- Legal a cena na sala de invenções da universidade. Ideias divertidas.
- Por que o Baymax é inflável?? Não é uma ideia muito boa ou lógica pra um robô de alta tecnologia. Dá a impressão que ele não é muito prático e pode estourar a qualquer momento.
- 40 minutos de filme e eu ainda não sei sobre o que é a história. É sobre a amizade entre Hiro e Baymax? É sobre os microbots? É sobre o sonho do garoto de entrar na universidade?
- Pelo pôster e pelo trailer dava a impressão que o filme era sobre o Baymax. Mas a história é muito mais sobre o vilão e o roubo dos microbots. Baymax não tem um papel fundamental nessa história. É apenas um "sidekick". O filme está indeciso entre 2 conceitos de narrativa.
- O roteiro é realmente péssimo! A parte da amizade entre Hiro e Baymax não é bem desenvolvida, daí o filme muda o foco pra trama dos microbots, que é chata, não tem um conflito interessante (parece mais um daqueles vilões do Scooby Doo que ficam sem identidade até a última cena). Depois surge do nada a história do teletransporte, da morte da filha do Callaghan, que consegue ser ainda menos interessante. O final é um verdadeiro show de más ideias!
- SPOILER: Tendência Irritante em Hollywood #5 - Auto-Sacrifício: Hiro arrisca a vida pra salvar a filha do Callaghan (que ele nem conhece). Baymax se sacrifica pra salvar Hiro. Mas no final nem Hiro nem Baymax morrem. O filme quer tudo - o crédito moral pelo auto-sacrifício, e o conforto de não ter que sacrificar nada (é que nem Jesus que pode ressuscitar depois).
CONCLUSÃO: Animação boa, roteiro e personagens fracos, valores ruins.
(Big Hero 6 / EUA / 2014 / Don Hall, Chris Williams)
FILMES PARECIDOS: Guardiões da Galáxia / Frozen / Universidade Monstros / Detona Ralph
- Muito boa a fotografia / a edição no começo do filme. Apesar de ter uma textura digital (que eu não sou tão fã) os enquadramentos transmitem ordem, clareza, precisão - refletem um diretor que sabe o que quer dizer e como irá dizê-lo.
- O personagem certamente não é admirável e o filme quase cai na tentação de glamourizá-lo, torná-lo "cool", mas fica no limite... Ainda ficamos a impressão de que ele é um cara sinistro, perturbado, então o resultado ainda é aceitável.
- Assunto interessante e original! Nem sabia que existia gente que ganhava a vida dessa maneira. Ótima forma de fazer uma crítica ao sensacionalismo na TV (e também ao público que dá audiência pra tais programas). O filme lembra Rede de Intrigas (1976) e a personagem da Rene Russo lembra muito a da Faye Dunaway.
- Roteiro muito bom. Apesar da ética duvidosa do protagonista, o filme não é apenas um estudo de personagem. Por trás disso existe uma boa trama.
- Jake Gyllenhaal está ótimo! Muito boa a atitude simpática, quase como se ele estivesse atuando em uma comédia romântica. Isso somado à magreza dele e ao olhar fixo dão um aspecto sinistro ao personagem.
- SPOILER: Várias cenas ótimas: ele arrastando o morto pra conseguir uma tomada melhor / o diálogo dele chantageando a Rene Russo no restaurante / a sequência em que ele entra na casa da família assassinada, etc. E tudo está integrado ao tema do filme, que é o mal da ambição (quando dissociada da ética).
- O maior problema é que o filme pode ser visto também como uma crítica à ambição em geral (não apenas quando dissociada da ética). Pois é extremamente comum a ideia de que a pessoa ambiciosa e focada na carreira irá passar por cima de todos pra conseguir o que quer. Então em vez de "o mal da ambição quando dissociada da ética", o tema do filme pode ser também "o mal da autoestima, da ambição e do capitalismo", o que é bem diferente!
- SPOILER: Roteiro continua forte até o final! Ideia dele ocultar a identidade dos assassinos pra conseguir mais uma matéria cria um ótimo gancho pro terceiro ato. Clímax muito bom (amigo sendo baleado, etc). Trama bem arquitetada pra ilustrar a desumanidade do personagem. A cena quase "romântica" entre ele e a Rene Russo quando ele entrega o vídeo final é hilária (de novo lembra muito o tom satírico do Rede de Intrigas).
CONCLUSÃO: Valores discutíveis, mas um suspense com um ótimo roteiro e muito bem realizado em todos os sentidos.
FILMES PARECIDOS: Garota Exemplar / O Conselheiro do Crime / Drive / O Lobo de Wall Street / Rede de Intrigas
- Elenco de primeira e produção grandiosa dão um tom respeitável pro filme. Embora essa "grandiosidade" com cara de computação gráfica não chegue aos pés dos épicos de antigamente como Ben-Hur, etc.
- Christian Bale transmite força mas não está muito gostável. Esses épicos de hoje exageram muito na testosterona: os protagonistas estão sempre fazendo cara de "macho", preocupados em parecerem durões, e esquecem de criar um vínculo emocional com a plateia.
- Começo do romance muito sem graça. Odeio essas "étnicas" belas e sem personalidade que aparecem e conquistam o herói pela aparência.
- Produção tem mais nível que a média, mas ainda assim Ridley Scott parece estar no "piloto automático". Nada no filme soa surpreendente, inovador, autêntico. Há um pouco da Mentalidade Clichê.
- Roteiro fraco, pouco estimulante intelectualmente, e sem força dramática. A rivalidade entre Moisés e Ramsés não funciona: inclusive o Ramsés às vezes me parece mais carismático do que Moisés, a ponto de eu ficar com pena dele e achar a atitude de Moisés agressiva e detestável. Talvez esse seja o problema mais grave do filme. Nem as pragas são empolgantes de ver... Estou mais com pena da população do que curtindo o espetáculo. E é horrível que essa violência toda esteja sendo causada pelo "time" de Moisés e Deus - os supostos mocinhos.
- Filme não consegue criar muita admiração por Moisés. Não é preciso muita inteligência pra ganhar essa guerra quando Deus está do seu lado usando poderes mágicos.
