sexta-feira, 17 de junho de 2022

Lightyear | Crítica

Lightyear 2022 cartaz crítica
(Os comentários a seguir foram baseados nas notas feitas durante a sessão.)

- Legal o conceito de que este seria o filme que o Andy de Toy Story viu e fez dele um fã de Buzz originalmente.

- Em Toy Story, fazia sentido o Buzz ser uma figura cômica, um anti-herói, afinal ele era só uma cópia de plástico do herói original. Mas aqui, o herói original também é atrapalhado, loser, então fica difícil de acreditar que esse é o personagem que inspirava o Andy. (Herói Envergonhado)

- O acidente com a nave ocorre de maneira muito boba (enrosca numa planta, daí decola na diagonal, e por algum motivo a nave é dificílima de manobrar e acaba raspando na lateral da montanha). Buzz é tão mau piloto assim? E por causa de um acidente banal desse, agora eles vão ficar presos no planeta durante anos tentando consertar a nave? A premissa toda é muito fraca.

- Pra ser woke, colocaram uma mulher negra lésbica pra ser a grande parceira de Buzz, mas a amizade entre os dois não convence, é mal desenvolvida. Hawthorne e a família "diversa" ganham um destaque enorme na passagem de tempo, e o filme tenta fazer o espectador chorar quando ela morre, mas tudo soa forçado, pois não vimos um grande laço emocional entre eles (não é como a passagem de tempo de Up, que é sobre uma relação crível, resumida de forma sensível — me lembrou mais a "Emoção Irracional" da cena de Interestelar que discuto no livro).

- Sério que por causa daquele amassado na nave, 60 anos depois eles ainda estão presos nesse planeta? E ainda não aprenderam a lidar com essas criaturas nativas? Não dava pra enviar um sinal pra outra nave ou planeta pedindo resgate?

- O gatinho SOX é um sidekick divertido e uma das poucas coisas que funcionam.

- Quando Buzz consegue atingir a velocidade de hiperespaço, achei que ele finalmente iria embora desse planeta tedioso, até porque sua amiga já morreu, e ele não parece ter vínculo com mais ninguém lá — mas pra nossa frustração ele termina de volta no mesmo lugar. O filme ignora que a essa altura já deve existir toda uma comunidade no planeta, vivendo lá há um século (devem ter escolas, hospitais, cultura — nada disso é mostrado). Nem sabemos se ir embora ainda é o grande desejo da população.

- Buzz fica surpreso com o fato da neta da Hawhthorne já ter crescido e virado uma jovem — será que ele ainda não entendeu que toda vez que ele faz viagens no espaço há um salto no tempo?

- Aliás, essa "surpresa" quanto à dilatação do tempo é muito mal explicada. Viagens em alta velocidade não são uma invenção nova no filme. Os personagens supostamente vivem o tempo todo viajando entre as estrelas; como eles nunca tiveram que lidar com esse problema antes?

- Os personagens não formam um grupo atraente. É o típico "time de underdogs".

- Quando comentei sobre a série Obi Wan-Kenobi, falei que o roteiro era vazio de ideias, que tudo parecia inespecífico e sem conteúdo. Aqui já é diferente: há sempre um monte de coisa acontecendo, dezenas de ações e ideias específicas o tempo todo (produções da Pixar são mais profissionais nesse sentido) — o problema é que aqui são sempre ideias fracas, dando a impressão de um roteiro escrito às pressas, sem tempo pra inspiração. (A Importância de Ideias e Inspiração)

- E a história não parece considerar os desejos do espectador. O roteirista não pensa em situações que seriam impactantes e prazerosas de assistir e cria uma trama em cima disso; ele vai apenas pensando em obstáculos aleatórios pra preencher o tempo, e daí cria soluções aleatórias pro problema, levando os personagens pro obstáculo seguinte: o amigos do Buzz esquecem a chave do caminhão num lugar, daí quando vão buscar, se deparam com uns insetos, o que gera uma cena de ação boba; depois a nave leva um tiro e é danificada, e pra consertá-la eles descobrem que precisam de uma tal de "capacitância específica", que os leva a invadir um prédio; depois eles ficam presos em uns cones de luz, e descobrem que os cones se unificam ao se tocar, e isso vira a chave para solucionar o problema... Toda a história começou por causa de um acidente idiota (a nave raspar na montanha), e depois se torna uma sequência ininterrupta de outros acidentes idiotas. O roteirista acha que basta criar obstáculos e complicações pro protagonista que você tem um filme.

- O personagem do Buzz é meio vazio, não tem alma, conflitos pessoais, objetivos. Só age pela missão prática de consertar a nave. Mas e quando ele finalmente consertar esse motor, o que ele pretende fazer? Pra onde ele vai? Qual seu sonho, seu objetivo maior? Não sabemos.

- Os vilões são igualmente vazios e distantes.

- O filme tenta brincar com paradoxos de viagens no tempo, mas só cria confusão. Se existem 2 Buzzes, isso não sugere que viajar no tempo apenas cria múltiplos universos, não altera de fato o que ocorreu no passado? Qual o sentido do plano de viajar pro passado pra impedir o acidente da nave? Isso não seria um suicídio pro Buzz velho? 

- Tudo é uma desculpa esfarrapada para termos a cena obrigatória de autossacrifício. (SPOILER) Buzz agora terá que abrir mão de seu objetivo de um século pra salvar a linha do tempo onde as lésbicas constituem família (incrível como os filmes precisam sempre fazer algo ilógico e forçado pra ter o sacrifício — o que acaba descreditando o conceito de "universo malevolente").

- O filme insiste na ideia de que Buzz não consegue fazer nada sozinho, que tudo depende do esforço coletivo, da ajuda do time de losers (como se um monte de pessoas incompetentes juntas se tornassem altamente eficazes — quando na prática costuma ocorrer o oposto).

- A grande lição do filme é que o maior pecado é alguém querer ser importante! Buzz se prova um "herói" não por suas virtudes, mas porque ele assume que é incapaz, aprende a ser altruísta, a valorizar os mais fracos (com os losers agora ele finalmente se sente em casa), e sacrificar seus interesses pelo bem coletivo. (A Invasão Anti-Idealista)

- A ilustração "incrível" de esforço coletivo do filme é a senhora tentando ajudar a puxar o "freio" da nave, mas emperrando a porta (nem algo simples ela faz direito), e o amigo tendo a ideia "genial" de usar uma caneta pra desemperrar a porta.

- Buzz recusa os soldados profissionais e elege seus amigos pra serem os novos Galactic Rangers (imagina como será segurança desse planeta!). O filme termina com os losers/underdogs entrando na nave e ascendendo triunfantes em direção ao céu.

- Pobre do Andy se este era seu filme favorito!

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Lightyear / 2022 / Angus MacLane

Satisfação: 3

Categoria: C/F

Filmes Parecidos: Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica (2020) / Carros 3 (2017) / Toy Story 4 (2019)

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