sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Relacionamentos Conflituosos

Quando vejo filmes eu não busco ver apenas personagens admiráveis, mas também relacionamentos admiráveis entre eles. Me chama a atenção não só no cinema, mas em todo o entretenimento hoje, que a maior parte do tempo nós passamos observando relações negativas entre as pessoas: relações de rivalidade, desconfiança, cinismo, desentendimento, atrito, inimizade, reprovação, ódio.

Quando estiver vendo um filme, série, ou mesmo uma novela, calcule quanto tempo você passa olhando para situações de desentendimento e desarmonia — pessoas discutindo na tela, sendo agressivas umas com as outras — e compare com o tempo que você passa olhando pra algo positivo e desejável, relações que expressam harmonia, admiração, respeito, amor, confiança, aprovação, etc.

Não vejo problema em conflitos entre heróis e vilões, pois nesse caso há o prazer de observar o herói sendo superior e fazendo a coisa certa. O problema é que muitos filmes focam em conflitos entre 2 personagens corruptos, onde não há um contraste claro entre bem e mal — ambos os lados têm falhas de caráter, ninguém está completamente certo, não dá pra torcer totalmente por nenhuma das partes, então a história se torna apenas contemplação do conflito pelo conflito em si, um culto à "moralidade cinza".

Mas o pior de tudo é quando as histórias focam em relações conflituosas entre 2 personagens bons, que nós deveríamos gostar (e que deveriam SE gostar: heróis, amantes, amigos, parceiros, familiares, etc.), passando a noção de que relacionamentos humanos são sempre "complexos", mesmo entre pessoas boas, e que uma relação positiva, de plena harmonia, seria algo impossível entre as pessoas — representaria uma relação superficial, ou uma visão ingênua de mundo por parte da obra.

Relações conflituosas funcionam como acordes menores ou mudanças de acordes dissonantes na música: tudo bem usá-los estrategicamente pra criar um contraste, momentos de tensão pontuais que irão realçar os momentos de prazer, mas nunca como um fim em si mesmo — isto já seria reflexo do Senso de Vida Malevolente ou da Pseudo-sofisticação.

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