sábado, 18 de junho de 2022

Diário - Junho 2022

18/06 - Preços exorbitantes do Cinemark:

Preços altos CinemarkTenho optado cada vez menos pela rede Cinemark por causa dos preços absurdos do Snack Bar. Fui ver Lightyear lá pois era a única sessão legendada no horário que eu queria. Um combo grande de pipoca + refrigerante custou R$48. Imagine a margem de lucro desses produtos, e no quanto você economizaria estourando pipoca em casa e levando uma Coca-Cola comprada no mercado (que por sinal teria um gosto bem melhor, pois as máquinas do Cinemark são imprevisíveis e o refrigerante frequentemente sai com um gosto horrível). Quando vou ao Cinemark, a bala eu já tenho que comprar em outro lugar, pois de uns tempos pra cá, eles enxugaram o menu e pararam de vender Mentos e Fruittella, 2 das mais clássicas de cinema. Outra atitude péssima foi recentemente quando eles mudaram a política de refil, dificultando o acesso do cliente à pipoca extra: antes, a pipoca refil funcionava praticamente num esquema "pague 1, leve 2" — era possível já pegar os 2 sacos de uma vez, ou até pegar o refil numa sessão futura. Agora, o refil só vale pro mesmo dia da compra, e utilizando a mesma embalagem (ou seja, você tem que sair da sala e perder parte do filme se quiser pegar o refil). É um esquema até normal de refil — o problema é que o preço não diminuiu em relação ao que era antes, e o serviço piorou. Outro detalhe: há cada vez menos funcionários na bilheteria, na bombonière, e um incentivo para que o cliente compre tudo sozinho via aplicativo ou quiosques de autoatendimento (eu acho autoatendimento ótimo pra certas coisas, mas quando vou a um restaurante, cinema, local voltado a lazer, essa mecanização do atendimento pra mim empobrece a experiência).

Enfim, sou super a favor do capitalismo, do lucro — mas nas relações de "ganha-ganha" do mercado existe um espectro, e há um ponto onde você continua consumindo um produto/serviço por hábito ou falta de opção, mas a satisfação decai, e você começa a perder respeito pela empresa. As empresas que mais satisfazem o cliente são aquelas que conseguem lucrar dando a impressão que o cliente pagou pouco em relação ao benefício que teve (lembro do Walt Disney dizendo que, na Disneyland, ele queria que o cliente pudesse entrar num prédio de 1 milhão de dólares pra comprar um hamburguer por 50 centavos). O Cinemark está caminhando pro outro extremo, como se eles tivessem fazendo um experimento pra ver o quanto conseguem piorar o serviço e aumentar o preço sem que a empresa imploda (um pouco como a atitude dos estúdios de Hollywood e muitas das franquias que passam no Cinemark).

Não há muito o que fazer exceto "votar com o bolso". Sei que teve a pandemia e estamos no meio de uma crise, mas não acho impossível fazer os ajustes necessários sem passar esse tipo de mensagem pro público. Pra quem tem um em sua cidade, eu recomendo o Espaço Itaú de Cinema, que sempre foi minha primeira opção, e agora é ainda mais.


7/06 - O sucesso de Top Gun: Maverick:

Com o grande sucesso de bilheteria e crítica, Top Gun: Maverick tem potencial pra ser a produção que marque a transição de Hollywood de uma década dominada pela cultura "woke", pra uma era onde o entretenimento volte a querer agradar o público que não se identifica com essa agenda. O filme pode se tornar uma influência não só em termos de valores (promover um retorno dos heróis à moda antiga, de um senso de vida mais otimista), como também influenciar outros debates no meio cinematográfico — pois seu sucesso representa uma vitória também dos efeitos práticos em relação ao uso preguiçoso de CGI, dos lançamentos em cinemas vs. lançamentos em streaming (algo importantíssimo hoje, considerando o perigo que a pandemia representou). O triunfo de Tom Cruise coincide também com o "descancelamento" de Johnny Depp, outro evento de impacto que ajuda a sinalizar uma mudança do Norte cultural pra população. A dúvida que fica é se existem artistas o suficiente hoje dispostos a aproveitar esta brecha e levar o movimento adiante. No fim dos anos 70, quando o entretenimento começou a sair do buraco, foi uma geração de novos artistas que se rebelou contra as tendências da época e deu início a um novo período — astros como Stallone, que escreveu Rocky explicitamente pra ir contra o clima sombrio do cinema dos anos 60/70. Hoje, em vez de uma nova geração mais idealista (que, se existe, ainda não deu as caras), parece que é a mesma geração que "salvou" o entretenimento nos anos 80 que está se reerguendo para salvá-lo de novo 40 anos depois.


