Novo thriller do Jordan Peele (o mesmo de Corra!) sobre uma família americana de classe média alta que começa a ser aterrorizada por um grupo de doppelgängers (cópias idênticas deles próprios).
ANOTAÇÕES:
- O filme tem uma embalagem muito atraente: a fotografia e a direção de arte são boas, os enquadramentos e movimentos de câmera são bem planejados, etc.
- A direção me parece um pouco forçada no começo (a sequência em que a garotinha se separa do pai no parque), como se o diretor estivesse tão preocupado em criar uma mise-en-scène interessante, em mostrar que tem estilo, que se esquecesse que o comportamento da menina não está fazendo muito sentido pro espectador (jogar a maçã do amor no chão, entrar sozinha num lugar aterrorizante, etc). Acaba tornando o momento artificial.
- A introdução da história é um pouco longa. Passamos muito tempo sendo apresentados à família, vendo eles vivendo uma vida normal, sabendo que algo terrível está prestes a acontecer, mas demora muito pra esse momento chegar, pro filme dar ao menos uma indicação sobre o que será a história, qual o sentido da garotinha gêmea que a protagonista viu na infância, etc. A gente passa uns 40 minutos de filme sem nem ter ideia de qual a natureza do "monstro" que eles irão enfrentar.
- Quando finalmente descobrimos o que são os vilões, o filme já parte direto pro showdown (aquele confronto final entre mocinhos e vilões que costuma ocorrer só nos 15 minutos finais de um filme). É uma estrutura estranha. O filme é dividido entre introdução e confronto final - parece faltar todo um 2º ato, um desenvolvimento mais rico pra história. A segunda metade acaba sendo uma grande encheção de linguiça: em vez de matar a família imediatamente assim que invadem a casa, o filme fica criando formas improváveis deles escaparem, assim a ação pode continuar se desenrolando por horas e horas, livrando o roteirista de ter que pensar numa trama melhor.
- (Anti-Idealismo) Os toques de humor destroem todo o escapismo. Quando você vê um filme de terror de verdade, você quer acreditar naquele universo, sentir aquele medo, o senso de perigo. Mas aqui, o filme fica inserindo piadas em cenas supostamente tensas pra constantemente lembrar o espectador de que nada daquilo é pra ser levado a sério. Que esse não é um filme de terror de fato: o terror é apenas uma fachada, um veículo pro cineasta passar sua mensagem, fazer sua crítica social, etc. É um filme "conceitual", "de mensagem".
- O filme utiliza de Simbolismo, referências e outros truques pra confundir o espectador e dar a impressão que o autor é sofisticado, que a história é "inteligente", complexa demais pra ele entender, quando na verdade é tudo bastante raso intelectualmente.
- (Alerta Vermelho) O filme claramente é motivado por uma ideologia de esquerda e tenta apelar pra esse tipo de público. Se em Corra! o "monstro" era o racismo, aqui, o "monstro" é a Desigualdade, como se os EUA (United States = "Us") fossem uma terra de injustiças sociais, e os "privilegiados" fossem responsáveis pela miséria dos "não-privilegiados", e por isso merecessem ser destruídos, etc.
- Assim como A Forma da Água, esse é um daqueles filmes que acham que por ele ser "simbólico", "conceitual", por não ser uma história pra ser levada ao pé da letra, que isso libera o roteirista pra apresentar um universo mal elaborado, escrever ações sem sentido, fazer os personagens se comportarem de maneira ilógica (por exemplo: a maneira como o garotinho consegue matar seu gêmeo, caminhando pra trás e levando o outro a se jogar no fogo).
- A história é uma grande glamourização do mal. Em vez de retratar os "vermelhos" como invejosos e malignos, no filme eles acabam parecendo cool de certa forma, "justiceiros sociais", usando violência de forma legítima contra pessoas inocentes.
- (Emoções Irracionais) O que tem a ver o cabeludo do parque? E o 11:11? E os coelhos? E o frisbee caindo no círculo da toalha? O filme deixa um monte de coisa mal explicada, assim o espectador se sente burro e dá mais crédito pro filme por não ter entendido direito.
- SPOILER: A reviravolta final parece forçada... A personagem já saberia desde o princípio que ela era a "cópia", e não a original. Então não tem por que ela ter um flashback aleatório depois do clímax, só pra explicar isso pra plateia. Um flashback explicativo é a maneira mais preguiçosa de se criar um plot-twist. Sem falar que fica ainda mais confusa a relação entre a pessoa clonada e a pessoa original... A princípio parece que os clones (embaixo da terra) são influenciados pelas ações dos originais (repetem seus movimentos, etc). Por que a protagonista então tinha uma vida normal, livre arbítrio, e não estava sempre espelhando a original que estava no subsolo e deveria ser a que tinha mais controle?
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CONCLUSÃO: Parte de uma premissa criativa, intrigante, porém que não se desenvolve numa trama sólida, contando demais com ideologia política e com a confusão da plateia pra atingir seus propósitos.
Us / EUA / 2019 / Jordan Peele
FILMES PARECIDOS: Hereditário (2018) / Um Lugar Silencioso (2018) / Corra! (2017) / Mãe! (2017) / A Forma da Água (2017) / Fragmentado (2016) / O Homem nas Trevas (2016)
NOTA: 4.0
O engraçado é que os críticos esquerdistas elogiam filmes assim por serem profundos e terem alguma "crítica social", mas ao mesmo tempo ignoram completamente a premissa, que é tão, ou mais absurda, que as produções do Michael Bay, por exemplo.
ResponderExcluirCaso "Nós" fosse só um terror de verdade, sem críticas sociais, esses mesmo críticos ainda assim dariam notas tão altas para esse filme? Duvido muito.
Deixando claro que eu não assisti ao filme e nem pretendo assistir, apenas vi alguns vídeos no Youtube explicando a história.
Pois é.. hoje em dia tudo sem mede em termos de mensagem política, de "relevância social".. e é nessa base que a maioria dos filmes são aclamados. abs!
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