- SPOILER: Sequência mais interessante do filme é a ação final no Mar Vermelho. Embora algumas coisas sejam muito excessivas (Moisés e Ramsés serem pegos pela onda e não morrerem é absurdo). E os múltiplos tornados também são um exagero. Filme catástrofe é legal quando se passa no nosso mundo (no presente, em grandes cidades como Nova York, etc). Mas não há tanta graça em ver tornados e tsunamis num universo que já é fantástico.
CONCLUSÃO: Produção acima da média mas não funciona dramaticamente (conflito entre Moisés e Ramsés é mal desenvolvido e não faz a gente se interessar pelos personagens e pela história).
FILMES PARECIDOS: Noé / Pompéia / 10.000 A.C. / Cruzada
- Direção muito diferente e interessante! O filme consegue dar medo não só através da história, mas através do estilo - da direção de atores, do uso de som, da fotografia, etc. Lembra um pouco o terror italiano dos anos 70 (Suspiria, etc). Cenas bizarras (como a da mãe se masturbando) só contribuem pra estranheza do filme.
- Medo desse livro do Babadook e das ilustrações!
- O garoto é muito irritante! Nenhum dos personagens é totalmente gostável. A gente simpatiza pela mãe (pelo drama que ela vive) mas de vez em quando ela tem atitudes agressivas com outros personagens que mancham um pouco sua simpatia.
- Sequência em que Sam tem a convulsão: Essie Davis está excelente como a mãe! Uma das performances mais surpreendentes do ano.
- SPOILER: Voz do Babadook no telefone é arrepiante...!
- Um problema frequente em filmes desse gênero é que os personagens não têm muito o que fazer - ficam aguardando passivamente o próximo ataque do monstro, o que dá um tom um monótono pra história. Mas pelo menos o Babadook é um conceito de monstro diferente (não é um filme de espírito como esses que saem toda semana).
- SPOILER: Sinistra a mãe "possuída"!! A atriz realmente está dando um show. É interessante essa inversão de papeis: a mãe se tornando o "problema" e o filho se tornando a figura sensata e responsável com a qual a gente se identifica.
- Filme "empresta" algumas ideias de filmes clássicos de terror como O Iluminado, Poltergeist, O Exorcista.
- No final o filme passa tempo demais tentando apenas provocar emoções de medo através de imagens, sons, sem voltar pra um clima normal, de realidade, o que eventualmente se torna cansativo. Falta variedade de emoção, e falta também alimento pro cérebro do espectador... Algo que o deixe curioso pela história, que vá além de ter sensações de medo.
- SPOILER: Desfecho da história muito bom!! Fica claro agora o que representa o Babadook - e é legal a ideia de que ela não pode se livrar totalmente do seu trauma, mas que pode administrá-lo de forma que isso não a impeça de viver sua vida e ser feliz.
CONCLUSÃO: Um dos filmes de terror mais interessantes e sinistros dos últimos tempos, com uma performance surpreendente de Essie Davis.
(The Babadook / Austrália / 2014 / Jennifer Kent)
FILMES PARECIDOS: A Entidade, Alucinações do Passado, O Iluminado.
- Mãe completamente doida! Existe gente assim? A relação dela com o filho é totalmente surreal, mas ao mesmo tempo divertida de assistir. Eles se gostam e se divertem juntos, e não têm nenhum tipo de filtro - falam o que pensam, fazem o que têm vontade, são livres de qualquer repressão (com consequências destrutivas, mas não deixa de ser fascinante de ver). Os atores são carismáticos e totalmente convincentes.
- Estilo de direção muito excêntrico e interessante! Incrível a autenticidade e liberdade artística do diretor. Até o formato 1:1 da tela é fora dos padrões. Mas não parece exibicionismo gratuito pois os personagens e o conteúdo das cenas são ricos. E além disso, faz sentido um filme sobre pessoas excêntricas ser contado de uma maneira excêntrica. A gente se sente no mundo deles.
- A loucura deles se torna tangível pois o filme está sempre colocando os dois em ambientes convencionais, interagindo com pessoas convencionais, o que cria o contraste certo.
- Chocante a briga do Steve com a mãe! O filme tem uma cara realista, mas ao mesmo tempo é escapismo, pois raramente vemos pessoas assim no dia a dia ou vivemos emoções tão extremas.
- Briga de Steve com a vizinha igualmente forte! Psicologicamente, é interessante uma mulher mais recatada (que tem dificuldade até de falar) se sentir atraída por uma família tão sem limites. A ligação emocional dela com Steve acontece depois que ela "explode" na briga e começa a falar a língua dele.
- Não há uma trama estruturada (o filme está mais pro Naturalismo), mas ele não se torna entediante pois, além do magnetismo dos personagens, há sempre coisas dramáticas e imprevisíveis acontecendo.
- Bonita a amizade que vai se formando entre Kyla e os dois (a cena da "selfie" que eles tiram, etc). Apesar dos temas pesados, o filme foca em relações positivas.
- Curioso ver várias referências "pop" num filme naturalista (Celine Dion, Esqueceram de Mim, etc). Pode ser sinal de Idealismo Corrompido no diretor. Ele está sempre flertando com o universo do entretenimento, mas resistindo à tentação de se tornar positivo.
- SPOILER: Várias cenas boas: a que Steve é humilhado no karaokê, a tentativa de suicídio no mercado, sequência em que a mãe sonha com o futuro do Steve. A entrega dele no hospital é fortíssima.
- SPOILER: Ambíguo o fim. Será que o menino vai se jogar pela janela? O que significa?
CONCLUSÃO: Filme denso, extremamente autêntico, com um show de atores, personagens e direção. Se tivesse uma narrativa igualmente inspirada seria ainda melhor.
- Produção grandiosa e atores famosos dão um senso de "importância" pro filme que prende a atenção até certo ponto.
- História muito pouco envolvente / empolgante. O filme tem vários protagonistas, mas nenhum muito carismático, e nenhum com um desejo ou um objetivo muito forte... Como espectador eu não quero aguardar 2 horas só pra ver uma batalha no final (e o fato de serem 5 exércitos não torna a coisa 5 vezes mais interessante).
- Não entendo muito bem de quem é o ouro, o que pertence a quem, quem está certo e quem está errado... Isso prejudica o envolvimento.
- Cenas de ação parecem completamente irreais e por isso não têm efeito. Fica tudo com cara de video game - um mundo onde as leis da física não existem.
