- Filme já começa muito ousado, original, cheio de surpresas a cada minuto: as auto-referências à indústria do entretenimento, os "poderes" que Riggan tem quando está sozinho no camarim, a câmera que parece nunca cortar, os diálogos frenéticos e bem humorados, a trilha sonora só de bateria. Tudo cria um clima de estranheza e emergência apropriado pro universo do teatro e a agitação desses últimos dias de ensaio.- Qualidade técnica notável (fotografia, efeitos especiais, etc). O elenco é provavelmente o melhor "ensemble" do ano. Personagens muito convincentes. O show é do Michael Keaton, mas os atores coadjuvantes também têm vários momentos onde roubam a cena (discurso da Emma Stone onde ela diz que o pai "não é importante" é fantástico - embora a filosofia dela seja horrorosa).
- Aliás, a filosofia do filme todo é horrorosa. No fundo é um ataque cínico à ambição, à autoestima, ao sucesso. O filme zomba do Riggan por ele querer se superar, fazer algo importante de sua vida, zomba do fato dele querer ser reconhecido e amado pelo público, como se fosse uma bizarrice humana - atitude típica dos pseudo-intelectuais. Só seria ridículo se ele não tivesse competência nenhuma e tivesse tentando fazer algo muito além de sua alçada, mas aparentemente ele é um cara experiente que tem alguma noção do que está fazendo.
- De qualquer forma o filme tem um tema interessante, discute carreira, autoconfiança, coisas de interesse universal, e ilustra esses temas muito bem através da história e dos diálogos.
- Sei que é difícil pro artista não se importar com a opinião do público, mas o Riggan parece depender totalmente disso. É como se a peça só pudesse ter valor se ela fosse sucesso de bilheteria ou se a crítica do New York Times aprovasse. Pra ele não se trata de expressar algo, e sim de ser aprovado - em nenhum momento ele demonstra ter algum tipo de critério pessoal.- Espetacular o Michael Keaton quando ele finge estar em crise na frente do Edward Norton! Cena digna de um Oscar.
- Comentários sarcásticos em relação a celebridades (Justin Bieber, Farrah Fawcett, etc): é o que eu comento na postagem Idealismo Corrompido. Combina com a atitude geral do filme.
- SPOILER: Roteiro bem escrito, original, cheio de momentos interessantes: Riggan atravessando a Broadway de cueca, a cena do vôo, a tentativa (ou não) de suicídio no final, etc.
CONCLUSÃO: Filme cínico, com valores questionáveis, mas ainda assim feito com energia, criatividade e virtuosismo técnico.
(Birdman / EUA, Canadá / 2014 / Alejandro González Iñárritu)
FILMES PARECIDOS: Whiplash: Em Busca da Perfeição / Cisne Negro / Adaptação
NOTA: 7.5






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