A Revolta de Atlas é o magnum opus de Ayn Rand e provavelmente o livro americano mais conhecido e influente que ainda não havia sido adaptado pro cinema (o livro é um épico filosófico cheio de ideias polêmicas a respeito de política, economia, ética, sexo; tem mais de mil páginas, foi lançado há mais de 50 anos, e mesmo assim continua em alta e sendo debatido - só em 2009 vendeu mais de 500 mil cópias nos EUA). Esta é sua primeira versão pro cinema, que será lançada em 3 partes (isso SE forem feitas, pois o filme foi muito mal recebido pela crítica).
O livro se passa num futuro indefinido (no filme situaram em 2016, o que eu acho um erro), e mostra o que aconteceria com os EUA se as grandes mentes - empresários, cientistas, artistas; os grandes produtores que carregam o mundo nas costas - começassem a desaparecer misteriosamente. No centro da história está Dagny Taggart, uma mulher determinada que dirige a principal ferrovia do país e luta pra mantê-la em funcionamento enquanto o mundo desmorona (o livro previa a crise econômica americana, e até por isso teve um
boom de vendas nos últimos anos).
Por que o livro nunca tinha sido adaptado? Em partes pela complexidade do tema e pelo medo de mexer em algo tão sagrado pra muita gente; mas acho que o real motivo são as ideias controversas do livro.
Atlas toca em muitos tabus, temas que todo mundo tem medo de defender. Você pode fazer filmes celebrando traficantes, prostitutas, serial-killers, mas glamourizar empresários, homens individualistas, ateus, isso parece irritar muito mais gente.

Eu sou fã do livro e de Ayn Rand, mas essa primeira parte do filme é um desastre. Não só é fraco como cinema, como não serve nem pra divulgar das ideias de Rand (o diretor é estreante, os roteiristas e produtores não têm nada no currículo de relevante). Pra quem não leu o livro, o filme vai parecer uma série de diálogos confusos, reuniões desinteressantes, personagens secundários que você não sabe quem são ou o que querem - e o filme acaba sem um desfecho, antes mesmo de você entender por que ele começou.
Apesar das teorias econômicas e tudo mais, o que te prende emocionalmente no livro não é nada disso. O livro, no fundo, é sobre uma mulher extraordinária sendo disputada pelos homens mais atraentes e brilhantes do planeta e tendo que escolher entre um deles (imagine o que prende as garotas em
Crepúsculo - sem querer fazer comparações entre as obras!). Uma das coisas mais memoráveis do livro são as intensas cenas de sexo - no filme, não há nada disso de paixões grandiosas, etc. Eles simplesmente deixaram de fora a alma da história.
Além disso, o livro é sobre uma mulher que, contra todas as críticas, toma o lugar do irmão no comando de uma grande empresa e precisa se mostrar mais competente que ele, que é um dos grandes vilões da história. No filme, ela já começa dirigindo a ferrovia, como se sempre tivesse feito isso, eliminando todo esse tema da mulher desacreditada que tem que se provar - outro pilar emocional do livro.

Há também o mistério dos gênios que vão desaparecendo da face da Terra sem deixar rastros. Isso o filme até explora, porém muito mal. No livro, a intriga era tão grande que eu me sentia assistindo
Lost, Arquivo X ou algo do tipo.
A Revolta de Atlas teria que ser um épico de 3, 4 horas, no estilo de clássicos como
Doutor Jivago, E o Vento Levou, Lawrence da Arábia, onde há todo um contexto político, porém o que sustenta a história são os romances, a busca pessoal do herói, etc.
O lado bom é que, agora que já tocaram no intocável, já fizeram uma versão ruim do livro, a pressão diminuiu - quem sabe não encoraja cineastas melhores a produzirem algo à altura.
Atlas Shrugged: Part I (EUA / 2011 / 97 min / Paul Johansson)
INDICAÇÃO: Se você não leu o livro, jamais veja esse filme!
NOTA: 4.0