sábado, 11 de janeiro de 2014

Ninfomaníaca - Volume 1


NOTAS DA SESSÃO:

- Filme tem atitude moralista (no bom sentido).

- "Meu pecado é que eu sempre exigi mais do por do sol!"- diálogos fantásticos!! São filosóficos e cheios de conteúdo.

- Comparação da pesca com Joe "caçando" no trem incrível.

- Estilo sempre divertido, cheio de ideias diferentes - mas ao contrário de alguns filmes que fazem isso de maneira desconectada, só pra chamar atenção, aqui as "excentricidades" do diretor estão associadas ao conteúdo: as imagens da pesca servem pra fazer uma associação abstrata, os gráficos que surgem na tela servem pra clarificar uma ideia, a nudez está justificada pelo tema do filme, etc. Nada soa gratuito e desintegrado.

- Filme é Idealista, mas expondo o negativo - mostra pra plateia "o que NÃO fazer". Trier é um expert no estudo da maldade. Ele não quer relativizar as coisas e dizer que Joe na verdade é uma boa pessoa. Ela se anuncia como má no início do filme, e o que o filme mostra a seguir é apenas uma tentativa de comprovar isso. Não é uma tentativa de glamourizar a protagonista - mostrá-la como uma mulher sensual e mais "livre" do que você.

- Conversa fantástica sobre cortar as unhas da mão esquerda ou direita primeiro. Diálogos são de uma criatividade e sensibilidade admiráveis. Incrivelmente inteligentes, abstratos e divertidos.

- Roteiro estruturado e com um objetivo claro. Não explicar por que ela está machucada no começo é uma ótima maneira de manter o interesse ao longo da história toda.

- Interessante que a plateia ri do começo ao fim da sessão. Apesar dos temas sérios e obscuros, Trier no fundo é um "entertainer" de primeira.

- Joe olhando os passageiros do metrô pra lembrar de partes de Jerome - como alguém pensa nessas ideias????

- Interessante ele usar a mesma música que toca em De Olhos Bem Fechados (um filme também sobre obsessões sexuais). Há tantos paralelos entre Kubrick e Trier.

- Cena da Uma Thurman simplesmente genial!! Me lembra o tipo de situação que o Woody Allen cria, mas o interessante é que aqui o humor não é explícito. Os personagens agem como se fosse tudo sério (o que torna a cena ainda mais absurda e hilária).

- SPOILER: Trier é perverso!! Depois do pai de Joe dizer aquela frase incrível e inspiradora sobre não ter medo da morte, ele puxa o nosso tapete e mostra o personagem vivendo um horror insuportável. É tão esperto que eu quase não me incomodo de ser pessimista.

- Por que todo um capítulo dedicado ao pai na história? Dá a entender que ele deve ter algo a ver com o distúrbio sexual dela, mas ainda não está claro.

- SPOILER: Comparação de sexo com música no final: vontade de levantar e bater palmas no cinema!! Amo a abordagem racional que ele tem para questões ligadas a valores e emoções. Concordo totalmente que os valores que buscamos em arte são equivalentes aos que buscamos no amor. Mas é fascinante como Joe busca as características que admira de maneira separada. Isso pode explicar por que ela é tão promíscua: ela está disposta a ir pra cama com alguém que tenha apenas 1 de seus valores mais importantes, e não exigir os outros. Será que ela acredita que poderia encontrar todos os valores principais numa pessoa só - e que isso seria o amor?

CONCLUSÃO: Um dos filmes mais inteligentes e criativos que já vi.

(Nymphomaniac: Volume 1 / Dinamarca, França, Alemanha, Bélgica, Reino Unido / 2013 / Lars von Trier)

FILMES PARECIDOS: Anticristo, Dogville, De Olhos Bem Fechados.

NOTA: 10

13 comentários:

Unknown disse...

