sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Licorice Pizza

Novo de Paul Thomas Anderson (Magnólia / Boogie Nights), indicado aos Oscars de Melhor Filme, Direção e Roteiro Original, que se passa nos anos 70 e acompanha 2 jovens que se conhecem no colégio e passam por uma série de experiências pessoais e profissionais enquanto decidem se são um casal ou apenas bons amigos. A Califórnia dos anos 70 pode ser vista como um dos protagonistas do filme, que apesar de não ser autobiográfico, é claramente um projeto movido por nostalgia, onde Anderson recria inúmeros aspectos do universo onde cresceu, escalando amigos do meio artístico e familiares para papéis coadjuvantes (parece que desde Roma se tornou moda diretores famosos fazerem filmes de nostalgia pessoal — além de Belfast, de Kenneth Branagh, o próximo de Spielberg, The Fabelmans, também será baseado em sua infância). O grande problema de Licorice Pizza é a falta de história... Depois da primeira hora, o roteiro começa a se perder em uma série de sketches aleatórios que fogem demais da narrativa central, se tornando um pouco arrastado. Mas Anderson é sempre tão original, talentoso e imprevisível, que mesmo suas divagações são cheias de riquezas. Não é um filme pra todos os gostos, mas fãs de cinema e pessoas saudosistas em relação à época terão bastante pra aproveitar.

Licorice Pizza / 2021 / Paul Thomas Anderson

Nível de Satisfação: 6

Categoria A/D: Idealismo tombando pro Naturalismo e pro cinema de autor

Filmes Parecidos: Era uma Vez em Hollywood (2019) / Belfast (2021) / A Primeira Noite de um Homem (1967) / American Graffiti (1973)

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Flee

Primeiro caso de um filme indicado simultaneamente aos Oscars de Melhor Filme Internacional (Dinamarca), Melhor Animação e Melhor Documentário. Conta a história verídica de um refugiado do Afeganistão vivendo na Dinamarca, que depois de adulto resolve contar pela primeira vez as experiências traumáticas que viveu na juventude tentando escapar de seu país. É um filme tipicamente Naturalista, cujo propósito é conscientizar e sensibilizar o público em relação ao drama dos refugiados na Europa (e que dá um jeito de discutir questões LGBT também, pois o protagonista cresceu gay em uma cultura bastante opressora). Como muitos sabem, não sou um grande fã de filmes cuja função principal é social/política, mas este pelo menos consegue fazer um retrato tocante da situação; os personagens transmitem dignidade, e a narrativa tem um tom afetuoso, não de militância agressiva (o fato de Amin ter uma cultura um tanto americanizada — ter um crush no Van Damme, escutar A-ha, Roxette — talvez ajude a criar uma ponte com espectadores ocidentais, que costumam ter dificuldade de se identificar com povos islâmicos).

Flee / 2021 / Jonas Poher Rasmussen

Nível de Satisfação: 6

Categoria D: Naturalismo (função social)

Filmes Parecidos: Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016) / Cafarnaum (2018)

domingo, 13 de fevereiro de 2022

Moonfall: Ameaça Lunar

Filme-catástrofe dirigido pelo rei do gênero Roland Emmerich (Independence Day / Godzilla) que não dá pra dizer que é bom, mas que é do tipo de filme ruim que ainda assisto com prazer, pois os erros que ele comete não são erros típicos do cinema dos anos 2020, e sim erros daqueles que víamos nos filmes B dos anos 90, que eram mais inocentes. Um dos problemas aqui (além do ritmo apressado e do excesso de informações por minuto, que deixa tudo com uma superficialidade de trailer), é que o próprio conceito do desastre é confuso (SPOILERS): a lua estar "caindo" na Terra já seria um evento grandioso o bastante pra um filme inteiro, só que fora isso, ainda temos que processar uma série de outras revelações igualmente fantásticas, como o fato da lua ser uma estrutura artificial, e estarmos no meio de uma guerra intergaláctica. O filme não consegue lidar com a mistura de gêneros e apresentar tudo isso de forma convincente, e cai no ridículo principalmente na segunda metade, que diverte mais pelas risadas involuntárias do que pelo espetáculo em si.