1/06 - Stranger Things 4:

Comecei a ver, mas perdi o interesse já na metade do primeiro episódio. Em trinta e tantos minutos, não havia nenhum gancho ou direcionamento pra história, apenas um retrato tedioso da rotina dos personagens, com seus conflitos no colégio, conversas, dramas pessoais — a típica narrativa de série da Netflix, que enche linguiça o episódio todo, e só na última cena tem um grande acontecimento pra te convencer a ver o episódio seguinte (justamente o contrário do deveria ser: ter um gancho sempre no início, pra que cada episódio em si seja envolvente e tenha uma conclusão satisfatória; não essa eterna promessa de que "algo está por vir"). Sem falar que acho detestável o retrato que a série faz dos anos 80, algo que já comentei quando saiu a 2ª Temporada. Contrastar Stranger Things com Top Gun: Maverick é uma boa forma de entender como valores são o que realmente distinguem uma época de outra, e não ambientação ou estilo. Stranger Things 4 se passa em 1986 (ano em que saiu o primeiro Top Gun), mas apesar dos objetos retrô, dos cabelos, dos sintetizadores, a história não evoca em nada os sentimentos das produções da época. Há uma frieza e um cinismo que são típicos dos tempos atuais. Já Top Gun: Maverick se passa nos tempos atuais, mas por causa dos valores que projeta, nos transporta direto para os anos 80.


1/06 - Obi-Wan Kenobi:

Vi também o primeiro episódio de Obi-Wan Kenobi e achei decepcionante. Nem tanto por causa de valores ou deturpações da franquia Star Wars, mas simplesmente pela mediocridade do roteiro — a ausência de boas ideias, de cenas e diálogos sólidos, de carga dramática... Cada cena parece permeada por uma sensação de vazio, de falta de personalidade, como se houvesse tanta pressão sobre os roteiristas que ninguém ousasse colocar qualquer toque criativo ou ideia minimamente divertida no papel (assim como em reuniões de empresa onde o clima é tenso, as pessoas parecem virar robôs e não falam nada interessante ou genuíno). Em termos de direção, atuação, é tudo fraco também, mas a pobreza da escrita é o que mais me espanta em produções com esse nível de investimento. E nem é só minha implicância com séries de TV não... Recentemente estava assistindo episódios sortidos de Star Trek, pois apesar de conhecer os filmes, eu tinha pouquíssima familiaridade com as séries de TV. E praticamente todos os episódios que vi — fossem da série clássica, Next Generation, Deep Space Nine — tinham histórias sólidas, bem contadas... Umas mais memoráveis, outras menos, mas mesmo as mais fracas cumpriam sua função básica de prender a atenção, trazer alguma ideia nova, apresentar diálogos inteligentes, gerar certo suspense, escalar a situação até um clímax conclusivo... Nada que passasse perto da pobreza de tantas coisas que tenho visto hoje no streaming (e há quem diga que estamos na "era de ouro" da televisão).

7 comentários:

Anônimo disse...

Esta semana eu vi uns trechos de Obi-Wan Kenobi no YouTube e achei estranho que o visual do Ewan McGregor estivesse tão diferente da trilogia que ele participou. Eu ficava em duvida se achava a montagem boa ou ruim. Até que eu entendi o que aconteceu. Eu não sabia que a série já tinha sido lançada e eu pensei que fossem aqueles curta-metragens amadores que ficaram super populares nos primeiros anos do YouTube, como Batman vs Alien vs Predador ou versões live-action de jogos. Como se antes da série ser lançada, alguém tivesse usado trechos aleatórios de cenas com o McGregor, inserido ele em alguns ambientes digitais, envelhecido artificialmente e "reimaginado" como deveria ser a série do Obi-Wan Kenobi. Porém de uma forma extremamente amadora. Achei particularmente bizarro as cenas do Obi-Wan olhando para o horizonte, ou por uma janela, ou para algum ponto aleatório e inseriam "qualquer coisa" para que parecesse que ele estava olhando para algo sério.