- Detesto quando o dinheiro (nesse caso, o ouro) é o grande vilão do filme. Os personagens negativos todos desejam o ouro... E os bons só querem saber do lar, dos amigos, de cumprir seus deveres, etc.
- SPOILER: Falta um vilão forte! O rei já era um vilão fraco (pois estava "possuído" pela ganância - não havia um conflito moral sério). Agora que ele passou pro lado do bem, os vilões são apenas esses Orcs que não têm personalidade.
- A trilha sonora tem alguns bons momentos... Gosto quando surgem sutilmente os temas do anel, do Hobbit, etc...
- Clichês: muitas cenas onde o personagem está prestes a ser morto por um vilão, e daí um amigo aparece no último segundo e golpeia o vilão pelas costas! Alguém preocupado em entreter não repete a mesma cena diversas vezes no filme e espera que ela tenha algum impacto.
- O filme todo parece um exemplo de "classicismo": o cineasta segue todas as regras da "Jornada do Herói" (como George Lucas fez em Star Wars), e acha que isso irá automaticamente produzir um filme excitante e dramático, "livrando" ele de ter que entender o que faz uma boa narrativa.
- SPOILER: Nada muito surpreendente, mas legal a conexão com O Senhor dos Anéis na última cena.
CONCLUSÃO: Parte técnica impressiona, mas não há uma história envolvente, personagens fascinantes - falta entretenimento e emoção.
(The Hobbit: The Battle of the Five Armies / Nova Zelândia, EUA / 2014 / Peter Jackson)
FILMES PARECIDOS: Malévola / As Crônicas de Nárnia (série) / Transformers (série) / Piratas do Caribe (série)
- O trio principal é carismático e os diversos coadjuvantes famosos (Jennifer Aniston, Kevin Spacey, Jamie Foxx, Chris Pine, etc) tornam o filme interessante de assistir.
- A história é mais convincente que a do primeiro filme, onde eles queriam assassinar os chefes. A ideia do sequestro (nesse contexto de recuperar o dinheiro perdido no golpe) é mais divertida e parece menos forçada.
- Legal eles mencionarem Dolly Parton e Como Eliminar Seu Chefe (1980) - que provavelmente foi uma inspiração.
- Jennifer Aniston está ótima (de novo) como a viciada em sexo.
- A trama é um pouco confusa pra uma comédia. É o tipo de filme que quer estar vários passos à frente do espectador pra se mostrar mais esperto que ele. Não gosto dessa mistura - do filme querer ter uma história cômica e ao mesmo tempo uma trama sofisticada digna de um policial.
- Outra mistura que não gosto: do humor ingênuo e inocente com o humor grosseiro, cheio de palavrões, etc. Cansa ficar saltando entre estados de espírito.
CONCLUSÃO: Comédia despretensiosa, no mesmo nível da primeira parte, que diverte por causa do elenco e das participações especiais.
(Horrible Bosses 2 / EUA / 2014 / Sean Anders)
FILMES PARECIDOS: Anjos da Lei 2 / Vizinhos / Se Beber, Não Case
- Um pouco clichê a apresentação do herói, mas não é mal feito (ele perder a esposa, ele sendo bonzinho com um cão - parece um manual básico de como criar empatia pelo personagem).
- Outros clichês: o homem misterioso assistindo o enterro de longe (com um guarda-chuva!) / os vilões com sotaque estrangeiro...
- Locações elegantes e a presença de Keanu Reeves dão certo nível pra produção.
- SPOILER: A motivação do personagem é muito banal! Keanu vai perseguir os bandidos só pra vingar a morte do cachorro??? Se os bandidos tivessem matado a mulher dele, daí sim seria mais compreensível. Ou se houvesse uma motivação espiritual / psicológica por trás disso tudo, que fosse além da morte do cachorro e do roubo do carro.
- A história é uma desculpa esfarrapada pra mostrar pancadaria e violência. O filme tem "agressividade" como um valor em si (cenas de morte, ferimentos, armas, os personagens são criminosos, os ambientes são underground, a trilha é de rock, etc).
- Ridícula a cena do Keanu atirando em todo mundo na casa noturna!! Esse massacre todo por causa de um cachorro? O que é isso, video game? GTA? É violência pela violência - o filme não se preocupa nem em ter uma justificativa plausível para o que está acontecendo. E também não se preocupa em criar vilões detestáveis, pra que pelo menos a plateia tenha alguma satisfação emocional ao ver a matança.
- O filme é superficial e materialista, no sentido de que o Keanu só é "heroico" em termos puramente físicos - no fato dele conseguir matar vários homens sozinho. Fora essa habilidade, não há nada de admirável no personagem. Ele é o típico herói do filisteu, do homem superficial e sem imaginação.
CONCLUSÃO: Keanu Reeves e direção competente dão uma aparência respeitável pro filme, que no fundo é uma grande desculpa pra mostrar violência.
(John Wick / EUA, Canadá, China / 2014 / Chad Stahelski)
FILMES PARECIDOS: O Protetor, Busca Implacável, Carga Explosiva, etc.
- Bom o começo mostrando os detalhes da confecção das roupas, o perfeccionismo de Yves. Ao mesmo tempo, ele é apresentado como como uma pessoa ligeiramente antipática.
- Produção decente (boa fotografia, figurinos, elenco, etc).
- O que tem a ver a montagem mostrando os acontecimentos políticos da época? Ficou algo solto, sem relação com o resto do filme.
- Caracterização de Yves é superficial. O que o motiva? O que ele quer expressar com suas roupas? O filme não nos faz conhecê-lo. É um retrato externo de um estilo de vida superficial, vazio, de pessoas cínicas e entediadas.
- Quase todos os personagens coadjuvantes são anônimos, distantes, mal apresentados. O filme dá a sensação de entrar numa festa errada onde você não foi convidado e não conhece ninguém.
- Embora não seja americano, o filme segue a tendência das biografias ofensivas. O desejo do cineasta parece ser o de mostrar a podridão por trás do sucesso, do talento... de igualar genialidade a perturbação mental, de mostrar pra plateia que talento é algo aleatório que não está ligado a virtudes, a esforço, etc.
