quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos
Menos "pop" que Match Point ou Vicky Cristina Barcelona, este filme lembra mais trabalhos do Woody Allen dos anos 90 como Hannah e Suas Irmãs ou Maridos e Esposas. Não foi bem recebido nos EUA nem em Cannes, mas acho que é um de seus filmes mais redondos e satisfatórios dos últimos tempos. Os créditos começam sobre uma versão de "When You Wish Upon a Star" (o "hino" da Disney e uma das músicas mais felizes do mundo) mas logo em seguida vem o balde de água fria com a citação de Macbeth que abre o filme: "A vida é um conto narrado por um idiota, cheio de som e fúria, significando nada". Isso define o tom do filme, que segue contando a história de vários personagens, em tramas paralelas interconectadas, todos lutando por algum objetivo na vida - e fracassando.
Temos Josh Brolin, como um escritor que teve sucesso com seu livro de estréia, mas depois só publicou fracassos - e agora está aguardando a resposta da editora sobre seu novo trabalho. Ele está num casamento frustrado com Naomi Watts - que trabalha numa galeria de arte, onde começa um flerte pouco promissor com o patrão (Antonio Banderas). A mãe de Naomi, Helena (feita por Gemma Jones), foi abandonada pelo marido (Anthony Hopkins), que agora resolveu reviver a juventude - fez bronzeamento artificial, clareou os dentes e começou a namorar uma "atriz" com metade da sua idade. Frustrada, a senhora abandonada começa a frequentar uma vidente, que alegra a vida dela com previsões maravilhosas sobre o futuro, como o título do filme. Sabemos do começo que a tal vidente é uma impostora - ainda assim Helena é a única personagem "feliz" de todo o filme.
Resumindo, a vida é um horror, cheia de sofrimento, tristeza, e que não faz sentido algum - a única maneira de ser feliz seria fechando o olho pra realidade e vivendo num mundo de fantasia e misticismo. Alguns críticos andam dizendo que Woody Allen está mais negativo, pessimista. Bobagem - esta sempre foi a opinião de Woody sobre a vida. A diferença é que antigamente ele transformava sua depressão em boas piadas; agora ele está disfarçando menos, deixando escapar um certo cinismo e desprezo pelos personagens.
Nem preciso dizer que discordo totalmente da filosofia explícita dele - mas isso não me impede de apreciá-lo como autor, como cineasta, como "psicólogo". É essa dualidade de Woody Allen que o torna tão especial: embora a mensagem do filme seja depressiva, o estilo dele não é. O filme é criativo, estimulante, contado com clareza, cheio de observações psicológicas brilhantes, diálogos bem escritos, timing, humor - você acha que esses são sinais de uma pessoa realmente pessimista e que não vê sentido na vida? Comportamento sempre diz mais do que palavras (e no caso de arte, estilo sempre revela mais que conteúdo), e por isso, o filme acaba sendo positivo.
Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos
You Will Meet a Tall Dark Stranger (EUA/ESP, 2010, Woody Allen)
Orçamento: ?
Bilheteria atual: US$ 18 milhões
Nota do público (IMDb): 6.8
Nota da crítica (Metacritic): 5.1
Assista o trailer
INDICAÇÃO: Fãs do antigo Woody Allen. Céticos/ateus vão captar melhor o humor.
NOTA: 7.0
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6 comentários:
Allen só me fez feliz cinematográficamente em A Rosa Púrpura do Cairo. O resto eu gostei. Mas, não me encantei.
A Rosa Púrpura é um dos melhores mesmo. Também adoro Maridos e Esposas, Annie Hall... Na verdade eu sou fã dele como pessoa - e como todos os filmes dele são muito pessoais, todos pra mim são interessantes.
Fui ver ontem, e adorei.
É bom de timing mesmo, o filme parece uma história imperdível sendo contada.
Pois é Laura, e eu nem achei tão sério assim, dei várias risadas... Quando aparece a prostituta, rsss.
Aquele último Whatever Works pra mim foi bem mais pesado pq fala de pedofilia e me deu certa repulsa.
Não sei nem por onde começar...
Não sou muito fã do Allen, mas gosto muito de Vicky Cristina Barcelona e Os Trapaceiros.
Mas eu gostei muito desse filme, me lembrou muito os Irmãos Marx, mais pelo jeito inusitado de soltar as piadas, mas por mais incrivel que pareça eu achei a mensagem do filme muito, mas muito otimista. Pra mim algo é pessimista quando sob qualquer ponto de vista tudo dá errado, mas no filme tudo, mas tudo mesmo dá certo, apenas as pessoas que fazem as escolhas erradas. Woody Allen foi um gênio em substituir a terapia por uma cartomante. Não vou entrar no campo da religião pra discutir, mas eu ri muito do filme e não sou ateu e curiosamente eu não acredito em terapia, Freud foi uma das maiores farsas que ja existiu e terapia pra mim é efeito placebo. Só pra encerrar minha redaçao estilo fuvest (espero não ter me prolongado mais que o fã do Harry Potter). Freud copiou suas teorias do budismo, (isso eu acredito que todo mundo saiba) e curiosamente a personagem do filme passa acreditar em vidas passadas, que também faz parte do budismo (não exclusivamente). Não vou me alongar(mais) senão vou invocar a clausula Campbell. Mas a gente pode anotar pra discutir pessoalmente. =]
Como assim deu tudo certo no filme? Só se for no sentido de que ninguém foi assassinado, ninguém foi pra cadeia... O pessimismo do filme não é em relação ao universo, do tipo "pessoas boas num mundo cruel" - mas mais em relação ao ser humano: "pessoas incapazes num mundo indiferente". Não acho isso um exemplo de otimismo, rss.
Não conheço a fundo Freud pra dizer. Mas acho que não concordaria com muitas das teorias dele. Mas mesmo não acreditando, acho terapia muito útil em vários aspectos. Não estou falando de hipnose, interpretação de sonhos, necessariamente.. Mas do fato de que a mente tem uma identidade, emoções têm causas, e que uma pessoa pode se beneficiar muito e corrigir falhas se buscar o auto-conhecimento. Lógico que tudo depende dos problemas específicos do paciente e da capacidade do terapeuta.. Dependendo do caso acho que pode ser até prejudicial.
Hehe, o cara do Harry Potter é imbatível... Quase passei meu telefone pra encurtar a discussão. Mas me fala um dia que vier ao cinema aqui pros lados do Jardins, Itaim.. Tenho vários filmes pra correr atrás, de repente pegamos uma sessão!
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