domingo, 24 de março de 2024

Março 2024 - outros filmes vistos

O Problema dos 3 Corpos (3 Body Problem / 2024)

Continuo com meu hábito de tentar assistir pelo menos aos pilotos das séries em alta e ver se alguma escapa dos padrões que listei na postagem 5 motivos pelos quais não gosto de Séries de TV, mas mesmo com as expectativas baixas, elas quase sempre conseguem me surpreender pra pior. Tentei recentemente ver Shōgun, Mestres do Ar, True Detective: Night Country, e achei todas fracas demais pra continuar — mas O Problema dos 3 Corpos foi particularmente irritante pois a premissa inicial conseguiu me prender por 1 episódio e meio (em geral só aguento uns 30 minutos, daí sofro pouco). A cena de abertura se passa na China nos anos 60 e mostra um cientista sendo torturado por comunistas, mas mantendo sua integridade e sua defesa da ciência. Achei interessante, mas algo já me cheirava mal — seria possível uma série mainstream da Netflix ser explicitamente anti-comunista e pró-razão? Resolvi continuar vendo pra entender como eles iriam se safar com esse conteúdo, mas ao ver o nome do Rian Johnson nos créditos iniciais como produtor executivo, tive certeza que essa cena inicial se provaria apenas uma pegadinha ou pista falsa. E foi exatamente isso — o que seguiu foi o típico besteirol pseudocientífico sem pé nem cabeça que caracteriza a maioria das ficções modernas. A trama fica lançando enigmas intrigantes pro espectador e adiando as respostas para o futuro, enquanto enche linguiça pra segurar o público e aumentar as horas visualizadas na plataforma, o que torna a experiência altamente estressante. E os tais enigmas são tão nonsense que você fica cada vez mais certo que a explicação terá que envolver algum tipo de subjetivismo aleatório estilo Christopher Nolan. Quanto à "crítica" ao comunismo, já no primeiro episódio a série consegue fazer a mágica de transformar os comunistas em capitalistas gananciosos que só pensam em progresso, desenvolvimento tecnológico, e cujo maior crime é a destruição do meio ambiente (!!). Os heróis (que supostamente são antirrevolucionários e inimigos do regime) são presos pelos comunistas quando são pegos lendo o livro Primavera Silenciosa (que lançou o movimento ambientalista nos anos 60)! Dizem que revelações surpreendentes vão ocorrer nos próximos episódios, mas ficar esperando algo inteligente e plausível da série após esse início, seria se rebaixar ao mesmo nível de insanidade.


Uma Vida - A História de Nicholas Winton (One Life / 2023 / James Hawes)

Versão mais simplória de A Lista de Schindler. A história é contada com clareza, a produção é competente, Anthony Hopkins está bem como de costume, mas nada se destaca muito no nível da execução. O foco do filme está mesmo no conteúdo, no relato histórico. E a história até que é interessante, mas não acho que atinge todo seu potencial. O desejo do filme de retratar Nicholas Winton como uma espécie de santo altruísta, que só deseja ajudar os outros sem nunca demonstrar um pingo de auto-interesse, faz o personagem parecer um tanto distante, unidimensional (filmes que querem realmente acreditar no altruísmo do herói acabam sempre com caracterizações superficiais — e não projetam real Benevolência). E a história também é vazia de conflitos morais, de evolução de caráter, surpresa, pois Nicholas já começa como um altruísta totalmente dedicado, que nunca teve outros planos pra sua vida, que sempre se opôs aos nazistas e nunca duvidou das atrocidades que eles estavam cometendo, então seus conflitos ao longo da narrativa são todos externos, práticos — lidar com a falta de recursos, com burocratas que o impedem de colocar em prática toda sua virtude etc. Ainda assim, acho que o filme será satisfatório pra quem acha comovente a história real. A cena climática no programa de TV quase conseguiu me arrancar uma lágrima, mas que falta faz um John Williams nessas horas.

Satisfação: 6 (Idealismo Imperfeito)

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