
segunda-feira, 23 de junho de 2025
Férias: Disney World

Elio
Após o acerto com Divertida Mente 2, a Pixar volta ao patamar inferior que se tornou a norma nos últimos anos e entrega mais um filme de "herói envergonhado" enlatado e sem nenhum senso de entretenimento.
A história é sobre um garoto que sonha em ser abduzido por extraterrestres — não por um verdadeiro senso de aventura, mas porque isso seria um bom remédio para sua solidão e seu sentimento de inadequação na Terra. Da forma mais conveniente possível, aliens resolvem fazer contato com o planeta e abduzem justamente Elio. Enquanto está sendo teletransportado para a nave, em vez de ficar apavorado como qualquer ser humano crível, Elio comemora como se fosse um garoto que acabou de fazer um gol. Nesse momento, é como se o filme dissesse: este é apenas um filme bobinho para passar o tempo — não leve a sério nada do que está acontecendo. E é só com essa atitude despretensiosa mesmo que se pode acompanhar o resto da trama, que não faz o menor esforço para soar inteligente ou plausível (Elio, que era um garoto tímido e vítima de bullying, subitamente se torna embaixador da Terra no espaço e enfrenta, sem hesitação, monstros dez vezes maiores que ele).
Recentemente assisti a O Voo do Navegador (1986) e fiquei impressionado com como o roteiro, com toda a sua simplicidade, parecia saber o tempo todo o que havia de divertido na possibilidade de aliens contatarem um garoto na Terra — e estruturava o enredo ao redor disso. Essa é uma noção que passa longe de Elio, que tem uma trama chata de "política externa" que nunca se conecta com as emoções do espectador (o grande "sonho" do protagonista é receber um crachá que o torna membro de uma espécie de ONU intergaláctica — alguém se importa?).
Como de costume, o foco do filme acaba não sendo a aventura, mas o drama familiar, a cura de traumas, etc. Elio começa o filme deprimido porque perdeu os pais e está sendo criado pela tia, com quem não se dá muito bem. (SPOILER) Ele se volta para o espaço como forma de fugir dessas frustrações, mas, no fim, em vez de ter seus sonhos realizados, ele apenas se conecta melhor com a tia (principalmente após descobrir que ela também é solitária e imperfeita como ele) e volta para a vida que tinha antes — só que agora mais conformado e com uns amiguinhos novos.
Não estou dizendo que as lições do filme seriam completamente inválidas para uma família quebrada do mundo real, mas será que alguma criança ficaria empolgada de ir ao cinema pra aprender esse tipo de coisa? Em vez de um momento de diversão, levar as crianças ao cinema hoje tem se parecido vez mais com levá-las para uma conversa com a psicopedagoga da escola.
Elio / 2025 / Adrian Molina, Madeline Sharafian, Domee Shi
sexta-feira, 20 de junho de 2025
Extermínio: A Evolução
Fui completamente enganado pelo trailer, que dava a impressão de um terror eletrizante, quando na verdade o filme está mais pra um drama sobre um garoto tentando achar um médico para sua mãe doente. A estrutura é aquela da “jornada melancólica em um mundo devastado”, estilo The Last of Us / A Estrada, onde um pequeno grupo de pessoas precisa ir do ponto A até o ponto B em um cenário pós-apocalíptico, e no meio do caminho se depara com monstros, faz aliados, etc. Mas tudo é muito episódico e tedioso, até porque o protagonista é um garoto de 12 anos que não sabe o que está fazendo, e a outra é uma mulher insana: sabemos desde o início que não há chance de o plano deles ser minimamente eficaz. A "graça" do filme é sentir pena dessas almas perdidas perseguindo sonhos ilusórios em um mundo cruel — o filme é uma das expressões mais puras do Senso de Vida Malevolente.
É estranho chamar um filme de zumbi de "Idealismo Corrompido", pois o gênero já nasceu Corrompido em 1968 com A Noite dos Mortos-Vivos, e permaneceu assim mesmo durante os anos 80. Mas Extermínio: A Evolução merece esse título, pois representa uma subversão até dos padrões estabelecidos pela própria franquia. Os zumbis são quase irrelevantes para a história e não têm relação alguma com a doença ou a cura da mãe. Assim como Um Lugar Silencioso: Dia Um e tantos outros, o filme se distancia das convenções do gênero para focar em dramas pessoais — se a jornada se passasse em uma zona de guerra ou qualquer outro ambiente inóspito, não faria grande diferença.
