- Sinais de Idealismo Corrompido desde as primeiras cenas: o visual ridículo do Kurt Russell jovem, que ao mesmo tempo homenageia e zomba dos anos 80, ou os Guardiões lutando contra o monstro enquanto a câmera foca no Baby Groot dançando - o que não faz o menor sentido, só serve pra mostrar pra plateia que o filme não leva heroísmo a sério, que essa história toda de salvar a galáxia é apenas um pano de fundo, um boneco de vodu que o filme monta pra depois ter o prazer de torturar.
- Chris Pratt é sempre uma graça em cena, e dessa vez o humor às custas dele não incomoda tanto quanto na parte 1.
- As cenas de ação são péssimas, confusas visualmente, mal dirigidas (por exemplo, a perseguição de naves quando a Ayesha está atrás das baterias / a queda da nave no planeta). É tudo extremamente exagerado, sem nenhum realismo, clareza ou respeito pelo bom senso (os filmes de ação atuais parecem ter prazer em romper cada vez mais com a realidade).
- A trama também é um pavor. Essa história deles estarem sendo perseguidos por causa do roubo de algumas baterias é um conflito banal demais (se essas baterias fossem tão vitais a ponto de iniciarem uma guerra intergaláctica, teria sido tão simples de um guaxinim roubá-las como se fossem balas num supermercado?). A sub-trama do cara azul (Yondu) e do Stallone é mal apresentada. Será que é algo que deveríamos lembrar do primeiro filme? Depois tem a trama do Taserface, do Rocket que é capturado, e tem também a história da irmã da Gamora que quer se vingar, e o Chris Pratt indo pro planeta do pai (essa turma parece que não está nem aí pra história das baterias). Quem é o vilão do filme? A mulher dourada? A irmã da Gamora? O Taserface? O Kurt Russell? Qual o rumo da história? O protagonista que é o Chris Pratt mal aparece, não faz nada de útil, ficamos perdendo tempo nessas sub-tramas desinteressantes. Há aquela sequência interminável do Rocket preso e o Baby Groot tentando pegar uma "crista" pra soltá-los. É um roteiro mal estruturado, irracional... Tentar consertá-lo mentalmente é tão inútil quanto ficar apontando erros de ortografia numa sopa de letrinhas - o propósito nunca foi ter ordem. O filme quer divertir apenas através do "humor", do carisma dos personagens (bem na linha Esquadrão Suicida).
- O filme fica fazendo piadas em momentos inapropriados, envolvendo vilões, personagens que não são cômicos, colocando músicas alegres em momentos aleatórios, só pra reforçar a "brand" da franquia que deu certo - e não porque o humor surgiu organicamente das cenas.
- A Zoe Saldana (Gamora) é extremamente antipática, está sempre emburrada. Será que era pra gente estar torcendo por um romance entre ela e o Chris Pratt?
- Detestável essa irmã da Gamora. Ela tem ódio da irmã pelo fato dela ser mais virtuosa, é uma invejosa assumida, e em vez do filme vilanizá-la, ele mostra ela com certa dignidade, como se fosse pro espectador se identificar e respeitar a figura do perdedor rancoroso.
- SPOILER: Mais pro final o filme finalmente ganha um conflito mais dramático e envolvente, quando o Kurt Russell se revela um vilão e quer usar o Chris Pratt pra ajudá-lo a expandir seu império. O problema é que a partir daí começam a ficar mais explícitos os valores malignos do filme - a atitude anti-autoestima, anti-razão (Alerta Vermelho). Pra começar o monstro do filme se chama "Ego". Ou seja, o ego, a ambição, o individualismo, é o grande vilão que ameaça toda a vida e precisa ser destruído. O Kurt Russell é uma energia criadora infinita, capaz de gerar planetas inteiros e coisas belíssimas com o poder de sua vontade - mas alguém assim, obviamente, só pode ser um assassino sanguinário que não liga pra outras pessoas, pra amigos, não tem empatia, e está pronto pra destruir qualquer um que entre em seu caminho. E o símbolo disso tudo o que é? O cérebro!!! É literalmente um cérebro gigante (a razão, a lógica, a inteligência) que os heróis precisam encontrar e explodir pro mundo ser do jeito que eles querem. Não me surpreende que um filme tão irracional, tão medíocre e sem talento queira viver em um mundo sem inteligência e sem ego.
- Toda a ação final é um caos tedioso que dá preguiça de comentar. É tudo tão falso fisicamente, as regras são tão arbitrárias... O Ego com um poder tão grandioso, do tamanho de um planeta, iria permitir que os heróis entrassem em seu núcleo? A Mantis iria fazê-lo dormir tão facilmente? (Nesses filmes não importa o tamanho do monstro, há sempre um ponto fraco que pode ser atingido sem esforço, destruindo a coisa toda de maneira tediosa).
- Fico chocado com algumas frases: "O Ego quer destruir o universo, precisamos impedi-lo!". É incrível que hoje em dia um vilão possa se chamar "Ego" sem que isso soe grotesco pra plateia. Que decadência desde os anos 80, onde a Xuxa lutava contra o "Baixo-Astral", e isto é o que era considerado uma ameaça à vida no senso comum.
- SPOILER: O Chris Pratt vence o vilão quando finalmente rejeita o Ego, e diz que não vê problemas em não ser excepcional, em ser igual a todo mundo. Daí o cérebro explode, o pai "perfeito" é destruído, e o Chris Pratt é salvo pelo pai imperfeito que é um criminoso e que o explorou a infância toda (claro que Yondu se mata, pois sem um ato de auto-sacrifício desnecessário no final o filme não estaria completo). O herói aprende que a perfeição não era o que ele imaginava (a noção de ideal dele era o David Hasselhoff!), e sim a banalidade que já estava ao seu lado. Ele perdoa o pai bandido e explorador, a Gamora faz as pazes com a irmã monstruosa e invejosa que tentou matá-la o filme inteiro, e o filme encerra com uma grande queima de fogos em celebração do imperfeito, do fraco, do medíocre.
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CONCLUSÃO: Medíocre em valores, mas principalmente em cinema.
Guardians of the Galaxy Vol. 2 / EUA / 2017 / James Gunn
FILMES PARECIDOS: Esquadrão Suicida (2016) / Homem-Formiga (2015) / Operação Big Hero (2014) / O Homem de Aço (2013) / Os Aventureiros do Bairro Proibido (1986)
NOTA: 2.5