Moonfall / 2022 / Roland Emmerich

Nível de Satisfação: 5

Categoria B: Idealismo sem inteligência

Filmes parecidos: Terremoto: A Falha de San Andreas (2015) / O Dia Depois de Amanhã (2004)

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Mães Paralelas

Novo do Almodóvar que não foi a escolha da Espanha pra concorrer à vaga ao Oscar de Filme Internacional — decisão equivocada, pois o filme acabou sendo indicado "por fora" mesmo assim, nas categorias de Melhor Trilha Sonora e Melhor Atriz pra Penélope Cruz, e ficou sem a indicação principal que era quase garantida. A história fala sobre duas mulheres que dão à luz no mesmo dia, no mesmo hospital, e desenvolvem uma relação próxima nos meses seguintes. Ao contrário do que parece, o roteiro não se sustenta apenas com base em diálogos e desenvolvimento de personagem: há uma trama novelesca, porém bastante envolvente, que gera suspense logo cedo, e dá ao filme um gancho narrativo sólido, com direito até a plot twists. Achei curioso observar no filme como Almodóvar é ao mesmo tempo profundamente progressista (em sua visão desconstruída do amor e do sexo), e profundamente conservador por outro lado, pela sua enorme preocupação com laços familiares, tradições, um certo nacionalismo etc. Talvez este seja um dos segredos de sua popularidade. Na última década estava sentindo ele um pouco fora de seu elemento — Dor e Glória foi bom, mas não era tão feminino quanto de costume e tinha um tom mais sombrio; e Julieta e Os Amantes Passageiros foram filmes que simplesmente não funcionaram tão bem — então Mães Paralelas traz aquela sensação boa de estarmos vendo o "verdadeiro" Almodóvar, de volta ao universo onde ele brilha mais.

Madres Paralelas / 2021 / Pedro Almodóvar

Nível de Satisfação: 7

Categoria A/D: Idealismo misturado temas e estéticas Naturalistas

Filmes Parecidos: Abraços Partidos (2009) / Volver (2006) / Fale com Ela (1999) / Vicky Cristina Barcelona (2008) / Blue Jasmine (2013)

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Cultura - Fevereiro 2022

8/2: Foram anunciados agora os indicados ao Oscar 2022. Vou listá-los abaixo com meus "níveis de satisfação":

Belfast - 7
Drive My Car - 4
Duna - 7

Não tenho grandes favoritos, mas a boa notícia é que o clima está menos tenebroso do que no ano passado, onde vários dos filmes tinham agendas políticas explícitas e um tom mais pesado. Talvez seja o fim da pandemia se aproximando, mas nos últimos meses deu pra sentir que a cultura anda menos raivosa, querendo se distanciar das polêmicas, dos embates constantes. Vamos ver se é uma guinada mesmo ou apenas uma trégua.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Spencer

Pablo Larraín basicamente fez outro Jackie (2016), só que agora com a Princesa Diana; Spencer também não tem muita história (começa já com o bonde andando e termina sem conclusão) e tem um estilo de direção pretensioso que se sobrepõe ao conteúdo (enquadramentos à la Kubrick, música dissonante, etc.). Ironicamente, o filme pretende criticar aqueles que trataram Diana como objeto, como produto, e não se preocupavam com sua individualidade, mas o filme em si também não tem grande interesse no universo interno de Diana, e existe principalmente pra explorar seu estilo, beleza, reproduzir seus looks icônicos, etc. Ele não diz nada relevante sobre ela, além de expor que ela sofria na família Real por se sentir restringida, o que não é novidade pra ninguém. E nem isso ele consegue dramatizar direito. É tudo sugerido vagamente, como se o espectador já tivesse que entrar na sala conhecendo sua biografia. Kristen Stewart passa o filme todo com cara de angústia, sofrendo terrivelmente por ter que colocar um vestido, ficar linda, e ir a um banquete — não é mostrado um real abuso da parte da família Real, nem mesmo dos paparazzis. O filme a faz parecer uma chata, alguém que gosta de se fazer de vítima (está mais pra Elsa que pra Cinderela). Em vez de trazer conteúdo psicológico real, dados biográficos interessantes, o filme fica na superfície e tenta parecer profundo romantizando sofrimento e subvertendo a imagem de Diana — fazendo a doçura e inocência que marcavam sua persona parecerem uma farsa; como se na prática ela fosse uma pessoa niilista, dark, uma esquisitona, que está sempre falando palavrões, fazendo coisas destrutivas. É uma desconstrução gratuita da imagem de Diana, que reflete a relação estranha que as pessoas têm com os ricos e poderosos: por um lado querem saber tudo sobre eles, como se vestem, como vivem, mas ao mesmo tempo, precisam rebaixá-los e expor seus podres pra não se sentirem por baixo. Se Diana estivesse viva, o filme só a faria se sentir mais usada.

Spencer / 2021 / Pablo Larraín

Nível de Satisfação: 4

Categoria C: Valores negativos (Pseudo-sofisticação / toques de Anti-Idealismo)

Filmes Parecidos: Jackie (2016) / Grace de Mônaco (2014) / A Dama de Ferro (2011) / Cisne Negro (2010) / Maria Antonieta (2006)