Apesar do clima pesado, foi uma das poucas séries recentes que conseguiu prender minha curiosidade até o final. Um pouco pelo mistério dos assassinatos, mas mais até pelo mistério envolvendo o passado da protagonista Camille (Amy Adams está brilhante) e de sua família disfuncional. Além também da qualidade da direção de Jean-Marc Vallée (o mesmo de Big Little Lies) que é cheia de sutilezas e tem uma atenção aos detalhes que não se vê tanto na TV.
A série não chega a ser totalmente malevolente em seu Senso de Vida, pois se esforça pra mostrar que Camille é uma boa pessoa e que ela pode superar seus traumas. Ainda assim, na maior parte do tempo que gastamos vendo a série, estamos olhando pra temas deprimentes e situações negativas. Muito do incômodo vem do retrato quase exclusivo de relacionamentos conflituosos entre os personagens. As únicas relações positivas que vemos aqui estão nas poucas cenas em que Amy Adams interage com seu chefe e sua esposa. Praticamente todas as outras relações entre todos os personagens de alguma forma expressam cinismo, desarmonia, raiva, inveja, agressividade, desconfiança... E os relacionamentos entre os personagens numa história pra mim são como os acordes de uma música - eles determinam o tom geral da experiência. Essa negatividade é algo que eu percebo não incomodar muito os fãs de séries de TV (afinal a grande maioria das séries têm esse foco em relacionamentos conflituosos, então isso deve dar algum tipo de prazer pras pessoas) porém pra mim, ficar num ambiente como esse por muito tempo me coloca num mindset realmente ruim, quase como o de ter que conviver com pessoas tóxicas na vida real, me afastando da maioria das coisas produzidas pra TV hoje em dia (uma convicção minha é que pra falar sobre pessoas negativas e temas negativos, um filme não precisa colocar o espectador também num estado mental indesejável).
Ainda assim, as qualidades da série me pareciam compensar esse problema central - a sensação constante de que algo impactante estava pra acontecer nos capítulos seguintes me fez seguir em frente, e os 2 últimos episódios fizeram valer a pena.
Sharp Objects (HBO Mini-Series) / EUA / 2018 / Criadora: Marti Noxon
NOTA: 7.5