- Não há história. Por que retratar esse período específico da vida de Yves e não qualquer outro? O que de importante está acontecendo com ele? O filme é cheio de cenas chatas, desnecessárias, que não levam a lugar nenhum e nem revelam algo de interessante a respeito do personagem. O filme é uma celebração do mundo das aparências, das drogas, do sexo casual (e não é uma condenação desse estilo de vida - os personagens são glamourosos).
- Final é interminável e vai ficando cada vez mais monótono, sem ritmo, fragmentado, tedioso.
- Roupas do desfile final são muito bonitas. A melhor coisa do filme é o figurino, sem dúvida.
CONCLUSÃO: Biografia longa e fútil de Saint Laurent que foca no lado decadente do personagem e carece de história.
(Saint Laurent / França, Bélgica / 2014 / Bertrand Bonello)
FILMES PARECIDOS: Coco Antes de Chanel / Os Sonhadores
- Direção de atores não é muito boa. Deborah Secco e Fernanda Montenegro seguram, mas o garoto principal e o resto do elenco não convencem muito bem.
- Nível geral do filme é baixo - tecnicamente não há nada de especial, os diálogos são ruins, os personagens são fracos, a psicologia é superficial, não há um drama envolvente, cenas memoráveis, etc.
- Retrato naturalista de pessoas decadentes, vivendo num lugar horrível e sem objetivos interessantes. E pra piorar o filme mostra os personagens com simpatia, como se eles fossem pessoas interessantes ou "descoladas" no mínimo.
- A conexão entre os dois não é muito profunda ou fascinante, a impressão que dá é que eles se uniram pela solidão mesmo, não por reais afinidades.
- Nojento mostrar os dois se beijando na boca logo depois da cena em que a personagem aidética é vista tossindo sangue.
CONCLUSÃO: Filme pobre tanto em técnica quanto em conteúdo que tenta ganhar alguma relevância apelando para o negativo e deprimente.
(Boa Sorte / Brasil / 2014 / Carolina Jabor)
FILMES PARECIDOS: O Azul É a Cor Mais Quente, Paraísos Artificiais.
- Um pouco confuso o começo pra quem não lembra bem da última parte.
- 40 minutos de filme e ainda não há um gancho dramático. A trama é burocrática, chata, não há uma meta interessante, suspense, ação, romance. O que prende a atenção é mais o fato do filme ser uma produção cara, ter uma atriz forte no papel principal, um tom sério, mas não há um bom roteiro de fato sustentando isso tudo.
- O filme parece focar numa discussão política, mas na realidade não diz nada de concreto a respeito de política (exceto que uma ditadura é ruim, o que é meio óbvio). Tanto a direita quanto a esquerda poderão aproveitar o filme e achar que no fundo ele defende os seus ideais (na minha visão, ele está sutilmente mais em sintonia com a esquerda).
- Não foi a Katniss que derrubou a aeronave em cima do hospital?? Ficou confusa essa parte.
- Outra parte confusa: os rebeldes cometem suicídio em massa só pra explodir a hidrelétrica???
- O filme foca muito no negativo - no sofrimento, na dor, no dever. Das "10 tendências irritantes em Hollywood", o filme segue pelo menos umas 5. Pra um dos filmes mais comerciais e "pop" do ano, ele é incrivelmente anti-entretenimento, anti-prazer. A preocupação parece ser mais a de soar "sério" e "respeitável".
- A heroína não tem 1 desejo próprio, o que a torna pouco interessante. Ela parece estar apenas a serviço dos outros, sem nenhum interesse pessoal (tudo o que ela faz é pelo povo, pela irmã, nem mesmo o romance com Peeta parece ser algo que ela deseja com intensidade).
- SPOILER: Surpreendente o ataque do Peeta, embora seja um susto meio barato (ele simplesmente estava drogado - jamais teria feito aquilo em sã consciência).
CONCLUSÃO: Produção respeitável porém pouco divertida, pouco surpreendente, sem muita originalidade, que foca mais no aspecto político da história, mas não diz nada de interessante a respeito disso.
(The Hunger Games: Mockingjay - Part 1 / EUA / 2014 / Francis Lawrence)
FILMES PARECIDOS: Maze Runner, O Doador de Memórias, Divergente, Harry Potter, etc.
- Ótima a ideia da "pegadinha" que o Lóide faz com o Debi. É como se eles tivessem sido congelados por 20 anos e a história continuasse agora como se nada tivesse mudado.
- Gosto do estilo caricato e exagerado do filme, que torna inconfundível o fato do filme ser uma comédia. Tem muita comédia hoje em dia que borra a linha divisória entre comédia e drama e às vezes pede pra gente se importar seriamente pelos personagens (ou pela história).
- A trama de ir atrás de um rim não é das mais interessantes... A história poderia ser um pouco mais divertida.
- As piadas nem sempre são boas, mas gosto do fato de ser uma comédia criativa, baseada em ideias (muitas piadas visuais) e em performance, não apenas em escatologia, cenas constrangedoras (embora o filme não esteja livre disso).
- Clímax na conferência menos divertido do que o resto do filme (não tem tanto a ver esse clima "policial" que o filme adquire no fim).
- SPOILER: Brilhante a história do rim ter sido uma pegadinha também. Nada mais apropriado do que o filme inteiro ter sido uma besteira completamente desnecessária!!!
CONCLUSÃO: Irregular, mas ainda assim é uma comédia cheia de boas piadas e com performances divertidas de Jim Carrey e Jeff Daniels.
(Dumb and Dumber To / EUA / 2014 / Bobby Farrelly, Peter Farrelly)
FILMES PARECIDOS: Família do Bagulho, Anjos da Lei, Professora Sem Classe, O Âncora, Jackass: Cara-de-Pau - O Filme.
- Visual realmente impressionante! Que locações são essas na fazenda???? Lindíssimo.
- Filme cheio de ideias criativas, divertidas e excêntricas (tanto no visual, quanto nos diálogos, nas ações, etc). Lembra um pouco o estilo do Wes Anderson, mas melhorado, pois há inteligência nos diálogos, profundidade psicológica, e além disso os personagens e os relacionamentos são gostáveis (o garotinho é inteligente, independente, fofo, etc).
- Detalhe técnico: a legenda em português é muito mal feita e entra em conflito com o 3D do filme.