Outro problema é que aqui não apenas temos o tom mórbido típico do gênero (cuja maior obsessão parece ser mostrar personagens testemunhando entes queridos morrendo de forma brutal), como também aquela combinação terrível de má escrita com pretensão artística, responsável por colocar muitos filmes nas minhas listas de piores do ano. A produção é decente, mas o roteiro é incrivelmente ilógico e cheio de furos. Há várias coisas aleatórias também, como o tal do menino Jimmy, que só aparece no prólogo e no final, ou uns inserts de filmes antigos no meio da ação, que dão a impressão de que serão justificados apenas nas continuações (às vezes, parece que estamos vendo o início de uma série de TV, não um filme). Assim como Pecadores, é mais um terror que confunde qualidade com originalidade — e originalidade com excentricidade e subversão de expectativas.
28 Years Later / 2025 / Danny Boyle
quarta-feira, 18 de junho de 2025
Como Treinar o Seu Dragão
Esse filme pra mim foi um grande experimento científico: no cinema, você raramente consegue testar hipóteses de forma controlada, como na ciência, pois não é simples levar um filme para um laboratório e manipular variáveis específicas (como a escolha de um ator) pra medir com precisão o impacto de cada elemento. Mas este remake live-action de Como Treinar o Seu Dragão (do qual eu não gostei na época) cria essa oportunidade, pois segue à risca a animação de 2010, mas com uma alteração crucial (na perspectiva do Idealismo): ele substitui o protagonista sem graça — que se tornou um dos meus exemplos favoritos de "herói envergonhado" no cinema — por um ator bastante talentoso e carismático, que "descorrompe" o herói ao interpretá-lo de maneira atraente, eliminando as caretas, os trejeitos abobalhados, o tom azedo e sarcástico de voz, etc. Com isso, o filme ficou surpreendentemente melhor. Tive até dificuldade de acreditar que estava acompanhando o mesmo enredo do original — parecia que eu estava vendo novas cenas, ações e falas, não apenas um novo ator. Mas, ao rever trechos da animação chegando em casa, vi que muito pouca coisa foi alterada de fato. Isso reforçou, pra mim, a teoria do Spielberg de que o casting representa de 40% a 60% de um filme. O filme de 2010 é tecnicamente bem feito, tem um roteiro bem estruturado, mas fica difícil investir emocionalmente em uma história quando o próprio protagonista passa o tempo todo agindo para descreditá-la.
Acho que o final continua deixando um pouco a desejar — Hiccup matar o dragão, apesar disso ir contra seus princípios, e depois ter a perna amputada (uma cicatriz teria sido um sinal de bravura mais que suficiente). Mas, desta vez, essas foram queixas isoladas dentro de um filme sólido — em vez de evidências de um problema mais profundo.
How to Train Your Dragon / 2025 / Dean DeBlois
quarta-feira, 11 de junho de 2025
Junho 2025 - outros filmes vistos

O Predador (1987)
Apesar de ser de um gênero que eu gosto, de uma era que eu gosto e com um ator que eu gosto, O Predador é um filme que nunca achei tão bom quanto sua popularidade sugere. Depois de assistir ao spin-off Predador: Assassino de Assassinos, acabei decidindo rever o original para fazer algumas comparações, e a primeira coisa de que me dei conta é que, apesar de já ter visto O Predador mais de uma vez, é um filme do qual sempre tenho uma lembrança vaga — lembro da ambientação na selva, da criatura, mas é quase como se eu não tivesse visto o filme de fato, como se tivesse pegado essas referências de trailers. Dessa vez, entendi melhor o porquê disso: ao contrário dos filmes da franquia Alien, O Predador é um bom exemplo de um filme sem bons set pieces. Todos os momentos significativos da narrativa são executados de maneira casual, desleixada, esquecível — não há nenhum trecho que renderia um “corte” fantástico, digno de ser revisitado e apreciado por si só. A criatura é revelada de maneira esparsa, sem nenhuma entrada ou momento emblemático; a primeira morte não traz nenhuma ideia memorável; a primeira vez que o protagonista vê o alien também não marca; nem a maneira como ele o derrota no final. Para mim, é como se bons set pieces dessem identidade a um filme — e, quando não há esses momentos excepcionais, o filme não se cristaliza direito na memória; o que se guarda é apenas um borrão ou imagens fragmentadas.