Caio Amaral disse...

Bom, no caso do Ewan McGregor há a questão da idade, que acho natural.. É que além disso ele está com uma vibe mais "rústica", pois começa a série como uma espécie de Jedi exilado.. Isso em si não me incomodou tanto, pois não pareceu algo niilista tipo o Luke Skywalker da nova trilogia. Mas tem que ver como a história evolui..

Essa sensação de que pegaram imagens aleatórias do Ewan pra montar um trailer falso, acho que tem a ver com o que falei sobre o roteiro ser vazio.. Produções autênticas, cheias de ideias de qualidade, personagens sólidos, não causam essa impressão genérica.

Anônimo disse...

Ah, não. Sobre o visual do Ewan eu quis dizer que como não sabia que aquelas eram cenas da série, eu pensei que eram cenas aleatórias de anos anteriores da carreira dele e que foram juntadas para criar isso mesmo, um trailer falso. E estranhei como ele ficou velho nestas cenas (pensando que eram de filmes de quando ele era novo), e que ele foi envelhecido artificialmente.

Depois eu vi as cenas com o Darth Vader e foi doloroso de ver tudo. Senti que mesmo quando o personagem só está parado com a mão na cintura, tem algo de vergonha alheia nele. A sensação de quando uma criança faz um desenho muito simples e comum e os pais em vez de colocarem só na geladeira, eles submetem para apreciação de um museu.

Anônimo disse...

Mesma impressão que tive vendo isso aqui. Tem algo que "parece" ser bom e interessante no visual, ele "sugere" uma melhora na luta dos dois. Mas ao mesmo tempo eu sinto como se estivesse mais vendo o que se passa na cabeça de um fã empolgado do que um filme de verdade. Quase tão vazio quanto cenas de luta na primeira fase de um videogame quando se sabe que aquele monstro vai ser o mesmo chefe do fim. É como se o suspense da luta fosse nulo e vc estivesse ali pela coreografia.


https://www.youtube.com/watch?v=to2SMng4u1k

Caio Amaral disse...

Ah tinha lido rápido, agora entendi..!

Verdade, esses vídeos são puros exercícios técnicos.. seria melhor apresentá-los como um demo reel de efeitos visuais, sem pretensões dramáticas.. ou então ser uma paródia, algo que trouxesse um valor novo, que não se misturasse com o material original.. Desse jeito, é tipo um sósia ou cover sem-noção que às vezes esquece que não é o artista de verdade, e quer acreditar que está fazendo algo equiparável ou até superior..

Pior que isso pode ocorrer até em produções originais.. outro dia vi um episódio daquele Love, Death & Robots pra saber do que se tratava (Sonnie's Edge, da 1ª temporada) e tive a mesma impressão de um exercício técnico vazio tentando se passar por cinema de verdade.. Aí voltamos à questão do roteiro pobre, da falta de conteúdo, originalidade, noção de dramaturgia etc.

Anônimo disse...

Só o tempo dirá se o "descancelamento" de Johnny Depp representa mesmo uma mudança de norte cultural, ou se foi um caso episódico de solidariedade do público a um astro carismático e popularíssimo que ainda não chegou ao fim da carreira, contra uma atriz não muito conhecida. Pessoalmente, nunca tinha ouvido falar de Amber Heard antes. Outros atores, mais idosos e/ou não tão populares quanto Depp, não tem sido tão beneficiados pela boa vontade do público ou das empresas, como foi o caso recente do octogenário Frank Langella.

Pedro.

Caio Amaral disse...

Sim, tudo isso é um "pode ser".. De qualquer forma, acho que com o caso de Depp ficou bem mais gravado na mente das pessoas que casos injustos de cancelamento ocorrem.. e isso deve fazê-las hesitarem mais antes de acreditar em qualquer acusação.