- Filme sofre do que chamo de Idealismo Corrompido. Basicamente é a história de um menino especial, gênio, que vive uma grande aventura e ganha um prêmio no fim. Virtudes, aventura, triunfo: tudo isso parece ser Idealista, no entanto o filme não soa Idealista, pois tudo isso é bastante atenuado através da direção, de forma que o filme fica parecendo uma fábula, algo que não existe e não está acontecendo de fato - uma história inspiradora mas que é só de "brincadeirinha". Não é realista e nem tenta parecer.
- Viagem de trem linda! O grande mérito do filme é a fotografia em 3D, sem dúvida. Até os vermes na laranja parecem lindos.
- Elenco do filme é bom: Judy Davis, Helena Bonham-Carter. Divertida a relação da Judy Davis com o garoto e a forma como ela o acolhe.
- SPOILER: A história da morte do irmão parece algo desencaixado do filme, que não tem a ver com o tema e a história - apenas algo acrescentado pra tentar dar mais carga dramática ao filme.
- SPOILER: O final é um pouco estranho e anticlimático: a entrevista dele pra TV quase vira um fiasco, depois a Judy Davis, que era adorável, xinga o menino de "motherf..." (isso combina com o Idealismo Corrompido do filme: "sujar" o final um pouco pra ele não se tornar tão satisfatório).
CONCLUSÃO: Filme simpático, com personagens gostáveis, ideias criativas, mas que se destaca principalmente pelo visual.
(L'Extravagant voyage du jeune et prodigieux T.S. Spivet / França, Austrália, Canadá / 2013 / Jean-Pierre Jeunet)
FILMES PARECIDOS: Moonrise Kingdom, Tão Forte e Tão Perto, Viagem a Darjeeling, O Fabuloso Destino de Amélie Poulain.
(Capítulo 19 do livro Idealismo: Os Princípios Esquecidos do Cinema Americano)
Naturalismo e Experimentalismo não costumam ser uma grande ameaça para o Idealismo. São artes que não competem com a indústria do entretenimento e raramente atingem o grande público. O grande perigo, então, são os casos mistos — obras que se baseiam em alguns dos valores Idealistas, mas que os misturam com valores opostos, destrutivos, que vão contra o Idealismo autêntico.
Nem sempre isso é algo intencional, um desejo malicioso de destruir o Idealismo. Muitas vezes é apenas reflexo dos valores reais do artista, que está no meio do caminho entre um Senso de Vida benevolente e um Senso de Vida malevolente. A vasta maioria do entretenimento de hoje em dia cai nessa categoria, e como a maioria do público também não é puramente Idealista, esses filmes acabam sendo os maiores sucessos comerciais da atualidade.
Quando somos criança, todos gostamos do Idealismo e o aceitamos sem questionamento (geralmente nem temos consciência de que há uma polêmica a respeito disso, e não entendemos por que alguém iria querer consumir arte que não fosse Idealista). Na medida em que crescemos, algumas pessoas preservam esse gosto pelo Idealismo, mas outras o abandonam, passando a ter uma visão cínica e pessimista da vida e querendo ver essa visão reafirmada na arte.
O que ocorre é que na maioria dos casos as pessoas ficam no meio do caminho — nem cedendo totalmente ao pessimismo, e nem aceitando a visão Idealista por completo. É aí que vemos o Idealismo Corrompido: quando o artista em algum nível se identifica com princípios Idealistas — quer criar entretenimento, contar histórias de aventura, heroísmo, mas como ele não acredita plenamente nesses valores, ele insere uma série de elementos destrutivos na obra, buscando uma mistura que reflita melhor seu Senso de Vida conflitante. O resultado é um trabalho misto, que cria e destrói as próprias intenções, fica em cima do muro, nem inspira e nem deprime totalmente.
Vários motivos podem levar a essa atitude. Muitas pessoas acreditam subconscientemente que Idealismo é algo que reflete imaturidade, ingenuidade, falta de realismo — e que cinismo, pessimismo e moderação refletem maturidade, sabedoria, responsabilidade (talvez por ser algo exclusivo da vida adulta, o que não torna isso necessariamente desejável; artrose também é algo exclusivo da vida adulta e nem por isso é algo bom).
Outros tiveram uma criação que punia e reprimia qualquer tipo de prazer (como certos ensinamentos religiosos), e a partir daí o sentimento de prazer foi eternamente atrelado a um sentimento negativo de culpa. Portanto, agora eles só conseguem vivenciar qualquer forma de prazer quando junto dele existir uma boa dose de dor, sofrimento, sacrifício, que ajudará a compensar a culpa. É daí que vem um certo “culto à dor” presente em muitos filmes populares das últimas décadas. Quando pensamos na série Harry Potter, por exemplo, especialmente após os dois ou três primeiros filmes, lembramos muito mais de Harry sofrendo, fazendo caras de dor, do que dele se divertindo, passando por situações que crianças realmente gostariam de passar.
Outros, ainda, fogem do Idealismo por medo da ridicularização, medo de soarem “bregas”, afinal, o Idealismo por natureza é pretensioso — não no sentido negativo, mas no sentido de que ele expõe uma busca por excelência, por um ideal. Então quando você fracassa no Idealismo, o tombo é muito mais alto e doloroso. Quando olhamos para as coisas “trash” dos anos 80, elas parecem muito mais constrangedoras do que trabalhos ruins de artistas Naturalistas, que em nenhum momento prometeram qualquer coisa ou demonstraram grandes ambições. Se você fracassa tentando cantar como a Mariah Carey, você está muito mais exposto emocionalmente e sujeito à ridicularização do que alguém que fracassa tentando cantar como o Bob Dylan. O Idealismo exige coragem, e, uma cultura cínica em relação ao Idealismo, onde as pessoas estão sempre prontas para zombarem daqueles que falham em sua busca, é um ambiente tóxico onde poucos irão se arriscar.