Na prática, O Predador está mais para um macho-filme daqueles estilo Stallone/Van Damme do que para uma ficção científica como Alien. É como se eles tivessem pensado inicialmente em um filme de guerra repleto de músculos e metralhadoras e, no fim, alguém tivesse dado a ideia de jogar um alien fortão no meio da história só pra tornar o combate mais intenso (até porque extraterrestres estavam em alta nos anos 80, assim como halterofilistas — por que não unir Rocky e E.T.?). Durante os primeiros 40 minutos, a criatura nem interfere na trama — fica apenas observando os personagens à distância, o que torna a narrativa arrastada. As tentativas do filme de nos envolver na missão de guerra no começo são totalmente fúteis. Depois, o Predador começa a matar um membro da equipe por vez — mas o protagonista só vai descobrir sua existência lá pela meia hora final, o que nos distancia dele enquanto personagem. É como um slasher estilo Sexta-Feira 13, em que os personagens não têm muito o que fazer durante dois atos, e tudo se concentra no showdown da última meia hora. Bons slashers conseguem se safar com essa estrutura, usando essa primeira hora para assustar o espectador e apresentar cenas de morte impressionantes. Mas, como disse, O Predador não tem essas grandes cenas, e eu particularmente não acho que a criatura dê medo — principalmente pela ambientação: o que torna um monstro assustador não é apenas a criatura em si, mas o contexto em que ela aparece. Quanto maior o contraste, mais assustador. O alien que aparece na festa infantil de Sinais (2002) não é horripilante por ter um design particularmente bem-feito — ele assusta pelo contexto em que aparece: em um local familiar, cotidiano, inocente. Tubarão (1975) cria tensão porque a criatura aparece em praias ensolaradas, onde crianças estão se divertindo, famílias estão de férias relaxando. Agora, em O Predador, os personagens são soldados durões numa selva cheia de cobras e criaturas perigosas, onde estão sendo perseguidos por guerrilheiros sanguinários. Nesse contexto, a criatura se torna apenas uma ameaça extra — seria como esperar que o tubarão fosse igualmente impactante se aparecesse na praia de O Resgate do Soldado Ryan.
Com um roteiro melhor, o confronto final entre o Schwarzenegger e o Predador poderia ter rendido um clímax recompensador, mas o que acontece é muito sem lógica e criatividade. O Predador supostamente só enxerga calor — mas, por algum motivo, o herói consegue se esconder dele passando lama no corpo e se mesclando visualmente com o fundo, além de despistá-lo arremessando pedras na mata, dando a entender que o monstro também capta movimento ou som. Um dos momentos de heroísmo que mais se destacam envolve uma flecha explosiva que parece uma imitação preguiçosa da cena de Rambo 2. A armadilha que Schwarzenegger prepara para matar o Predador no fim também não tem muita plausibilidade. Durante a maior parte do filme, o herói parece perdido em uma situação sobre a qual não tem o menor controle. Daí, no final, ele subitamente se torna um perito em caçar Predadores — o que não gera admiração, por ser feito de forma forçada.
Com uma direção e um roteiro fracos, O Predador só merece certo crédito porque foi feito numa época em que a indústria cinematográfica era robusta, repleta de talentos, e algum valor de entretenimento acabava recaindo sobre a maioria dos filmes: o longa é encabeçado por um verdadeiro astro, a trilha sonora de Alan Silvestri ajuda a manter a experiência estimulante, o trabalho de Stan Winston com a criatura é ótimo, etc. Mas, pra mim, o legado do filme não é proporcional à sua real qualidade.