sexta-feira, 24 de junho de 2022

A Suspeita | Crítica

A Suspeita (2021) cartaz crítica
Filme nacional com Glória Pires, dirigido por Pedro Peregrino (que veio da TV e está estreando em longa-metragem) sobre uma investigadora de polícia que é diagnosticada com Alzheimer e precisa lidar com lapsos de memória num caso onde ela acaba se tornando suspeita. O trailer vende a ideia de um suspense policial com uma proposta mais comercial (há ação, tiroteios, Glória Pires sendo encapuzada por traficantes), mas na prática o filme está mais pra um drama psicológico onde o foco é a doença mental, a experiência subjetiva da protagonista. Assim como Amnésia (2000), O Pai (2020), é um desses filmes que buscam integrar a doença na linguagem cinematográfica, tornando a história confusa de propósito pra levantar uma reflexão sobre a condição da personagem.

O problema aqui (além do Subjetivismo) é que o roteiro fica em cima do muro: o drama psicológico não é totalmente desenvolvido (como em O Pai ou Para Sempre Alice, por exemplo), como se o "prato principal" fosse a trama policial, e a questão do Alzheimer fosse apenas um pano de fundo, um tempero pro suspense. Por outro lado, a trama policial também não é desenvolvida plenamente, como se ela é que fosse apenas um tempero e um pano de fundo pro drama psicológico. Ou seja, o filme termina com vários "temperos", mas sem um prato principal; dois panos de fundo sem nada na frente — e as discussões sobre "o que é real ou não" e a "subjetividade da memória" servem pra camuflar os vazios do roteiro, como se indefinições já fizessem parte do conceito (1999 e o Declínio da Objetividade / Pseudo-Sofisticação).

Houve um debate após a sessão, onde Glória Pires e o diretor estavam presentes (juntos com um neurologista e uma pessoa ligada à Federação do Alzheimer) que confirmaram algumas das minhas impressões. Peregrino deixou clara sua preferência pelo cinema Não Idealista, demonstrando certo desprezo por coisas hollywoodianas, pelo cinema de entretenimento; disse que o lado "thriller" da história pra ele era irrelevante, que o real valor do filme está na representação da doença, nas discussões filosóficas e sócio-políticas que supostamente aparecem nas entrelinhas. Disse também que durante as gravações eles ainda não tinham muita certeza de qual caminho tomar; que buscaram um processo mais "livre" de criação, e foi só na pós-produção que a editora teve a ideia de deixar as cenas sem começo e sem fim, pra refletir a psicologia da personagem.

Fica a impressão de que o roteiro foi escrito originalmente pra ser um thriller convencional, algo na linha de Narcos / Sicario, e o diretor é que resolveu abandonar essa proposta em favor de algo mais conceitual no meio do caminho. Só que ao fazer isso, ele jogou fora o que o roteiro tinha de mais sólido, e tentou criar um novo significado através da direção apenas, substituindo conteúdo por estilo.

A Suspeita / 2021 / Pedro Peregrino

Satisfação: 3

Categoria: D

Filmes Parecidos: O Outro Lado da Rua (2004) / Morto Não Fala (2018)

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