La La Land: Cantando Estações (2016) é um bom exemplo de um filme que flerta com o Idealismo, mas ao mesmo tempo o corrompe, talvez para parecer mais maduro, “pé no chão”. Não acho que a intenção de Damien Chazelle tenha sido atacar o gênero musical conscientemente. A impressão que fica é que em algum nível ele gosta de musicais, tentou fazer algo (meio que) para homenagear o gênero, mas, como ele não acredita de fato nesses valores, ele adota uma atitude cínica que subverte completamente o espírito do gênero. La La Land não é um musical de fato. Não é feito para quem gosta e entende de musicais. É feito para quem acha que há algo de superficial e tolo neles — não só em musicais como no entretenimento Idealista em geral (a maneira como o filme zomba do pop dos anos 80 na cena da festa na piscina é uma ilustração perfeita dessa atitude — a protagonista dançando ao som da banda, mas fazendo caras e bocas para deixar bem claro que ela é cínica e não admira de fato aquele tipo de música). A própria expressão “La La Land” já é carregada de pessimismo, da ideia de que felicidade é algo utópico e inatingível, o que é reforçado pela tagline no cartaz do filme: “Para os tolos que sonham”! Musicais de verdade inspiram sonhos — são sobre beleza, espetáculo, talento, diversão, otimismo — criam um mundo ideal na tela para o deleite do espectador. La La Land é um filme sobre “vida real”, sobre frustrações da vida adulta, que, em vez de homenagear os musicais, acaba usando-os mais como uma maneira de realçar a melancolia dos personagens.
Como há pouca originalidade no entretenimento e poucos artistas dispostos a criar novas histórias e heróis que possam inspirar o público, aqueles que querem criar entretenimento com algum elemento de Idealismo muitas vezes precisam se refugiar no passado. Quando você olha para os campeões de bilheteria dos últimos anos, é impressionante o quanto o entretenimento de hoje ainda é dependente do passado e continua surfando na onda do período Idealista dos anos 70–90. Só em 2019, entre as 15 maiores bilheterias do ano estavam remakes ou sequências de filmes como O Rei Leão (1994), Star Wars (1977), Aladdin (1992), Toy Story (1995), Jumanji (1995), It: Uma Obra Prima do Medo (1990). A franquia Jurassic Park continua a todo vapor com os novos Jurassic World. Um lado do público e da cultura parece estar gritando, sedento por Idealismo. Mas o outro lado não consegue abraçá-lo completamente, então, a maioria desses remakes e sequências traz essas histórias de volta, mas sem seus valores originais, sem o Idealismo, que é o que as tornaram um sucesso em primeiro lugar.
É muito comum filmes ou séries atuais se passarem nos anos 80 e tentarem criar um clima de nostalgia, como It: A Coisa (2017) ou Stranger Things (2016). Mas Stranger Things é uma “homenagem” aos filmes dos anos 80 na mesma medida em que La La Land é uma “homenagem” aos musicais clássicos. Nos dois casos, as produções soam inautênticas, pois elas não têm o mesmo espírito nem os mesmos valores dos filmes que dizem homenagear. Elas fingem que estão resgatando o espírito do passado (um período considerado mais feliz, divertido e inocente do que o atual), mas, na prática, fazem isso apenas num nível superficial e concreto: através do visual, da trilha sonora, da cenografia, fazendo referências explícitas a certos filmes. Mas naquilo que realmente importa, nos valores essenciais transmitidos através da história, dos personagens, são produções que estão em plena harmonia com o cinismo da atualidade e não refletem em nada o entretenimento da época.
Há muitas maneiras de contaminar o Idealismo com valores opostos. Filmes de super-heróis, por exemplo, foram se tornando cada vez mais sombrios e trágicos para se adequarem aos tempos atuais. Mas Hollywood não consegue abandonar heróis totalmente e passar a contar histórias sobre pessoas comuns apenas. As pessoas querem Idealismo por um lado, mas isso tem que vir disfarçado, distorcido, camuflado, corrompido. Quando vamos ao cinema ver um filme de super-herói, um aspecto do filme nos atrai com base no nosso desejo de admirar virtude, de se sentir inspirado, de buscar diversão. Mas quando o filme começa, vemos apenas heróis sofrendo, demonstrando suas fraquezas, apanhando, brigando uns com os outros, seus poderes são apresentados frequentemente como maldições — em vez de ficarmos inspirados, nós, na plateia, nos sentimos quase sortudos por não estarmos na pele deles.
Existe uma glamourização da figura dos “losers” especialmente em filmes ou séries para jovens, como Glee, que prendem a atenção sugerindo narrativas de sucesso, busca pela fama, mas na prática só nos mostram personagens comuns, frágeis, que não inspiram um senso real de ambição.
Logan (2017) foi um enorme sucesso de público e crítica, e transformou X-Men praticamente num road movie rural, focando em relações familiares, no lado “humano” do herói, que em vez de estar engajado em situações grandiosas e excitantes, aparece deprimido, com tendências suicidas, e é visto ao longo da história consertando vazamentos, entrando em brigas com fazendeiros, ajudando um senhor cadeirante a sentar na privada.
Um herói dificilmente escapa de um filme hoje em dia sem ter que fazer um grande ato de autossacrifício no final, que será mostrado como prova definitiva de seu caráter. Um herói não deve mais refletir sucesso, autoconfiança, se divertir, conquistar a mocinha no fim. Ele tem que sofrer, se sacrificar, parecer decadente, e às vezes até morrer para ganhar o respeito do público. O filme Logan termina com o herói morto e uma imagem altamente representativa do entretenimento atual: um crucifixo sobre o túmulo de Wolverine formando o “X” dos X-Men, algo que consegue superar em mau gosto o “Supercaixão” com logotipo no qual Superman é enterrado em Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016).