Concordo em número gênero e grau com suas anotações... pelo visto meu cansaço não me fez perder muito do filme pois todos os seus comentários eram sobre coisas que eu vi! hahahaha

E lembra que eu insinuei ela fazer algo com o pai dela no hospital? Eu ainda acho q tem algo por trás tb. Ainda mais que ela tinha paixão pelo pai e horror pela mãe. Pode ser q isso ainda seja explorado (ou não) esperemos pelo próximo volume!

Eu achei incríveis as relações q ele cria entre coisas q normalmente as pessoas não pensariam. E q ele faz parecer tão claras quando ele demonstra... (como a pesca, a música - polifonia, aos detalhes das pessoas aleatórias no trem q a faziam lembrar do Jerome).

E tb adorei o clima que ele cria e logo depois faz questão de quebrar bruscamente logo nos primeiros segundos do filme.

Realmente admiro a capacidade q ele tem de deixar as pessoas com vontade de falar sobre os filmes dele assim que acabam de assistir. Palmas pra ele mesmo!

Anônimo disse...

Concordei bastante com tudo o que você falou Caio, porém achei todos os insights durante o filme extremamente precisos para serem, digamos, "acidentais" e instantâneos como ocorrem.

Seligman fazer uma comparação tão bem acabada sobre a caçada de Joe no trem e sua pesca é algo que não aconteceria em poucos segundos, como acontece no filme. Joe fazer outra comparação tão precisa sobre seus amantes e notas musicais de uma fita aleatória que estava num toca-fitas também é algo muito objetivo para ser acidental. Outras coincidências, que são extremamente significativas para o desenrolar do filme, se tornam forçadas, como o rugelach com garfo de bolo e a pintura com o fragmento "Mrs. H".

São diversas pequenas coincidências e acasos que tornam a história quase inverossímil. Com o passar do filme fui tendo a impressão que Joe, a partir de aleatoriedades durante o período dela com Seligman, foi inventando tudo aquilo que ela falou.

Estou ansioso para ver a segunda parte!

Caio Amaral disse...

Oi Anônimo..! Se você está achando esses detalhes pouco "realistas", então o que você achou da cena da Uma Thurman? Ou da cena em que ela acha fotos do Jerome na estrada - que o próprio velho diz que parece inventada? Eu nunca entro num filme do Lars von Trier esperando realismo.. Pra mim é tudo uma grande fantasia.. O filme tem um tema, e ele explora esse tema brilhantemente, mas de maneira abstrata, estilizada, quase como um musical ou um filme do David Lynch. Realmente seria coincidência existirem esses "links" pra história dela, como o quadro Mrs. H ou o rugelach com o garfo.. Mas eu não vejo um filme como esse com o mesmo tipo de mentalidade que eu vejo um policial, onde é indispensável que a trama seja verossímil.. Nem me passou isso pela cabeça.. Simplesmente achei criativo da parte do diretor usar esses detalhes como transição entre as cenas do quarto e os flashbacks. Abs.

Anônimo disse...

Realmente, pensando pelo viés que Lars von Trier explora o tema de forma abstrata, querendo mais dar corpo a um pensamento do que sentido a um fato, tantas coincidências são justificáveis, mas não se fazem absolutamene necessárias. São
quase como as sequências musicais de Dançando no Escuro - são brilhantes, criativas e originais, mas não não alterariam a qualidade do roteiro se fossem suprimidas.

Uma Thurman está brilhante como Mrs. H, e o capítulo do qual ela faz parte já valeria o ingresso se fosse um curta, mas mesmo assim o vejo como idealizado demais. Mrs. H é extremamente sincera e emotiva, enquanto o marido dela e Joe são completamente passivos, o que não é natural numa situação daquelas. Esses comportamentos foram os que mais me fizeram acreditar que tudo seria imaginação, já que a atitude da mulher traída é usado como prova irrefutável da maldade de Joe.
Quanto à crítica do Seligman sobre Joe encontrar fotos do Jerôme, e o próprio, ao acaso, foi o que despertou essa minha ideia de que Joe estaria imaginando - como uma dica para o espectador.

