domingo, 25 de janeiro de 2009

O Curioso Caso de Benjamin Button


Não se vê muitos filmes assim em um ano... Filmes com um rigor técnico tão elevado e um capricho tão grande em todos os "quesitos" cinematográficos. E são quesitos mesmo, como na Sapucaí. Tem filme que se comporta um pouco como escola de samba e este é um deles - quer ter nota 10 em todas as categorias (acho isso muito estimulante no geral). Só que em vez de "alegoria", "samba-enredo" e "comissão de frente", as categorias são direção de arte, trilha-sonora e atriz, por exemplo. E em vez da praça da apoteóse, os filmes caminham em direção ao Kodak Theater em Los Angeles. "Benjamin Button" teve 13 indicações ao Oscar - poderia facilmente ter chegado às 14 (que é o recorde de "A Malvada" e "Titanic"), mas surpreendentemente a Cate Blanchett não foi indicada.

Será que é pra tanto? Acho que não. Realmente ele merece a maioria das indicações, mas o fato dele ter várias qualidades individuais não significa que o conjunto seja excepcional. É um bom filme certamente e é bastante original, considerando que quase ninguém viu o "Youth Without Youth" do Coppola (sobre um idoso que é atingido por um raio e começa a rejuvenecer). Mas há algo sobre a natureza dessa história que impede a gente de se envolver completamente. O personagem de Brad Pitt é uma tela em branco; não tem muita personalidade, caráter, conflitos, nada que crie muita empatia. O da Cate Blanchett é mais humano, mas a história se passa ao longo de tantas décadas que a gente eventualmente a perde de vista. O filme tem mais força no meio, quando os dois chegam a uma idade compatível e há a possibilidade de um romance. Na porção inicial e na final, acaba sendo mais um ensaio sobre pedofilia e deformações genéticas - tudo filmado com muita destreza e elegância.

Me lembra um pouco a situação do filme "A Pele" com a Nicole Kidman, sobre um caso amoroso entre a fotógrafa Diane Arbus e uma aberração de circo - um homem que tem o corpo inteiro coberto de pelos. Por mais que o narrador enfeite, certas histórias simplesmente não funcionam tão bem. Tenho a impressão de que o que faz esse filme funcionar, o que mantém o espectador sentado na cadeira atento por 166 minutos, não tem nada a ver com o assunto ou as reflexões sobre a vida que o filme promove. Mas sim o fato de todo mundo querer saber o quão sexy o Brad Pitt vai ficar no final do filme. E se fosse outro ator? Você teria a mesma disposição pra ver um velhinho rejuvenecer até finalmente se transformar no Paul Giamatti? Eu não. Não com este roteiro.

Indicado a 13 Oscars: Melhor Filme, Diretor, Ator (Brad Pitt), Atriz Coadjuvante (Taraji P. Henson), Roteiro Adaptado, Efeitos Especiais, Som, Trilha Sonora, Maquiagem, Edição, Figurino, Direção de Arte, Fotografia.

The Curious Case of Benjamin Button (EUA, 2008, David Fincher)

INDICADO PARA: Público adulto em geral.

NOTA: 7.5

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