Há uma cena de perseguição de carros no final de Uma Batalha Após a Outra que é tão brilhantemente concebida e executada que arruinou meus planos de falar apenas mal do filme. No nível do roteiro, a cena nem faz tanto sentido (como o cara sabe que Willa está naquele carro? E o DiCaprio?), mas ignorando esses detalhes, é um momento de puro cinema: que outra arte seria capaz de transformar o simples sobe e desce de uma estrada naquele balé vertiginoso de carros? É uma forma criativa e memorável de filmar uma perseguição (normalmente, usa-se lente grande-angular para aumentar o senso de velocidade, e aqui o filme faz o oposto) — e não é um truque estilístico desconectado da função narrativa: se não fosse pelo achatamento e pelo senso de desorientação espacial criado pela lente teleobjetiva, não seria tão convincente o acidente que encerra a perseguição.
SPOILERS: O filme não acaba aí, e a segunda cena mais eficaz do longa vem logo depois: a conversa entre DiCaprio e a filha, na qual ele revela a verdade sobre sua mãe, Perfidia. Não é uma cena que funciona tão bem para mim, pois ela exige que você tenha uma simpatia pelos personagens que eu não desenvolvi ao longo da narrativa. Mas é uma maneira inteligente de concluir a história. Se você estiver alinhado ideologicamente com o filme — se estiver torcendo para a família ter um final feliz e achar empolgante a ideia de Willa se tornar uma revolucionária como a mãe — você sairá da sala em êxtase após esses 20 minutos finais.
Mas eu não estava tão alinhado. E nem só pela questão política. Sempre acho difícil me envolver com histórias que focam apenas em figuras decadentes, corruptas, ridículas (filmes do Tarantino, por exemplo). Se o filme fosse uma sátira pura, que apenas ridiculariza os personagens, não haveria tanto problema. Mas Uma Batalha Após a Outra é parte sátira e parte thriller de ação que espera que você torça pelos protagonistas, por mais falhos que eles sejam.
Quanto à trama, é uma geringonça que desafia qualquer resumo: há um prólogo de meia hora, um salto no tempo de 16 anos, uma longa introdução a esse novo contexto, e só depois de 1 hora um enredo mais focado é apresentado, quando o personagem de Sean Penn começa a caçar a garota Willa. Mas mesmo aí, o filme permanece confuso, pois há várias tramas paralelas se desenvolvendo simultaneamente, e boa parte do tempo é gasta com o personagem do DiCaprio, que é praticamente inútil para a ação central. Se você for pensar, Lockjaw (Penn), a filha e Perfidia deveriam ser os protagonistas, os fios condutores da história, mas o filme decide focar no DiCaprio — um maconheiro que mal sabe o que está acontecendo na maior parte do tempo. Paul Thomas Anderson se deleita nesse caos, criando praticamente um "stoner movie". Se não fosse pelo foco que o filme ganha na reta final, minha avaliação geral não seria muito superior à de Vício Inerente — outro filme de PTA adaptado de um livro de Thomas Pynchon, do qual não gostei quase nada.
Mas Uma Batalha Após a Outra tem alguns méritos inegáveis, incluindo Sean Penn em uma das performances mais memoráveis de sua carreira. Apesar do meu desdém pelo teor geral da história, meu respeito por talento e autenticidade me impede de ignorá-los.
One Battle After Another / 2025 / Paul Thomas Anderson
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