Sei que posso estar viajando muuuuuuito criando hipóteses como a de a história de Joe ser inventada, mas tenho para mim que tantas coincidências e acasos não podem ser simples conectivos na história. Pelo menos eu não espero isso de Lars von Trier.

PS: Adoro teu blog Caio!

Maiara Maria disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Caio Amaral disse...

Anônimo: Valeu, comente sempre que quiser!

Realmente não seriam absolutamente necessárias pra trama aquelas conexões.. é algo que está mais ligado a estilo.. à MANEIRA em que o Trier encontrou pra contar a história.. e nada em estilo é "necessário" - nesse sentido de ser indispensável pra contar a história.. pra mim essas conexões são os adornos.. não são os pilares.. se fossem os pilares me incomodariam provavelmente..

A cena da Uma tb não me preocupou o fato de não ser realista.. Obviamente o marido e a Joe não ficariam passivos daquela maneira, deixando ela entrar no quarto pra mostrar a cama pros filhos, etc. Isso na realidade jamais aconteceria, rssss. Mas o tema da cena é: "como as atitudes inconsequentes de Joe destruíram uma família". Nesse sentido, a cena é perfeitamente coerente.. só foi apresentada de maneira exagerada.. Mas não levo isso como sugestão de que a Joe está inventando tudo, e que no fundo ela é uma mulher inocente.. Sei lá.. Pode até ser.. Mas pra mim seria um final bem inesperado, hehe.

Maiara: Realmente os 10's são raros aqui.. Mas acho legal até que tenha acontecido num filme como Ninfomaníaca, porque não é o tipo mais óbvio de filme que eu costumo exaltar... Mas não perca - e me conte depois o que achou. Brigadão!

Maiara Maria disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Caio Amaral disse...

Legal Maiara!!!! O Lars von Trier realmente é um cineasta muito hipnótico e tem uma imaginação sem limites...! Que bom que curtiu - às vezes tenho medo de levantar as expectativas das pessoas e causar certa frustração, hehehe. Bjs!!!

Anônimo disse...

Digitei "ninfomaniaca" exatamente como está escrito sem as aspas no Google página principal para ver a capa do filme em português. A maior capa em destaque nos quadrinhos ao lado direito da tela é com a Susana Vieira e outra pequena com a Gretchen tendo orgasmos sexuais referentes ao sexo. Considerando o fato que o Google possui pesquisa especial para filmes, inclusive para títulos traduzidos, em um quadrinho ao lado direito dando informações sobre o filme e elenco e direcionando para uma página na Wikipédia, eu não sei se é apenas um erro ou temos um estagiário muito zuero que não conhece os limites da zoeira. Pois os pôsteres com as celebridades brasileiras é puramente uma brincadeira na internet, mas ver a Gretchen e a Susana Vieira em destaque na pesquisa me fez rir 3,3 litros de risadas chorosas.

Caio Amaral disse...

Hauhauhauha... muito bommmm!!!! Postei no meu face agora pro povo digitar ninfomaníaca no Google... Será q não foi um erro inocente? Tá tão bem feita a montagem, rss.

Anônimo disse...

ninguem vai acreditar, mas eu deixei de assistir esse filme porque pensei que era brasileiro quando via a capa na net com a atriz da globo. so fui assistir um mes depois que saiu de cinema porque ninguem parava de comentar do filme. dai fiquei esperando aparecer a atriz e não apareceu. so fui entender quando pesquisei sobre. hahaha como são ironicas as coisas, pensei que eu era a unica que tinha visto a atriz da globo ali

Caio Amaral disse...

Hahaha, mas vc não é um dos 130 milhões de brasileiros que amam a Susana Vieira?? Não quis ainda mais ver o filme?

https://www.youtube.com/watch?v=0TEcIveel9E

Anônimo disse...

Nossa, não tinha visto essa entrevista com a Susana Vieira. Já não simpatizava com ela exatamente por esse motivo, agora definitivamente não gosto desta mulher. Oh mulé metida da peiga!!!