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Pegue a estrutura em flashback. As pessoas ficam admiradas com a originalidade de contar a história da vida dele pra explicar como ele sabia as perguntas do programa. É uma sinopse interessante pra se ler no jornal, mas ninguém percebe que isso mata completamente o suspense do filme. Todas as cenas do programa (exceto a última que é “surpresa”) se tornam redundantes, mas ainda assim são tratadas pelo diretor como se fossem pequenos clímax (o garoto sempre faz a mesma cara de admiração quando acerta; fica parado, com a boca aberta, espantado com a própria sorte – essa mesma cara ele usa pra demonstrar sua paixão pela mocinha do filme). Isso tudo são técnicas pra manipular a platéia – o que eu não tenho nada contra, exceto quando é mal feito. O filme quer que a gente simpatize pelos personagens. Como ele faz isso? Através de diálogos e desenvolvimento de personagem? Não, ele pega as criancinhas mais meigas da Índia e chama os bandidos pra arrancarem seus olhos. Ele quer criar um momento emocionante no reencontro do casal no final do filme. Como ele faz? Ocultando os sentimentos da garota, por exemplo, pra criar uma curiosidade na platéia até o final da história? Não, ele chama os bandidos de novo, que raptam a menina e rasgam sua cara com um canivete. O filme inteiro é explicito, na cara, grosseiro como uma novela da Globo. Não exige qualquer investimento ou inteligência da platéia. Se fosse uma aventura escapista sem pretensões, não me incomodaria nem um pouco. Mas se você quer que eu assista uma mãe ser assassinada na frente do filho, ou um garoto inocente ser eletrocutado apenas por ter acertado algumas perguntas na TV, então eu preciso de algumas justificativas.
Tenho várias coisas pra reclamar, como a fotografia que na maior parte é feia e óbvia, apenas bastante saturada e contrastada, algo que se faz na pós produção sem grande esforço (acho que as pessoas gostam do conteúdo da imagem e confundem isso com fotografia; olham aquelas indianas lavando roupa no rio e pensam “que fotografia bela”). Achei a vitória do menino fraca e pouco emocionante, afinal não havia nada em risco – a única coisa que ele queria era encontrar a menina, e ele já tinha feito isso. O dinheiro era secundário (há uma seqüência no filme “Terra dos Sonhos” onde um pai compete num parque de diversões pra ganhar um boneco pra filha que é 10 vezes mais eficiente que esse filme inteiro).
Ou seja, o filme é questionável em vários aspectos, mas ele atinge as pessoas com uma mensagem otimista, dizendo que se você for puro e honesto, mesmo que apanhe da vida no final será recompensado. Os fracos vencem. Acho isso tão duvidoso, ainda mais quando essa “vitória” está tão baseada em dinheiro e na sorte do menino ter pego as perguntas fáceis. Não foi cultura que o salvou, não foi educação. E os outros milhões de miseráveis na Índia que também são puros e honestos mas não tem a mesma sorte? Que mensagem eles poderiam tirar desse filme?
Slumdog Millionaire (RU, 2008, Danny Boyle)
NOTA: 6.5
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