Vou listar abaixo algumas das estratégias que esses artistas divididos costumam utilizar para corromper o Idealismo da obra:
— Expressando algo Idealista, mas de maneira caricata, exagerada, dando um tom cômico, fútil, infantil e não sério para estes valores;
— Não sendo Idealista, mas fazendo referências e flertando constantemente com o universo do Idealismo (a cultura dos anos 70–90, por exemplo), geralmente em tom cínico;
— Fazendo o herói agir, gesticular e se portar de maneira casual, vulgar, atrapalhada, impedindo qualquer projeção de glamour e superioridade;
— Usando humor contra o personagem. Tornando o herói ridículo e fazendo o espectador rir dele (não com ele);
— Sugerindo algo Idealista em um momento, mas logo em seguida fazendo algo Anti-Idealista para quebrar o clima;
— Expressando algo Idealista, mas pesando a mão no violento, no vulgar, no imoral, no trágico, no melancólico, no feio e no negativo para “equilibrar” o resultado (enfatizando tanto o contraste que você quase não percebe mais qualquer Idealismo). Essa é uma das táticas mais populares hoje. Mad Max: A Estrada da Fúria (2015) é um bom exemplo — o filme enche nossos olhos com sua fotografia deslumbrante, suas cenas de ação espetaculares, mas ao mesmo tempo fica nos bombardeando de minuto em minuto com imagens de caveiras, pessoas machucadas, membros amputados, pessoas comendo animais nojentos, grávidas sendo mutiladas etc.;
— Enfatizando o lado fraco e impotente do herói. Focando em seus problemas, limites, distúrbios psicológicos, questões emocionais, frustrações — não apenas como um contraste, mas como suas características mais marcantes;
— Ou pior: acrescentando falhas de caráter, toques de maldade e irracionalidade ao herói, reforçando a ideia que ninguém é 100% bom, nem mesmo um super-herói ou uma princesa de um desenho infantil;
— Expressando algo Idealista, mas de maneira atenuada, casual, despretensiosa, ponderada, sem vigor e intensidade, como se não fossem valores tão importantes, ou não devessem ser adotados em excesso (misturando Idealismo com Naturalismo, minimalismo);
— Mostrando ambição e qualidades positivas apenas no lado técnico/visual da produção, mas não nos aspectos mais relevantes da obra (a produção é espetacular, mas os protagonistas são comuns, a história não é inspiradora);
— Fazendo um filme de herói, mas escalando um ator de aparência comum e não atraente para o papel. Ou o contrário: escalando atores que transmitam algo de heroico e atraente visualmente (um ator consagrado, associado ao Idealismo, por exemplo), mas colocá-los em uma história deprimente e Naturalista;
— Tornando o herói parte de um grupo, de um time, onde o foco seja o trabalho em equipe, o coletivo, e o protagonista não ganhe crédito demais por suas conquistas.
Não estou dizendo que um herói não possa apresentar fragilidades ou desvantagens, como já indiquei antes. Mas há uma diferença grande entre ter limitações, fragilidades, e ser esse tipo de “herói envergonhado” que é reflexo do Idealismo Corrompido. A principal é que, no primeiro caso, o foco está na projeção das virtudes e não na projeção das falhas — as qualidades e as conquistas do herói são dramáticas, convincentes, empolgantes, memoráveis, criativas, e as fragilidades estão presentes apenas como um contraste, para dar um senso de realismo e tornar a superação ainda mais intensa. Já no caso do Idealismo Corrompido, toda atenção é dada às fragilidades, às inseguranças, ao lado “humano” e “realista” do herói, mas nunca vemos uma apresentação dramática de suas virtudes, daquilo que o tornaria digno de ser admirado. Nesses filmes, a vitória do herói no final geralmente é mal elaborada, esquecível, resolvida de maneira apressada, artificial — fica sempre meio vago como foi que ele venceu, como derrotou o vilão. Já em num filme sobre heróis de verdade, haverá um grande esforço criativo dedicado a esses momentos onde o herói vence, se supera, demonstra suas virtudes — as melhores ideias e os melhores set pieces dos filmes muitas vezes serão criados justamente com essa finalidade.
Heróis são feitos para provocar inspiração — as crianças saem do cinema motivadas, imitando seus gestos, com um senso de ambição renovado. Já esses heróis corrompidos tentam unir as intenções incompatíveis do Idealismo com as do Não Idealismo. Não sabem se querem inspirar o espectador ou amenizar sua baixa autoestima, gerar confiança focando em virtudes, ou dar um senso de conforto, dizendo que ninguém é grande demais, que todo mundo é inseguro, tem falhas, portanto, não há por que se sentir inferior.
Lista — exemplos de Idealismo Corrompido (e Anti-Idealismo) no cinema: https://boxd.it/tsusC
Antigamente o normal em Hollywood era você ver protagonistas admiráveis, figuras exemplares, inspiradoras, que o público saía da sala querendo imitar. Agora os heróis passaram a demonstrar todo tipo de problema, de questões psicológicas, fisicamente se tornaram mais limitados, moralmente ambíguos e questionáveis - isso quando o filme não abandona totalmente o conceito de herói e passa a retratar figuras assumidamente más. Isso tudo faz parte de uma tendência Anti-Idealista que ganhou força nos EUA nesse começo de século. Leiam a postagem "Idealismo Corrompido" pra uma discussão detalhada.
2. Câmera na Mão
Antigamente a câmera na mão costumava ser usada em certos contextos: quando se queria criar um clima de documentário, ou em cenas de ação / suspense (Kubrick com frequência usava câmera na mão em cenas de briga ou de tensão pra criar um clima de instabilidade). Mas é isso que a câmera na mão produz: um clima de instabilidade, improviso, agitação e realismo cru. É um efeito perfeitamente útil em certos momentos, mas quando isso passa a ser a maneira normal de se gravar filmes e séries, a técnica acaba perdendo o sentido e dando um tom de improviso pro filme como um todo: como se o diretor quisesse dizer que ele é despretensioso, não liga muito pra capricho técnico, não está querendo atingir excelência e nem criar um universo muito idealizado.
3. Culto à Dor
É quando o cineasta acredita que sofrimento/dor/violência são coisas dignas de contemplação e usa isso como se fosse um substituto para conteúdo e méritos cinematográficos reais - não como uma técnica pra criar tensão, um contraste pra cenas positivas que virão depois na história e trarão alívio, mas como um fim em si mesmo. Sempre houve filmes agressivos e violentos em todas as épocas, mas o que chama atenção agora é essa atitude estar invadindo o cinema de entretenimento: filmes de grande bilheteria como Batman, Harry Potter, desenhos como Toy Story 3, inúmeras versões "dark" de filmes infantis e contos de fadas (Branca de Neve e o Caçador, etc) - ser sombrio ou pesar a mão na violência e no sofrimento de repente se tornou a forma mais garantida de ser "cool" e respeitável, indicando orgulhosamente pra plateia que o filme não é agradável demais e, portanto, não é "superficial" e "hollywoodiano".
