quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Frankenstein

Até a cena do nascimento da criatura, estava achando Frankenstein o melhor filme de 2025 (o que foi uma completa surpresa para mim, considerando minha antipatia habitual pelos filmes do diretor). Na segunda metade, porém — especialmente quando a história passa a ser contada pela perspectiva do “monstro” — o filme começa a escorregar, criando um dos contrastes de qualidade mais frustrantes de que me lembro entre duas partes de um mesmo filme. 

Nunca li o livro de Mary Shelley, mas eu podia jurar que conseguia distinguir, só pela qualidade do texto e do desenvolvimento da trama, o que era uma adaptação fiel à obra original e o que tinha sido criado por del Toro. A segunda parte é cheia daqueles problemas de lógica e plausibilidade típicos do cinema moderno: quando a criatura volta às ruínas do laboratório, por exemplo, ela encontra diversos estudos e uma carta com o endereço atual de Viktor — como esses papéis ainda estavam ali, praticamente intactos, depois de meses (ou anos) expostos à neve, chuva e vento?

Sem falar que não faz o menor sentido a criatura — que no prólogo é apresentada como um monstro implacável, pior que Voldemort, o T-1000 e o Xenomorfo combinados — invadir o navio e, em vez de matar todo mundo, resolver educadamente começar a narrar sua história de vida. Os diálogos também subitamente emburrecem, se tornando óbvios (on the nose), piegas, novelescos, como quando a criatura diz a Viktor: “Você é o monstro”, “Viktor, eu te perdoo” ou “Talvez agora possamos ambos ser humanos”. Compare isso com a qualidade de alguns diálogos da primeira parte, como as discussões científicas (ou quase) entre Viktor e seus colegas de profissão.

A direção de arte e toda a produção de Frankenstein são ótimas — mas, como de costume, o departamento de roteiro não foi tratado com os mesmos padrões de excelência.

Frankenstein / 2025 / Guillermo del Toro

Nenhum comentário:

Postar um comentário