenrolar diante de seus olhos. Nada do que acontece tem grande impacto emocional. E o filme parece propositalmente evitar coisas muito dramáticas, grandiosas. O mundo não parece correr um grande perigo, o vilão fica em segundo plano, os próprios gadgets do Batman estão mais discretos que no passado (tecnologias, carros, motos, etc), SPOILERS — o "grand finale" é uma sequência de ação bem capenga onde Batman apenas solta umas pessoas presas numas ferragens em um ginásio alagado. Os filmes de Nolan, embora sérios e sombrios, pelo menos buscavam espetáculo, grandiosidade. Aqui é tudo mais contido, reprimido, realista... Batman não luta grandes batalhas, não derrota o vilão definitivamente (aliás quase nenhum bandido morre o filme todo; punir o mal virou politicamente incorreto), não vive o romance com a mocinha (em vez de suicídio, o auto-sacrifício desta vez tem ares celibatários). Não há nada de terrível ou de tão incômodo no filme (além do tempo de duração), mas também não há nada de bom. É apenas um grande nada, algo que nem me parece um filme; porém um nada "respeitável".

OBS: se eu fosse atualizar a lista das 10 Tendências Irritantes do cinema, eu acrescentaria agora essa moda de traduzir textos para o português já na imagem em si, em vez de colocar legendas (textos que aparecem em celulares, telas, até mesmo o título do filme no início). Em Batman eles foram além, e traduziram até um texto pichado no chão em uma cena! Qual a lógica por trás disso (exceto a do exibicionismo tecnológico)? Daqui a pouco vão começar a substituir digitalmente dólares por cédulas de Real nas cenas... e quando surgir um noticiário na TV, veremos o William Bonner inserido digitalmente para que o espectador daqui "entenda" melhor.

The Batman / 2022 / Matt Reeves

Nível de Satisfação: 2

Categoria C: Idealismo Corrompido (Pseudo-Sofisticação; tom sombrio / Emoções Irracionais)

Filmes Parecidos: Liga da Justiça de Zack Snyder (2021) / Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016) / Coringa (2019)