Durante os primeiros 30 minutos, achei que estava vendo um filme sólido, na linha de Setembro 5. Apesar de cair um pouco na categoria “filme de serviço”, o que acontece no emprego dos personagens nesse dia é tão extremo que consegue prender a atenção, mesmo na ausência de personagens mais cativantes. O elenco é bom, o gancho é forte e bem posicionado: logo nos primeiros 10 minutos, agentes do Departamento de Segurança dos EUA detectam um míssil vindo em direção ao país — que logo se revela uma bomba nuclear. O problema é que o míssil é tão rápido que restam menos de 20 minutos para os personagens fazerem qualquer coisa. Fiquei me perguntando: como o roteiro lidará com isso? A bomba cairá já no final do “ato 1”, e o resto do filme será sobre as consequências? Ou o filme criará uma distorção temporal, esticando esses 20 minutos pra que durem uma hora e meia?
Infelizmente, o caminho escolhido é o menos interessante: toda vez que a bomba está prestes a atingir o solo, o filme reinicia a narrativa — só que agora pelo ponto de vista de outro personagem. Como comentei em A Hora do Mal, tendo a achar uma chatice essa coisa de múltiplas perspectivas. Em vez de tornar a narrativa mais empolgante, isso costuma ser puro Idealismo Corrompido, uma tática pra tirar o foco do suspense e do espetáculo e se concentrar nas angústias e dilemas dos personagens (algo mais “humano” e “intimista”) — além, claro, da mensagem subjetivista que costuma acompanhar essa abordagem (“vejam, existem diversas verdades!”). Se você quer mostrar múltiplas perspectivas, o cinema já oferece uma ferramenta pra isso: a edição paralela. Não é necessário reiniciar toda a história.
SPOILER: Se ao final de tudo tivéssemos uma recompensa satisfatória pro gancho inicial — se houvesse uma grande cena envolvendo a bomba — a espera teria valido a pena. Mas o filme tem o desfecho mais brochante possível, terminando sem mostrar se a bomba cai, de onde ela veio ou quais são as consequências — uma completa traição às expectativas criadas no espectador. Os créditos finais surgem na tela de forma tão abrupta e seca que, por um momento, achei que tivesse sentado em cima do controle remoto e pulado uns minutos pra frente. Se o filme tivesse personagens riquíssimos e o interesse central fosse as relações entre eles, talvez a bomba não fizesse falta. Mas aqui, os personagens são funcionários do governo que só nos interessam na medida em que estão lidando com um evento catastrófico. Não há interesse algum na “dimensão pessoal”. Casa de Dinamite parece um roteiro inacabado — um longo ato 1 que não leva a lugar nenhum.
O único sentido que consigo fazer desse filme é que o propósito da diretora não era criar um suspense eletrizante, nem um drama humano — mas apenas manchar a imagem do governo americano, mostrando o despreparo de todos diante de uma crise global. E não como uma crítica construtiva, feita por alguém que espera competência e padrões mais elevados. É apenas o prazer de mostrar que somos todos falhos, que não existem heróis — nem no alto escalão da maior potência do mundo.
O engraçado é que, seguindo a agenda D.E.I., o filme é repleto de mulheres, latinos e negros em posições de liderança. O problema é que, nesse caso, essa inclusão não é nem um pouco lisonjeira — e pode até levar alguns espectadores a ligar os pontos entre políticas D.E.I. e incompetência, tirando do filme uma mensagem que não me parece ser a planejada pela diretora.
A House of Dynamite / 2025 / Kathryn Bigelow
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