Daquelas fantasias tão desconectadas do mundo real que a narrativa se torna arbitrária e desinteressante. Em Ne Zha 2, os personagens podem existir em corpos físicos ou fora deles, podem mudar de aparência, virar animais, se tornar imortais; seus objetivos são baseados em mitos cheios de regras aleatórias e dependem de magias para serem atingidos — magias que vão sendo tiradas da manga conforme as necessidades do roteiro: se o personagem está prestes a ser engolfado em lava, ele se transforma em pedra e sobrevive; se precisa lutar contra um vilão muito mais poderoso, basta engolir pílulas mágicas e se tornar invencível. Tirando essa dose mais exagerada de misticismo (e de piadas de banheiro), o filme é tristemente parecido, em termos de valores, com o que se tem produzido no mundo ocidental hoje em dia (histórias sobre anti-heróis, deveres, sacrifícios etc.). A única coisa admirável é a ambição da parte gráfica, que tem aquele tipo de grandiosidade que parece que apenas o Oriente hoje tem interesse em criar — a animação pode ser vista como uma demonstração de poder análoga aos projetos arquitetônicos mirabolantes que vemos por lá, ou aos desfiles militares de Xi Jinping. Mas é uma ambição que se limita ao aspecto físico, visual. Se Ne Zha 2 for o melhor que a China tem a oferecer hoje em termos de entretenimento audiovisual, diria que eles estão mais frágeis hoje, culturalmente, do que estavam na época em que seus blockbusters eram coisas como O Tigre e o Dragão (2000) e Herói (2002).
Nezha: Mo tong nao hai / 2025 / Yu Yang
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