4. Fotografia Dessaturada
Cor é sinônimo de vitalidade, saúde, alegria. Deixar uma imagem com menos cor do que o natural pode ser perfeitamente útil pra criar um clima de melancolia, tristeza, mas muitos filmes hoje em dia que supostamente querem divertir adotam como padrão essa aparência dessaturada (ou azulada, dando um ar de frieza), que pode parecer um detalhe, mas é também reflexo do item anterior: o culto ao sombrio, ao melancólico, ao triste.
5. Auto-Sacrifício
Fico sempre atento a filmes quando eles tentam tornar sacrifício sinônimo de heroísmo. Não vejo problemas em um herói abrir mão de algo importante em sua vida por algum motivo racional (como em Casablanca), ou até em se suicidar quando não se vê mais chances de ser feliz na Terra (como em Thelma & Louise). Mas não admiro sacrifício em nome de um dever, de um senso de responsabilidade por algo externo, que coloca uma obrigação social acima do valor da própria vida do indivíduo. É comum cenas de sacrifício acontecerem nos finais dos filmes, onde no lugar deveriam estar os momentos de maior satisfação da história - observe Guardiões da Galáxia, Frozen, Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge, Detona Ralph, etc.
Na década de 90 nos EUA, os filmes de maior bilheteria do ano foram em sua maior parte histórias originais: Esqueceram de Mim, Aladdin, Forrest Gump, Toy Story, Independence Day, Titanic, O Resgate do Soldado Ryan - e isso também foi verdade nas décadas anteriores. Mas de 2000 pra cá, apenas em 2009 o filme de maior bilheteria foi uma história original (Avatar). Em todos os outros anos, o campeão foi ou uma sequência, ou uma adaptação de um livro ou quadrinho já de muito sucesso: Harry Potter, Homem-Aranha, O Senhor dos Anéis 3, Shrek 2, Star Wars Ep. 3, Piratas do Caribe 2, Homem-Aranha 3, Batman - O Cavaleiro das Trevas, Toy Story 3, Harry Potter 7 - parte 2, Jogos Vorazes - Em Chamas, etc, etc. Uma verdadeira crise de originalidade parece ter tomado conta de Hollywood (ou um verdadeiro medo de investir no novo).
7. Relacionamentos Conflituosos
Quando vejo filmes eu não busco ver apenas personagens admiráveis, mas também relacionamentos admiráveis entre eles. Me chama a atenção não só no cinema, mas em toda a cultura hoje em dia, que a maior parte do tempo nós passamos observando relações negativas entre as pessoas: relações de rivalidade, desconfiança, cinismo, desentendimento, atrito, inimizade, reprovação. Quando estiver vendo um filme, série ou mesmo uma novela, calcule quanto tempo você passa olhando para situações de desentendimento e desarmonia - pessoas discutindo na tela, sendo agressivas umas com as outras - e compare com o tempo que você passa olhando pra algo positivo e desejável, relações que expressam harmonia, admiração, respeito, amor, confiança, aprovação, etc.
Não vejo problema em conflitos entre heróis e vilões, pois nesse caso há o prazer de observar o herói sendo íntegro e defendendo a coisa certa. O problema é que muitos filmes atuais focam em conflitos entre 2 personagens que deveríamos gostar, ou então entre personagens que não são nem heróis nem vilões e não há um conflito claro entre bem e mal - as relações simplesmente são complicadas, ambos os lados têm certas virtudes e certos defeitos, interesses incompatíveis, o que se torna uma contemplação do conflito pelo conflito em si, um culto à "moralidade cinza", ao Senso de Vida Malevolente.
Relações conflituosas funcionam como acordes menores ou mudanças de acordes dissonantes na música - tudo bem usá-los estrategicamente pra criar um contraste, momentos de tensão antes atingir o prazer, mas não como um fim em si mesmo.
8. Comédias Vulgares
As comédias parecem ter se tornado impróprias para menores, e cada vez mais apelam pra escatologia e piadas explícitas envolvendo sexo. Ir ao cinema ver uma comédia com a família está cada vez mais difícil. Isso em parte reflete a diminuição da criatividade em Hollywood, pois é muito mais fácil arrancar uma risada com baixaria do que ter que criar uma frase ou piada engraçada, mas também indica uma perda de inocência na cultura em geral. Do fim dos anos 90 pra cá, as comédias de maior sucesso foram filmes como: Ted, Se Beber, Não Case, Missão Madrinha de Casamento, filmes do Adam Sandler e da turma do Judd Apatow - todos bastante grosseiros (o que às vezes eu gosto, não estou rejeitando totalmente esse tipo de humor, apenas notando o sumiço do outro tipo). Dos anos 90 pra trás, as comédias que dominavam as bilheterias eram visivelmente mais leves: Austin Powers, O Mentiroso, Melhor É Impossível, Clube das Desquitadas, True Lies, Esqueceram de Mim, Mudança de Hábito, Os Caça-Fantasmas, Férias Frustradas, Corra que a Polícia Vem Aí, Os Fantasmas Se Divertem, etc.
9. Realities Mentirosos
Reality shows dominaram a televisão nas últimas décadas, e a influência chegou também ao cinema. Muitos filmes adotaram essa linguagem de documentário - não só filmes do estilo found-footage (Atividade Paranormal, etc), como filmes como Borat ou Vovô Sem Vergonha, que dizem mostrar situações reais. No caso dos found-footage, já está subentendido que é tudo mentira. Mas em filmes como Vovô Sem Vergonha, eles realmente fingem ser situações reais, quando na verdade tudo é combinado. Séries de TV (como as de competição de canto, de chefs de cozinha, modelos, também são quase todas roteirizadas e combinadas, mas se passam por espontâneas). Me pergunto se, além de ser algo revoltante, desonesto e um insulto à inteligência da plateia, se isso não seria inclusive ilegal.
10. Biografias Ofensivas
Em vez de inspirar, biografias têm servido mais pra revelar os podres e o lado negro das celebridades. Sempre que surge algum filme biográfico, sei que é hora de aprender que aquele ídolo que eu tinha em mente na verdade era uma pessoa de caráter duvidoso. O tom dos filmes biográficos é quase sempre de ambiguidade (veja Jersey Boys, Hitchcock, A Dama de Ferro, J. Edgar - e agora no Brasil em Tim Maia, etc). Esses filmes raramente são uma celebração da vida de alguém, mas uma análise cínica, que quer te fazer concluir que sucesso não leva à felicidade, e que ninguém é admirável de fato quando visto de perto.